Tudo
que vive neste mundo, natureza, animal, homem, sofre e, todavia, o amor é a lei
do Universo e por amor que Deus formou os seres. Contradição aparentemente
formidável, problema angustioso, que perturbou tantos pensadores e os levou a
dúvida e ao pessimismo.
O
animal está sujeito á luta ardente pela vida. Entre as ervas do prado, as
folhas e a ramaria dos bosques, nos ares, no seio das águas, por toda a parte
desenrolam-se dramas ignorados. Em nossas cidades prossegue sem cessar a
hecatombe de pobres animais inofensivos, sacrificados ás nossas necessidades ou
entregues nos laboratórios ao suplício da vivissecção.
Quanto
á Humanidade, sua história não é mais que um longo martirológio. Através dos
tempos, por cima dos séculos, rola a triste melopéia dos sofrimentos humanos; o
lamento dos desgraçados sobe com uma intensidade dilacerante, que tem a
regularidade de uma vaga.
A dor segue todos os nossos passos;
espreita-nos em todas as voltas do caminho. E, diante desta esfinge que a fita com
seu olhar estranho, o homem faz a eterna pergunta: Porque existe a dor?
É
no que lhe concerne, uma punição, uma expiação, como o dizem alguns?
É a reparação do passado, o resgate das faltas
cometidas?
Fundamentalmente
considerada, a dor é uma lei de equilíbrio e educação. Sem dúvida, as falhas do
passado recaem sobre nós com todo o seu peso e determinam as condições de nosso
destino. O sofrimento não é muitas vezes mais do que a repercussão das violações
da ordem eterna cometidas; mas sendo partilha de todos, deve ser considerado
como necessidade de ordem geral, como agente de desenvolvimento, condições do
progresso. Todos os seres têm de, por sua vez, passar por ele. Sua ação é
benfazeja para quem sabe compreendê-lo; mas somente podem compreendê-lo aqueles
que lhe sentiram os poderosos efeitos. É principalmente a esses, a todos
aqueles que sofrem, têm sofrido ou são dignos de sofrer que dirijo estas
páginas.
Tirado
do livro Páginas de Léon Denis: Sylvio Brito Soares FEB
De
O Problema do Ser, do Destino da Dor
Repassando...