quinta-feira, 19 de julho de 2012

Deus na ótica Espirita














I
Deus

Que é Deus?
É a inteligência suprema do Universo e a causa primária de todas as coisas.
Qual é a prova da existência de Deus?
Tudo prova a existência de Deus: as maravilhas da Criação, nós mesmos, os nossos sentidos, e o conjunto dos nossos órgãos. Tudo o que o homem não fez é obra de Deus.
Deus tem forma humana?
Não. Deus é Espírito, está em toda parte, sua inteligência irradia em todos os pontos do Universo.
O que prova que Deus está em toda parte?
A ordem e a sabedoria admiráveis que se manifestam nas mínimas como nas máximas coisas.
As almas que nas asas da prece para Ele se elevam, sentem a sua presença e o poder do seu amor imenso que se estende a todos os seres sem exceção.
Deus então é a fonte suprema da Bondade e da Justiça?
Sim, é o manancial onde bebemos as forças de que carecemos para o desenvolvimento das nossas faculdades intelectuais e morais.
Há mais de uma pessoa em Deus?
A razão nos diz que Deus é um Ser único, indivisível. Quanto mais progredirmos e nos revestirmos das virtudes cristãs, mais compreenderemos Deus.








II

Religião

O que é Religião?
É a ciência que nos conduz a Deus, tornando-nos conhecedores dos nossos deveres e do nosso destino depois da morte.
Qual é o seu resumo?
Amar a Deus de todo o nosso coração, de todo o nosso entendimento e ao próximo como a nós mesmos.
Que se deve fazer para amar a Deus?
1.°) Elevar a Ele a alma em oração.
2.°) Ter confiança na sua Justiça, na sua Bondade.
3.°) Ser caridoso, isto é, aliviar e consolar os que sofrem e fazer aos infelizes todo o bem que se possa fazer.
4.°) Dedicarmo-nos ao estudo da sua lei, que é a religião.
Que se deve fazer para amar ao próximo?
Fazer ao nosso semelhante, na proporção das nossas possibilidades, tudo aquilo que desejaríamos que os outros nos fizessem.
É licito odiar os que nos fazem mal?
A Religião consiste na prática da Caridade e a Caridade manda perdoar sempre; responder o mal com o bem.













III

Moral Espírita

Que é Moral?
É o conjunto das regras que se deve praticar para fazer o bem e evitar o mal.
Qual é a Moral ensinada pelo Espiritismo?
O Espiritismo reproduz a Moral de Jesus, que se resume em "fazer o bem aos que nos odeiam e orar pelos que nos perseguem e caluniam".
No que consiste a prática da Moral?
Nas seguintes virtudes: beneficência, afabilidade, generosidade, humildade, indulgência, paciência, probidade, temperança, trabalho e ordem.





















IV

Oração

O que é a Oração?
A Oração é a elevação de nossa alma para Deus, e é por ela que entramos em comunicação com Ele e Dele nos aproximamos.
Deus atende àquele que ora com fé e fervor?
Deus envia-lhe sempre bons Espíritos para o auxiliar.
A Oração é agradável a Deus?
Sim, porque é um ato de humildade, é o reconhecimento das nossas fraquezas e da nossa inferioridade evocando o auxílio dos Poderes Superiores, sempre solícitos em atender aos nossos rogos.
O que dizer das Orações maquinais repetidas inúmeras vezes?
Já dissemos que a bondade de Deus não está voltada para as fórmulas e o número de palavras, mas sim para as intenções de quem ora. As intermináveis ladainhas e as preces pronunciadas com os lábios, que o coração não sente e a inteligência não compreende, não têm valor perante Deus. Jesus disse: Não vos assemelheis aos hipócritas que pensam que pelo muito falar serão ouvidos. O essencial é orar bem e não muito.
Por quem devemos orar?
Por nós mesmos, por nossos parentes e pelos nossos amigos e inimigos deste mundo e do espaço; devemos orar pelos que sofrem e por aqueles por quem ninguém ora.
É licito receber paga por orações que se faz por outrem?
Não conheceis a passagem do Evangelho que diz que Jesus expulsou os mercadores do templo?
Lembrai-vos de que Deus não vende a sua misericórdia e ninguém deve traficar com as coisas santas.
B - Instruções dos Espíritos
Quando vos apresentardes para orar, se tiverdes alguma queixa contra alguém, perdoai-lhe, a fim de que o vosso Pai, que está nos Céus, vos perdoe também os pecados. Se lhe não perdoardes, vosso Pai, que está nos Céus, também não vos perdoará os pecados. - JESUS. (Marcos, XI, 25-26)
Se antes de orar tiverdes algum ressentimento contra alguém, perdoai-lhe porque a prece deixa de ser agradável a Deus quando não parte de um coração caridoso. A prece é manifestação de amor e de humildade, e aqueles que se elevam pela prece ao Supremo Criador devem se revestir da Humildade e do Amor para poderem penetrar no Sagrado Templo da Misericórdia Divina.
Orai ao Supremo, solicitai Dele o perdão dos vossos pecados, mas lembrai-vos: para que a vossa oração possa ser ouvida, necessitais também perdoar aos vossos ofensores: Vicente de Paulo




Cairbar Schutel - Preces




Carta de Seth - Português

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Desgraça real


 Na ótica Espírita
Capítulo: V
                                                      
Toda gente fala da desgraça, toda gente já a sentiu e julga conhecer-lhe o caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente se engana e que a desgraça real não é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados, o supõem.
Eles a vêem na miséria, no fogão sem lume, no credor que ameaça no berço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho que deseja envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A tudo isso e a muitas coisas mais se da o nome de desgraça, na linguagem humana.
Sim, é desgraça para os que só vêem o presente, a verdadeira desgraça, porém, está nas conseqüências de um fato, mais do que no próprio fato. Dizei-me se um acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta conseqüências funestas, não é, realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio causa viva contrariedade e acaba produzindo o bem. Dize-me se a tempestade que arranca as árvores, mas que saneia o ar, dissipando os miasmas insalubres que causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade.
Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as conseqüências. Assim, para bem apreciamos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos transportar-nos para além desta vida, porque é la que as conseqüências se fazem sentir. Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo as acanhadas vistas humanas, cessa com a vida corporal e encontra a sua compensação na vida futura.
 Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulo, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir.
Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que vosso corpo esta satisfeito! A Deus não se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras mais impiedosas do que a matilha que a miséria desencadeia, na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma amolentada pela indiferença e pelo egoísmo.
 Que, pois, o Espiritismo vos esclareça e recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas, a verdade e o erro, tão singularmente deformados pela vossa cegueira! Agirão  então como bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados á paz que lhes não pode dar glórias, nem promoção! Que importa ao soldado perder na refrega armas, bagagens e uniforme, desde que saia vencedor  e com glória? Que importa ao que tem fé no futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza eo manto de carne, contanto que sua alma entre gloriosa no reino celeste?... Defina de Girardin. (Paris. 1861)
Allan Kardec: O Evangelho Segundo Espiritismo
 Federação Espírita Brasileira

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Vê, Pois

Vê, Pois

"Vê, pois, que a luz que há em ti não sejam trevas." - Jesus. (LUCAS, 11:35.)
Há ciência e há sabedoria, inteligência e conhecimento, intelectualidade e luz espiritual.
Geralmente, todo homem de raciocínio fácil é interpretado à conta de mais sábio, no entanto, há que distinguir.
O homem não possui ainda qualidades para registrar a verdadeira luz. Daí, a necessidade de prudência e vigilância.
Em todos os lugares, há industriosos e entendidos, conhecedores e psicólogos. Muitas vezes, porém, não passam de oportunistas prontos para o golpe do interesse inferior.
Quantos escrevem livros abomináveis, espalhando veneno nos corações? Quantos se aproveitam do rótulo da própria caridade visando extrair vantagens à ambição?
Não bastam o engenho e a habilidade. Não satisfaz a simples visão psicológica. É preciso luz divina.
Há homens que, num instante, apreendem toda a extensão dum campo, conhecem- lhe a terra, identificam-lhe o valor. Há, todavia, poucos homens que se apercebem de tudo isso e se disponham a suar por ele, amando-o antes de explorá-lo, dando-lhe compreensão antes da exigência.
Nem sempre a luz reside onde a opinião comum pretende observá-la.
Sagacidade não chega a ser elevação, e o poder expressivo apenas é respeitável e sagrado quando se torna ação construtiva com a luz divina.
Raciocina, pois, sobre a própria vida.
Vê, com clareza, se a pretensa claridade que há em ti não é sombra de cegueira espiritual.


XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 14.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1996. Capítulo 33.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Estudo comparado microcosmo e do macrocosmo

 

Parte Terceira

Perquirição do terceiro elemento
do Universo e do homem

Capítulo I

Estudo comparado do microcosmo e do macrocosmo. – Dois elementos similares incontestados num e noutro. – A matéria do corpo humano é a mesma matéria ambiente. – Somos os netos do Sol. – As forças do corpo humano são emprestadas da energia universal. – Relativamente à matéria e à energia o homem é eterno. – Método para a pesquisa do terceiro elemento pelo raciocínio. – É em si mesmo que o homem acha a explicação do Universo. – Existe inteligência no mundo. – Inteligência. – Energia. – Matéria. – Um dilema insuperável. – Argumentos tirados das lesões cerebrais em favor das idéias materialistas. – Argumentos especiosos. – Só a experimentação pode produzir o acordo. – Haverá provas materiais da existência da alma?
Depois de apresentado um quadro resumido da constituição do Universo e do homem, segundo os dados da ciência vulgar, chegou o momento de fazermos um estudo comparado do Cosmos, no Universo e no homem, para procurarmos as semelhanças ou as analogias que podem ser encontradas num e noutro.
Vimos que no macrocosmo há duas coisas nas quais se reconhece uma existência incontestável, a saber: a matéria e a energia, mesmo admitido que a primeira nada mais seja do que uma aparência, ou antes, uma emanação da segunda.
De outro lado, no homem, os fisiologistas da escola atual, que mostram não prestar atenção ao que precede, não quiseram ver nas manifestações da vida, e até da inteligência, senão propriedades da matéria.
Importa antes de tudo fixar um ponto: está bem demonstrado que a matéria componente do corpo humano é absolutamente a mesma matéria ambiente: nenhum elemento químico se encontra no corpo do homem, que não exista no solo que nos alimenta, no “limo” que nos formou. Conforme disse mais acima: o corpo do homem é uma emanação material do planeta, onde ele, homem, faz a travessia do espaço.[i] Como exigirmos que essa matéria se comporte de modo diferente da outra e tenha propriedades distintas?
Deve-se estabelecer, em princípio, que os movimentos executados pelo homem, seu calor animal, a circulação do sangue e fluido nervoso, as vibrações da matéria cerebral, etc., não são absolutamente propriedades da matéria de que ele é formado, porém modos da energia universal, manifestando-se segundo os fins da vida, por intermédio da matéria agenciada molecularmente, de uma forma especial para esse fim.
A causa foi tomada pelo objeto, como se havia tomado o Sol pelo satélite, o luminar da Terra: e seria mais justo dizer-se: a matéria é uma propriedade da energia, do que afirmar o contrário.
Verificamos, por conseguinte, no homem, microcosmo, exatamente o que todos estão de acordo em reconhecer no macrocosmo, isto é, matéria e energia, apresentando-se ambos sob formas variadas.
Poderíamos prolongar esta análise e mostrar que, em matéria e em energia, o homem é imortal e mesmo eterno, porque é formado de matéria e de força, podendo ambas experimentar transformações em sua aparência, mas permanecendo sempre as mesmas em sua essência.
Apressemo-nos, porém, em dizer que se o homem fosse todo ele força e matéria, sua personalidade não subsistiria por mais tempo do que a combinação desses dois elementos, porque nenhum deles é ele.
* * *
Entretanto o homem, o filósofo, elevando-se acima dos objetos materiais para melhor dominá-los, mergulha o pensamento na extensão infinita para aí procurar a solução de dois mistérios: o mistério do mundo e o mistério que ele mesmo é. Contempla a abóbada celeste e os astros; considera ansiosamente o Universo onde, átomo, ele está perdido. Para que nada o perturbe, procura abstração de tudo quanto aprendeu até então.
Um fato lhe impressiona imediatamente o olhar: existe alguma coisa; esta alguma coisa é a matéria.
Um segundo fato lhe atrai quase logo a atenção: essa matéria move-se. Mas, logo o homem percebe que ela não se move por uma virtude própria, visto como é inerte, e que, sendo assim, não pode mover-se; o exame mostra-lhe que esse movimento, todas as suas conseqüências e transformações, são manifestações da energia.
Depois de ter verificado que tudo, até este ponto do exame, se reduz a mostrar dois princípios aos quais podem ser referidos todos os fenômenos de que ele é testemunha, o homem detém-se espantado e desiludido. A energia pode dar-lhe a razão da existência da matéria; mas, que é a energia e donde vem, que encerra ela?
Em vão ele dirige longamente seu olhar para os mundos, os quais continuam majestosamente trilhando o caminho que uma sábia e invisível mão parece ter-lhes traçado nos céus. Desespera de nada aprender desse grande Universo solene, mudo para ele, e, todavia, animado. Por mais que interrogue as estrelas, a Lua e o Sol e os planetas, todos esses gigantes das profundezas inabordáveis permanecem surdos à sua voz.
Então, só resta ao homem regressar à sua própria natureza, auscultar o seu viver e analisar-se a si mesmo.
Vê, em si, a princípio, um corpo feito de matéria emprestada da matéria ambiente: esse corpo emprestado não lhe pertence, pois que deve ser privado dele um dia; restitui-lo-á à Terra, da qual o recebeu e o formara, no dia do vencimento da letra, que chegará inevitavelmente a cada qual por sua vez. Quanto mais ele se analisa, mais acha a sua matéria semelhante à outra.
Depois, ainda encontra em si, sob aspectos tão variados como os da matéria, essa energia, cujos efeitos viu nas coisas que o cercam.
Até aí, compreende que é feito de matéria e de energia universais; mas, como foi que ele compreendeu todas essas coisas? com o auxílio da matéria, com o da energia, ou com o de ambas? Mas, então, a matéria e a energia universais seriam, porventura, inteligentes?
Vendo os efeitos da morte e a inércia de um cadáver, ele deduz do fato que a matéria insulada não compreende nem pensa.
Analisando as variedades de energias e vendo que elas não servem senão para entreter as funções da matéria organizada, ou para executar as ordens da vontade consciente e inteligente, concluiu daí haver compreendido o que queria compreender, com alguma coisa que não é nem a sua matéria nem a energia, e dá a isso o nome de inteligência.
Conhecendo sua própria natureza, o filósofo prossegue logicamente do conhecido ao ignoto e diz consigo mesmo que, sendo a sua matéria e energia tiradas da ordem universal, a inteligência deve ter a mesma origem: adivinhou o terceiro elemento do Universo; viu e compreendeu que, simultaneamente com a matéria e com a energia, existe a inteligência do mundo.
O homem sentiu que, para ter uma idéia do Universo, era mister se estudasse e se compreendesse; porque não podemos penetrar a essência do mundo pelo que dele vemos, do mesmo modo que seria impossível, a um ser dotado de inteligência como nós, compreender o homem, se as suas dimensões só lhe permitissem estudar uma porção microscópica do mesmo; por exemplo: alguns glóbulos do sangue que circula em um vaso capilar.
* * *
De fato, não podemos sair deste dilema: ou há uma inteligência única no Universo, uma inteligência donde emanam numerosas inteligências limitadas, como a matéria em objetividades limitadas emana da energia, que por sua vez procede de um princípio superior; ou então a matéria e a energia são dotadas de inteligência. Por que, pois, somente a matéria, que compõe o cérebro do homem, fabricaria inteligência? Não existirá, na substância universal, qualquer outra matéria tão própria a produzir idéias, como a pequena massa de polpa gordurenta e fosfatada, que compõe a parte intelectual do nosso cérebro? Estabelecer esta questão é, de algum modo, resolvê-la.
Um dos grandes argumentos de batalha dos que só querem ver nas manifestações intelectuais um simples produto de não sei que acaso, autor de um agenciamento caprichoso da matéria organizada do cérebro, consiste no seguinte: o homem mais brilhantemente dotado de qualidades de espírito pode tornar-se um bruto, vivendo unicamente da vida vegetativa, em conseqüência de uma simples pancada na cabeça, ou após uma intoxicação, lesão apoplética ou outra qualquer, da substância cerebral. E dizem: “Vede a vossa inteligência e a vossa alma; basta a ruptura de uma pequena artéria ou que ela se oblitere em qualquer ponto do encéfalo, para que o orador mais eloqüente fique afásico, isto é, mudo, e o homem mais espirituoso fique idiota e repulsivo! Não está aí uma prova suficiente de ser a inteligência uma simples propriedade da matéria, pois que, quando esta fica lesada, nada mais existe?...”
Não, isso não é prova suficiente. Se usarmos de um processo, de que nos utilizaremos ainda nas necessidades da demonstração, e se supusermos conhecidas a existência da inteligência independente, será evidentíssimo que, se para determinado fim, ela se une à matéria, dedicadamente grupada, finalmente organizada, como é a substância que compõe o cérebro, uma perturbação mais ou menos pronunciada se dará em suas manifestações, desde o instante em que essa matéria sofra uma desorganização qualquer.
Confesso, todavia, que fora da experimentação os argumentos de razões contrárias não valem uns mais que os outros, do ponto de vista rigorosamente científico. Podemos dizer ainda, por exemplo: negar “a alma”, porque ela não funciona mais, quando a matéria que lhe serve às manifestações está doente ou destruída, é como negar a existência do vapor, quando, depois de um acidente na caldeira ou no cilindro, a máquina pára. Ou também: o melhor dos artistas não poderia dar nenhuma idéia do seu talento, se tocasse um violão ao qual faltassem cordas, ou um piano cujas escalas estivessem incompletas, etc. Mas é mister reconhecer que, neste caso, como em muitas outras circunstâncias, comparação não é razão.
Nem materialistas, nem espiritualistas se convenceram mutuamente, apesar da sutileza de seus argumentos, apesar da superioridade de inteligência e do desejo sincero da verdade, que são reconhecidos nuns e noutros. E isto sempre pela mesma razão... não nos podemos entender – e muitas vezes mesmo após longo exame – senão a respeito de objetos que caem e, de alguma forma, ficam sob nossos sentidos.
Sendo assim, como pudestes afirmar que os filósofos chegariam um dia a ficar de acordo neste ponto – dir-me-ão talvez – porque é principalmente da questão da existência da “alma” que quisestes falar, questão primordial entre todas? A resposta será bem clara.
Podemos ter provas materiais da existência da alma.
Esse fato não deixa dúvida alguma no meu espírito: a Ciência poderá estudar, doravante, quando quiser, o terceiro elemento constitutivo do macrocosmo, como estuda os outros dois elementos, que ela compreenderá então muito melhor, isto é, a matéria e a energia.
É o que vamos demonstrar.
 Continua Lendo
Paul Gibier
Livro: Análise das coisas
[i]    Procedendo a Terra donde se sabe, pode dizer-se que sob mais de um ponto de vista somos os filhos do Sol. Os incas e outros povos, que se intitulavam filhos desse astro, receberam, talvez, em alguma época, de maneira simbólica, o conhecimento dessas noções.














segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Mundo Invisível

 

 

Terceira ParteO Mundo Invisível

15
A Natureza e a Ciência

Expusemos, nas páginas precedentes, os princípios essenciais da filosofia das existências sucessivas. Apoiados sobre a mais rigorosa lógica, tais princípios esclarecem o nosso futuro e resolvem numerosos problemas até aqui não explicados.
Entretanto, podem objetar-nos que essas doutrinas, por mais lógicas e racionais que pareçam, não passam de simples hipóteses, meras especulações, e que como tais devem ser tratadas.
A nossa época, fatigada dos devaneios da imaginação, das teorias e dos sistemas preconcebidos, propendeu para o cepticismo. Diante de qualquer afirmação reclama provas. Não lhe basta o mais lógico raciocínio. Precisa de fatos sensíveis, diretamente observados, para dissipar as suas dúvidas. Tais dúvidas se explicam: são a conseqüência fatal do abuso das lendas, das ficções, das doutrinas errôneas com que durante séculos se embalou a Humanidade. De crédulo que era, o homem, instruindo-se, tornou-se céptico e cada teoria nova é acolhida com desconfiança, senão com hostilidade.
Não nos lastimemos desse estado de espírito, que não é, em suma, senão homenagem inconsciente prestada à verdade pelo pensamento humano. Com isso, a filosofia das existências sucessivas só tem a ganhar, porque, longe de ser mais um sistema fantasista, apóia-se num conjunto imponente de fatos, estabelecidos por provas experimentais e por testemunhos universais. A tais fatos é que consagraremos a terceira parte desta obra.
O progresso da Ciência, em suas escalas inumeráveis, é comparável a uma ascensão em país de altas montanhas. À medida que o viajante galga as árduas encostas, o horizonte se lhe alarga, os pormenores do plano inferior se confundem em vasto conjunto, enquanto novas perspectivas se desvendam ao longe. Quanto mais sobe, tanto maior amplidão e majestade adquire o espetáculo. Assim a Ciência, em seu progresso incessante, descobre, a cada passo, domínios ignorados.
Todos sabem quão limitados são os nossos sentidos materiais, como é restrito o campo que estes abraçam. Além das cores e dos raios percebidos por nossa vista, há outras cores, outros raios, cuja existência é demonstrada pelas reações químicas. Do mesmo modo, o ouvido só percebe as ondas sonoras entre dois extremos, além dos quais as vibrações sonoras, muito agudas ou muito graves, nenhuma influência exercem sobre o nervo auditivo.
Se a nossa força visual não tivesse sido aumentada pelas descobertas da óptica, que saberíamos do Universo na hora presente? Não só ignoraríamos a existência dos longínquos impérios do éter, onde sóis sucedem a sóis, onde a matéria cósmica, em suas eternas gestações, faz surgir astros por milhares, como também nada saberíamos ainda dos mundos mais vizinhos à Terra.
Gradualmente e de idade em idade, tem-se estendido o campo de observação. Graças à invenção do telescópio, o homem tem podido explorar os céus e comparar o nosso mesquinho globo com as esferas gigantescas do espaço.
Mais recentemente, a invenção do microscópio abriu-nos um outro infinito. Por toda parte, em torno de nós, nos ares, nas águas, invisíveis a nossos fracos olhos, miríades de seres pululam e agitam-se em turbilhões espantosos. Tornou-se possível o estudo da constituição molecular dos corpos. Chegou-se a reconhecer que os glóbulos do sangue, os tecidos e as células do corpo humano são povoados de parasitas animados, de infusórios, em detrimento dos quais vivem ainda outros parasitas. Ninguém pode dizer onde termina o fluxo da vida!
A Ciência progride, engrandece-se, e o pensamento por ela alentado sobe a novos horizontes. Mas quão leve se apresenta a bagagem dos nossos conhecimentos, quando a comparamos com o que nos resta ainda aprender! O Espírito humano tem limites, a Natureza não. “Com o que ignoramos das leis universais – diz Faraday – poder-se-ia criar o mundo.” Os nossos sentidos grosseiros permitem que vivamos no meio de um oceano de maravilhas, sem mesmo suspeitarmos delas, como cegos banhados em catadupas de luz.


16
Matéria e Força - Princípio Único das Coisas

Até aqui a matéria só era conhecida sob os três estados: sólido, líquido e gasoso. Crookes, o sábio físico inglês, procurando fazer o vácuo em tubos de vidro, descobriu um quarto estado, a que chamou radiante. Os átomos, restituídos à liberdade pela rarefação, entregam-se, nesse vácuo relativo, a movimentos vibratórios de uma rapidez, de uma violência incalculáveis. Inflamam-se e produzem efeitos de luz, radiações elétricas que permitem explicar a maior parte dos fenômenos cósmicos.
Condensada em graus diversos sob seus primeiros aspectos, a matéria perde, no estado radiante, várias propriedades: densidade, forma, cor, peso; mas, neste novo domínio, parece estar, de maneira muito mais íntima, unida à força. Este quarto estado será o último que a matéria pode revestir? Não, sem dúvida, porque podemos imaginar muitos outros ou entrever pelo pensamento um estado fluídico e sutil, tão superior ao radiante quanto este ao gasoso, e o estado líquido ao sólido. A Ciência do futuro, explorando essas profundezas, encontrará a solução dos problemas maravilhosos da unidade de substância e das forças diretoras do Universo.
A unidade de substância já é prevista, admitida pela maior parte dos sábios. A matéria, nós o dissemos, parece ser, em seu princípio, um fluido de sutileza, de elasticidade infinitas, cujas inumeráveis combinações dão origem a todos os corpos. Invisível, imperceptível, impalpável, esse fluido, em sua essência primordial, torna-se, por transições sucessivas, ponderável e chega a produzir, por condensação poderosa, os corpos duros, opacos e pesados que constituem o caráter da matéria terrestre. Essa condensação é, porém, transitória e a matéria, tornando a subir a escala de suas transformações, facilmente se desagregará e voltará ao seu estado fluídico primitivo. Eis por que a existência dos mundos é passageira. Saídos dos oceanos do éter, aí tornam a mergulhar e a dissolver-se, depois de percorrido o seu ciclo de vida. Pode-se afirmar que, na Natureza, tudo converge para a unidade. A análise espectral revela a identidade dos elementos constitutivos do Universo, desde o mais humilde satélite até o sol mais gigantesco. O deslocamento dos corpos celestes mostra a unidade das leis mecânicas. O estudo dos fenômenos materiais, como uma cadeia infinita, conduz-nos, gradativamente, à concepção de uma substância única, etérea, universal, e de uma força igualmente única, princípio de movimento, da qual a eletricidade, a luz e o calor não são mais que variedades, modalidades, formas diversas.[i]
É assim que, em sua marcha paralela, a Química, a Física e a Mecânica verificam cada vez mais a coordenação misteriosa das coisas. O Espírito humano encaminha-se com lentidão, algumas vezes mesmo inconscientemente, para o conhecimento de um princípio único fundamental, em que se unam a substância, a força e o pensamento, de uma potência cuja grandeza e majestade o encherão algum dia de surpresa e admiração.


17
Os Fluidos - O Magnetismo

Esse mundo dos fluidos, que se entrevê além do estado radiante, reserva bastantes surpresas e descobertas à Ciência. Inumeráveis são as variedades de formas que a matéria, tornando-se sutil, pode revestir para as necessidades de uma vida superior.
Já muitos observadores sabem que, fora das nossas percepções, além do véu opaco que nossa espessa constituição apresenta, existe um outro mundo, não mais o dos infinitamente pequenos, porém um Universo fluídico completamente povoado de multidões invisíveis.
Seres sobre-humanos, mas não sobrenaturais, vivem junto de nós, testemunhas mudas dos nossos atos, e só manifestando a sua existência em condições determinadas, sob a ação de leis naturais, exatas, rigorosas. Importa penetrar o segredo dessas leis, porque de seu conhecimento decorrerá para o homem a posse de forças consideráveis, cuja utilização prática pode transformar a face da Terra e a ordem das sociedades. É esse o domínio da Psicologia experimental; outros diriam o das ciências ocultas.
Essas ciências são tão velhas quanto o mundo. Já falamos dos prodígios efetuados nos lugares sagrados da Índia, do Egito e da Grécia. Não está em nosso programa nos estendermos demasiado sobre esta ordem de fatos, mas há uma questão conexa que não devemos deixar passar em silêncio: é a do Magnetismo.
O Magnetismo, estudado e praticado secretamente em todas as épocas da História, vulgarizou-se sobretudo nos fins do século XVIII. As academias ainda o encaram como suspeito, e foi sob o novo nome de Hipnotismo que os mestres da Ciência resolveram-se a admiti-lo, um século depois do seu aparecimento.
“O Hipnotismo, diz o Sr. de Rochas,[ii] até hoje estudado só oficialmente, não é senão o vestíbulo de vasto e maravilhoso edifício, já em grande parte explorado pelos antigos investigadores.”
Infelizmente, os sábios oficiais – quase todos médicos – que se ocupam do Magnetismo ou, como eles próprios o dizem, de Hipnotismo, só fazem as suas experiências, geralmente, sobre passivos doentes, sobre internos de hospitais. A irritação nervosa e as afecções mórbidas desses passivos só permitem obter fenômenos incoerentes, incompletos. Certos sábios parecem recear que o estudo desses mesmos fenômenos, obtidos em condições normais, forneça a prova da existência do princípio anímico no homem. É pelo menos o que resulta dos comentários do Dr. Charcot, cuja competência ninguém certamente negará.
“O Hipnotismo, diz ele, é um mundo no qual se encontram fatos palpáveis, materiais, grosseiros, que acompanham sempre a Psicologia, ao lado de outros fatos absolutamente extraordinários, inexplicáveis até hoje, que não correspondem a nenhuma lei fisiológica, e inteiramente estranhos, surpreendentes. Ocupo-me dos primeiros e deixo de lado os segundos.”
Assim, os mais célebres médicos confessam que essa questão ainda está para eles cheia de obscuridade. Em suas pesquisas, limitam-se a observações superficiais, desdenhando os fatos que poderiam conduzi-los diretamente à solução do problema. A ciência materialista hesita em aventurar-se no terreno da Psicologia experimental, pois sente que ali se acharia em presença das forças psíquicas, da alma enfim, cuja existência tem negado com tanta tenacidade.
Seja como for, o Magnetismo, repelido pelas corporações sábias, começa sob outro nome a atrair-lhes a atenção. Os resultados seriam, porém, muito mais fecundos se, ao invés de operarem sobre histéricos, experimentassem sobre indivíduos sãos e válidos. O sono magnético desenvolve, nos passivos lúcidos, faculdades novas, um poder incalculável de percepção. O mais notável fenômeno é a visão a grande distância, sem o auxílio dos olhos. Um sonâmbulo pode orientar-se durante a noite, ler e escrever com os olhos fechados, entregar-se aos mais delicados e complicados trabalhos. Outros vêem no interior do corpo humano, discernem seus males e causas, lêem o pensamento no cérebro,[iii] penetram, sem o concurso dos sentidos, nos mais recônditos domínios e até no vestíbulo do outro mundo. Sondam os mistérios da vida fluídica, entram em relação com os seres invisíveis, transmitem-nos seus conselhos, seus ensinos. Mais adiante voltaremos a este ponto, porém desde já podemos considerar como estabelecido o fato que decorre dos estudos, das experiências de Puységur, Deleuze, du Potet e de seus inumeráveis discípulos, isto é, que o sono magnético, imobilizando o corpo, aniquilando os sentidos, restitui à liberdade o ser psíquico, centuplica-lhe os meios íntimos de percepção e o faz entrar num mundo vedado aos seres corpóreos, mundo cujas belezas e leis nos descreve.
E esse ser psíquico que, no sono, vive, pensa, age fora do corpo, que afirma sua personalidade independente por um modo especial de apreciação, por conhecimentos superiores aos que possuía no estado de vigília, que será senão a própria alma, não mais uma resultante das forças vitais dos órgãos, porém uma causa livre, uma vontade ativa, desprendida momentaneamente de sua prisão, pairando sobre a natureza inteira e gozando a integridade de suas faculdades inatas?
Assim, pois, os fenômenos magnéticos tornam evidente não só a existência da alma, mas também a sua imortalidade; porque, se, durante a existência corpórea, essa alma se desliga do seu grosseiro invólucro, vive e pensa fora dele, com mais forte razão achará na morte a plenitude de uma liberdade.
A ciência do Magnetismo não só nos leva a crer na existência da alma, mas também nos dá a posse de maravilhosos recursos. A ação dos fluidos sobre o corpo humano é considerável; suas propriedades são múltiplas, variadas. Fatos numerosos têm provado que, com o seu auxílio, se podem aliviar os sofrimentos mais cruéis. Os grandes missionários não curavam pela aposição das mãos? Eis todo o segredo dos seus supostos milagres. Os fluidos, obedecendo a uma poderosa vontade, a um ardente desejo de fazer o bem, penetram os organismos debilitados e suas moléculas benéficas, substituindo as que estão doentes, restituem gradualmente a saúde aos enfermos, o vigor aos valetudinários.
Objetam que uma legião de charlatães, para explorar o Magnetismo, abusa da credulidade e da ignorância do público, exornando-se com um poder imaginário. Mas, isso é uma conseqüência inevitável do estado de inferioridade moral da Humanidade.
Uma coisa nos consola desses fatos contristadores: é a certeza de que todo homem animado de simpatia profunda pelos deserdados, de verdadeiro amor pelos que sofrem, pode aliviar seus semelhantes por uma prática sincera e esclarecida do Magnetismo.
Livro: Depois da morte: Léon Denis
Fonte: www.autoresespiritasclassicos.com


[i]    Eis o que diz Berthelot (Origines de la Chimie, pág. 320): “Da mesma forma que os quatro elementos dos antigos, os fluidos elétrico, magnético, calorífero e luminoso, que se admitiam há meio século, já hoje, em sua substância, não oferecem base de discriminação, pois está reconhecido, pelos progressos da Ciência, que todos eles se reduzem a um só elemento: o éter. Entretanto, o éter dos físicos e o átomo dos químicos também a seu turno são decomponíveis para darem lugar a concepções mais elevadas, que tendem a explicar tudo somente pelos fenômenos do movimento.” Segundo G. Le Bon (L’Evolution de la Matiére; L’Evolution des Forces), a matéria e a força mais não são que dois aspectos da mesma substância. A matéria é a força condensada; a força, a matéria dissociada.
[ii]   Les États Profonds de l’Hypnose, pelo Coronel de Rochas, pág. 75.
[iii]   O sujet vê as células cerebrais vibrarem sob a influência do pensamento e compara-as a estrelas que se dilatam e se contraem sucessivamente. (Les Ëtats Profonds de l’Hypnose pelo Coronel de Rochas, diretor da Escola Politécnica de Paris.) A respeito, o professor Th. Flournoy, da Universidade de Genêve, escrevia: “Basta consultar a literatura médica mais recente para encontrar, sob a pena de autores insuspeitos de misticismo, exemplos de vista interna. De uma parte, temos psiquiatras franceses que acabam de publicar alguns casos de alienados que apresentaram, poucos dias antes de seu fim, um melhoramento tão súbito quão inexplicável, ao mesmo tempo em que o pressentimento de sua morte próxima. De outra parte, há o caso de sonâmbulos que têm a visão clara de suas vísceras, às vezes abrangendo mesmo a sua estrutura íntima; este fato vem, pela primeira vez, transpor os limites da Ciência sob o nome de autoscopia interna ou auto-representação do organismo. E, por uma divertida ironia da sorte, essa novidade vem apoiada por aqueles que se reconhecem defensores de uma escola que pretende rejeitar toda explicação psicológica desses fatos.” (Archives de Psychologie, agosto, 1903.)