terça-feira, 28 de maio de 2013

Ensino de Jesus na visão espírita








“Não penseis que eu vim trazer paz sobre a Terra; eu não vim trazer a paz, mas a espada.”
Jesus foi um maravilhoso ser e um extraordinário revolucionário, pois subverteu a ordem vigente à época, ordem imposta por romanos arrogantes e sacerdotes fanáticos e implantou no mundo a inexcedível revolução do amor! E foi o mesmo Jesus, que assustou o mundo quando disse: “Não penseis que eu vim trazer paz sobre a Terra; eu não vim trazer a paz, mas a espada.” Mas como poderia o príncipe do amor e da paz, falar em desamor, em não paz? Podia e o fez, porque na realidade, Jesus falava da sua mensagem, que por ser nova, iria incomodar gerar perseguições e polêmicas. Mas por que isso iria acontecer?
Por que Jesus ousou contrariar velhos ensinamentos de cabrestos, propôs novos conceitos em suas pregações, inclusive trabalhando nos sábados, o que era proibido pelas leis mosaicas, como vem; afrontou os sacerdotes intocáveis do sinédrio; não imitou; não copiou ninguém e tendo como pilares, sua moral, seu exemplo e seus conhecimentos, ele afrontou o mundo da hipocrisia. Mas Jesus queria ir mais além! Então, para coroar sua maravilhosa obra, teve a ousadia de sepultar o Deus de Moisés que era mau, vingativo, orgulhoso, perverso, etc. e nos mostrou o Deus real, de amor e caridade! Aliás, hoje, como é simples entender que na realidade, Deus não usa o chicote, mas sim o mestre tempo...
Não sabemos quantas verdades, ditas por Jesus ou por outros personagens reais da história jazem prisioneiras em masmorras religiosas, deturpadas ao talante de interesses escusos ou foram carcomidas pelo tempo. Mas temos certeza de que muita coisa ainda virá à tona, haja vista que o próprio Jesus afirmou não ter dito tudo, o que foi posteriormente corroborado por Kardec, porque não foi dada a palavra final, e temos certeza de que os novos conhecimentos vão iluminar cada vez mais os subterrâneos escuros que ocultam algumas verdades capitais, principalmente sobre o maior mestre e o espírito mais puro e iluminado que já esteve na terra: o mestre...
A gente gostaria que ficasse bem claro, que o nosso maior objetivo não é entrar em polêmicas estéreis, mas esclarecer qual é a posição do Espiritismo sobre assuntos tão importantes e que infelizmente não têm recebido a atenção que merece por parte dos queridos confrades espíritas...
Mas nós podemos questionar as escrituras? Podemos e devemos, seguindo a Codificação, pois são comuns outras escolas religiosas apontem a nós, os espíritas, como sendo um bando de hereges, exatamente por causa dos questionamentos que sempre fazemos não excluindo nem mesmo a Bíblia, o que, para eles, é a razão maior de nossa heresia, quando, na verdade, estamos justamente querendo que as pessoas tenham mais fé, mas uma fé fortalecida na lógica e na racionalidade e não em dogmas insustentáveis...
Porque só a Doutrina dos Espíritos liberta as consciências...
O que percebemos é que, por tantas coisas absurdas, incoerentes, inconsistentes, contraditórias, lendárias e mitológicas contidas na Bíblia, muitas pessoas têm perdido a sua fé. Querem um exemplo de absurda contradição? No Velho Testamento, Deus é um carrasco que vinga a culpa dos pais nos filhos, conforme está em Isaías 14:21 - Preparai a matança para os filhos por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem e possuam a terra...
Entretanto, como o Deus bíblico é um Deus que muda muito de ideia, em Deuteronômio 24:16 e Crônicas II 25:4 - Ele muda e afirma que o filho não deve ser punido pelos pecados do pai. Todo homem tem a culpa somente de suas próprias transgressões. Agora sim, surgiu o Deus de amor, que nos foi apresentando pelo mestre Jesus... Muita paz no caminhar com o nosso irmão Maior JESUS...
 A maior “caridade que podemos fazer pela Doutrina Espírita é a sua divulgação”: Emmanuel: Chico Xavier

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Parábola do Semeador







Um semeador, como fazia todos os dias, saiu de casa e se dirigiu ao seu campo para nele semear os grãos de trigo que possuía, honrando a Deus com seu trabalho honesto.
Começou a semeadura. Enquanto lançava as sementes ao campo, algumas caíram no caminho, na pequena estrada que ficava no meio da seara. Você sabe que os passarinhos costumam acompanhar os semeadores ao campo, para comer as sementes que caem ao chão? Pois, isso aconteceu em nossa história. Alguns grãos caíram à beira da estrada, e os passarinhos, rápidos, desceram e os comeram.
O semeador, porém, continuou semeando. Outras sementes caíram num lugar pedregoso. Havia ali muitas pedras e pouca terra. As sementes nasceram logo naquele solo, que não era profundo. O trigo cresceu depressa, mas, vindo o sol forte, foi queimado; e como suas raízes não cresceram por causa das pedras, murchou e morreu.
Outros grãos caíram num pedaço do campo onde havia muitos espinheiros. Quando o trigo cresceu, foi sufocado pelos espinhos e também morreu.
Uma última parte das sementes caiu numa terra boa e preparada, longe dos pedregulhos e das sarças. E o trigo ali semeado deu uma colheita farta. Cada grão produziu outros cem, outros sessenta outros trinta...
*
O próprio Jesus explicou a Seus discípulos a Parábola do Semeador.
As nossas almas, filhinho, são comparáveis aos quatro terrenos da história: "o terreno do caminho", "o solo cheio de pedras", "a terra cheia de espinheiros" e "o terreno lavrado e bom".
Jesus é o Divino Semeador. A semente é a Sua Palavra de bondade e de sabedoria. E os diversos terrenos são os nossos corações, os nossos espíritos, onde Ele semeia Seus ensinamentos, cheio de bondade para conosco.
E como procedemos para com Jesus? Como respondemos à Sua bondade? O modo como damos resposta ao amor cuidadoso do Divino Mestre é que nos classifica espiritualmente, isto é, mostra que espécie de terreno existe em nossa alma. Cada coração humano é uma espécie de terra, um dos quatro solos da parábola.
Vejamos, então, filhinho:
Quando alguém ouve a palavra do Evangelho e não procura compreendê-la, nem lhe dá valor, aparecem as forças do mal (os Espíritos maldosos, desencarnados ou encarnados) e arrebatam o que foi semeado no seu coração, tais como os passarinhos comeram as sementes... E sabe de que modo? Fazendo com que a alma esqueça o que ouviu, dando outros pensamentos à pessoa, fazendo com que ela se desinteresse das coisas espirituais. E a alma fica indiferente aos ensinamentos divinos. O coração dessa pessoa é semelhante ao "terreno do caminho", aonde a semente não chegou a penetrar. Um exemplo desse terreno é a criança que não presta atenção às aulas de Evangelho, ficando distraída durante as explicações. Ou ainda, a criança que não gosta de ler os livrinhos que ensinam o caminho de Jesus...
E o segundo terreno, o pedregoso?
Esse terreno é a imagem da pessoa que recebe os ensinos de Jesus com muita alegria. São exemplos as pessoas entusiasmadas com o serviço cristão, ou as crianças animadas nas escolas de Evangelho, mas cuja animação dura pouco. Quando surgem as zombarias, as perseguições ou os sofrimentos, a alma, que é inconstante, abandona o caminho do Evangelho. Um exemplo para você, filhinho: uma criança está frequentando as aulas de Moral Cristã numa Escola Espírita. Está aprendendo os mandamentos Divinos, os ensinos de Cristo, o caminho do bem, da pureza, da honestidade. Está muito contente com o que está estudando. Sente-se animada e feliz. Um dia, aparece um colega do colégio ou da vizinhança, dizendo que o "Espiritismo é obra do demônio", que "os que frequentam aulas de Evangelho nas escolas Espíritas ficam loucos e vão para o inferno". E zombam dele sempre que o encontra e lhe põe apelidos humilhantes. O nosso amiguinho não tem ainda firmeza de fé. Tem medo das zombarias dos colegas e dos vizinhos, que dizem que "somente sua religião é verdadeira" e lhe mandam “receber espíritos na rua”. Amedrontado pela perseguição e pelos motejos, o nosso irmãozinho deixa a Escola de Evangelho, onde estava começando a compreender a beleza do ensino de Jesus e as bênçãos do Espiritismo Cristão. Esse menino tinha o coração semelhante ao "terreno cheio de pedras", onde a planta da verdade não pôde crescer e frutificar.
O terceiro solo é a "terra cheia de espinheiros". É o caso das pessoas que recebem a palavra do Evangelho, mas, depois abandonam o caminho cristão por causa das grandezas falsas do mundo e da sedução das riquezas. Ouviram o Evangelho, mas se interessaram mais pelos negócios, pelos lucros, pelas vaidades da vida, pelo cuidado exclusivo das coisas da terra. Há também, no mundo das crianças, exemplos desse terreno. São as crianças que conheceram, às vezes desde pequeninas, os ensinos de Jesus, mas, depois de crescidas, preferiram os maus companheiros, as crianças sem Deus, e passaram a interessar-se somente pelos problemas de dinheiro ou de moda, pelos ídolos do cinema ou do futebol. Não querem mais nem Jesus, nem lições de Evangelho. Só pensam em automóveis de luxo, sonham com caminhões, imaginam-se ricos "quando crescerem"... A princípio, sabiam repartir com os pobres o seu dinheirinho, porém, agora só pensam em juntá-lo: a caridade morreu nos seus corações. O mundo, com suas riquezas falsas (que terminam com a morte), seduziu suas almas e sufocou a plantinha de Deus em seus espíritos. Trocaram Jesus pelos sonhos e ambições de carros de luxo, de figurinos, de roupas elegantes, de campos de esporte, de concursos de beleza, de grandezas sociais... A plantinha de Deus foi sufocada pelos espinhos do egoísmo e das ilusões da vida material. E morreu...
O quarto terreno, "a terra lavrada e boa", é o símbolo do coração que escuta o Evangelho, procurando compreendê-lo e praticá-lo na vida. É a alma que estuda a palavra do Senhor, percebendo que está neste mundo para aprender a Verdade e o Bem. E, assim, dá frutos de bondade e eleva-se para Deus. Abandona seus vícios e maus hábitos, dedicando-se à prática das virtudes, guardando a fé no coração, socorrendo carinhosamente os necessitados e sofredores e buscando os conselhos de Deus no Evangelho de Cristo.
O coração de uma criança verdadeiramente cristã é o bom terreno da parábola: cada semente de Jesus se transforma em trinta, sessenta ou cem bênçãos de bondade, de fé e de auxílio ao próximo. O coração dessa criança deseja conhecer sempre mais e melhor os ensinos cristãos. E se esforça sinceramente para fazer a Vontade Divina: amar e perdoar, crer e ajudar, aprender e servir.
Filhinho, aí está a Parábola do Semeador. Medite nela. Que você, guardando a humildade de coração, se esforce para ser, se ainda não o é, o bom terreno, que recebe os grãos de luz do Divino Semeador e dá muitos frutos de sabedoria e bondade.
TAVARES, Clóvis. Histórias que Jesus Contou. LAKE. Parábola do Semeador: Mateus,
Repassando...

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A DOUTRINA DA IMORTALIDADE




                                    




                           A moderna psicologia


Foi justamente quando o espírito de negação e de materialidade triunfava no mundo, e quando esses dois formidáveis exércitos, sacerdotalismo e cientificismo, se digladiavam e destruíam, com prejuízo para a coletividade, que as Potências dos Céus se abalaram e o Espírito de Verdade desceu a Terra, para trazer-nos a nova luz que deveria iluminar os horizontes da nossa Imortalidade!
Então, uma nova Ciência ergueu-se para enfrentar a Ciência que nega a Religião; e uma nova Religião bateu às portas dos templos para pedir, aos seus sacerdotes, contas das suas negações às provas positivas que a Ciência lhes tem oferecido.
O velho mundo foi abalado em suas bases e as partes litigantes, avelhantadas, sem recursos para prosseguirem na sua luta, voltaram suas armas contra quem lhes vinha propor paz honrosa.
O Espiritismo foi repudiado, caluniado, injuriado pelos obscurantistas anchos do saber e do poder humanos; mas a Verdade devia triunfar, pois soara no grande relógio universal a hora das reivindicações sociais! A cegueira de uns e de outros não poderia privar o desenvolvimento da vidência latente de tantos: a VOZ DOS MORTOS fez-se ouvir em todos os cantos da Terra e em pouco mais de meio século o Espiritismo restaurou o Gênio do Cristianismo, ao menos quanto aos memoráveis testemunhos da sobrevivência humana.
A par de tantas descobertas e inovações, que vêm transformando nosso mundo num paraíso, o Experimentalismo Espírita faz reviver, em todos, a certeza da Imortalidade, cumprindo assim a previsão do Apóstolo dos Gentios, segundo o qual "a morte será tragada na vitória dos arautos do Ideal Cristão".
E já não são mais considerações filosóficas, nem floreios de retórica que vêm exaltar a Doutrina da Vida, mas, sim, a eloquência dos fatos persistentes que desafiam todas as minuciosas investigações e se submetem aos mais escrupulosos exames!
Precedendo a era nova, que o padrão espírita marcou na senda que a Humanidade tem de trilhar, o Magnetismo concorreu com fortes contingentes para abalar as barreiras do Materialismo, tão bem amparadas por Ernest Haeckel nos seus Enigmas do Universo.
O magnetismo, com os seus fenômenos de sonambulismo, desdobramento da personalidade e outros de não menor importância, tem deixado patente aos olhos de todos os que querem ver, a existência do Espírito, quer se trate do Espírito humano, quer se trate do Espírito do animal, esse mesmo Espírito independente do corpo carnal.
A visão a distancia e no interior dos corpos opacos, os fenômenos de bilocação, de exteriorização da sensibilidade, sobrepujam todos os templos de barro e academias de pedras, construídos pela imperfeita mão do homem.
O Animismo, como o denominou Aksakof, por si só explica e demonstra, com lógica irrefutável e fatos irrefragáveis, a existência da alma, independente das forças néuricas e cerebrais, e sua ação volitiva apesar da resistência que a matéria lhe opõe.
 Não há que tergiversar: existimos, e nossa individualidade mantém-se indestrutível, sem que para isso concorram com um ceitil o fósforo, as circunvoluções cerebrais, ou a cal da carcaça que abriga nosso cérebro. A memória ai está para testificar esta verdade!
Hoje podemos dizer: Ego sun, fui et ero! - Existo, existi e existirei!
CAIRBAR SCHUTEL
GÊNESE DA ALMA


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Os Serviços do Centro



No desempenho da sua função, o Centro Espírita é, sobretudo, um centro de serviços ao próximo, no plano propriamente humano e no plano espiritual. O ensino evangélico puro, as preces e os passes, o trabalho de doutrinação representa um esforço permanente de esclarecimento e orientação de espíritos sofredores e de suas vítimas humana que geralmente são comparsas necessitados da mesma assistência. Muitas criaturas perguntam se os espíritas não são pretensiosos e orgulhosos, ao se julgarem capazes de esclarecer espíritos desencarnados. Acham que esse é um serviço dos Espíritos Superiores e não dos homens. Chegam a fazer cálculos para demonstrar aos espíritas que esse trabalho é em vão, pois o número de espíritos que podem assistir em suas sessões é diminuto. Esquecem-se de que toda atividade esclarecedora, em qualquer campo, vale mais pela sua possibilidade de propagação. A dinâmica da comunicação é o principal fator da eficiência nesses casos. São muitos os exemplos históricos nesse sentido, mas nenhum é mais claro que o de Jesus, servindo-se de um pequeno grupo de pessoas para modificar com seus ensinos, mesmo deturpados pela ignorância, a face do mundo.
Nas sessões espíritas não se pretende abranger todos os espíritos necessitados – o que seria impossível – mas cuidar daqueles que estão mais ligados a nós. A doutrinação de um espírito perturbado é quase sempre o pagamento de uma dívida nossa para aquele espírito. Se o prejudicamos ontem, hoje o socorremos. E ele, socorrido, torna-se um novo assistente da grande batalha pelo esclarecimento geral. Cada espírito que conquistamos para o bem representa um novo impulso na luta, o acréscimo de mais um companheiro, um aumento do bem. Devemos sempre lembrar que o bem é contagiante. Se libertarmos uma vítima da obsessão na Terra, libertamos outra no mundo espiritual que nos cerca. Essa multiplicação se processa num crescendo, atingindo progressivamente a centenas de pessoas e espíritos.
Alegam alguns que os espíritos perturbados são assistidos no próprio plano espiritual. Mas Jesus, por acaso, deixou de assistir aos espíritos necessitados, aqui mesmo, na Terra? Pelo contrário, os assistiu e mandou ainda os seus discípulos fazerem o mesmo. A experiência espírita confirma o acerto do atendimento terreno, demonstrando cientificamente que os espíritos desencarnados, mas ainda muito apegados às condições da vida material, precisam de assistência mediúnica para se livrar desse apego. Nas sessões, como observou o sábio francês Gustavo Geley, a emanação de ectoplasma forma um ambiente favorável às relações dos espíritos com os homens. Nesse ambiente mediúnico os espíritos apegados à matéria sentem a impressão de maior segurança, como se estivessem novamente encarnados. Muitas vezes, nas sessões, Espíritos orientadores serve-se de um médium para doutrinar mais facilmente essas entidades confusas. Isso confirma a dificuldade, acentuada por Kardec, que Espíritos mais evoluídos encontram para esclarecer os inferiores no plano espiritual. As sessões espíritas de doutrinação e desobsessão provaram sua eficácia desde Kardec até os nossos dias, enquanto as opiniões contrárias não se firmam senão em opiniões pessoais, palpites deduzidos de falsos raciocínios, por falta de real conhecimento desse grave problema.
Os que hoje procuram diminuir o valor e a importância dessas sessões nos Centros não passam de palpiteiros. Os Centros Espíritas bem organizados e bem orientados não se deixam levar por esses palpites, pois possuem suficiente experiência nesse campo altamente melindroso de suas atividades doutrinárias. Da mesma maneira, os que pretendem que as sessões dos Centros sejam dedicadas apenas às manifestações de Espíritos Superiores, revelam egoísmo e falta de compreensão doutrinária. A parte mais importante e necessária das atividades mediúnicas, mormente em nossos dias, é precisamente a da prática doutrinária da desobsessão. Trabalhar nesse setor é dever constante dos médiuns esclarecidos e dedicados ao bem do próximo. O estado de confusão a que chegou a Psicoterapêutica em nossos dias, e particularmente a Psiquiatria, exige redobrado esforço dos Centros no trabalho de doutrinação e de desobsessão. Milhões de vítimas, no mundo inteiro, clamam pelo socorro de métodos mais eficientes de cura psicoterapêutica, que só o Espiritismo pode oferecer, graças às suas experiências de mais de dois séculos nesse campo. O Centro Espírita guarda esse acervo maravilhoso em sua tradição e não pode recuar diante dos sofismas da atualidade trágica e pretensiosa.
As comunicações dos Espíritos Superiores são dadas no momento preciso, mesmo em meio do aparente tumulto das sessões de desobsessão. É muito agradável recebermos comunicações elevadas de Espíritos Superiores, mas só as merecemos depois de cuidarmos com atenção e abnegação dos Espíritos Sofredores. Quando recusamos essas oportunidades redentoras os Superiores se afastam e o campo fica aberto aos mistificadores, como o sabem, muitas vezes por duras experiências próprias, os que procuram acomodar-se na bênção sem merecimento.
Os serviços assistenciais à pobreza, prestados pelos Centros Espíritas, constituem a contribuição espírita para o desenvolvimento de nova mentalidade social em nosso mundo egoísta. Não basta semear ideias fraternistas entre os homens; é necessário concretizá-las em atos pessoais e sinceros. O Centro Espírita funciona como um transformador de ideias fraternas em correntes de energias ativas nesses planos. Em suas turbinas invisíveis as ideias se transformam em atos de amor e de dedicação ao próximo. Há os que combate à esmola, a doação gratuita de ajuda material aos necessitados. Querem a criação de organismos sociais capazes de modificar o panorama da miséria com recursos de ensino e encaminhamento dos infelizes a situações melhores. Isso é o ideal, e muitos Centros e outras formas de instituições espíritas conseguiram fazê-lo. Mas quando escasseiam recursos e meio de se fazer isso, é justo que deixemos os pobres à mingua na sua impotência? Há misérias tão cruciantes que têm de ser atendidas agora, neste momento. Negar auxílio, nesses casos, a pretexto de que estamos sonhando com medidas melhores é falta de caridade, comodismo disfarçado em idealismo superior. O Centro Espírita é instrumento de ação imediata e age de acordo com as necessidades urgentes. Sem o atendimento a essas necessidades, as vítimas da injustiça social não poderão esperar as brilhantes realizações futuras.
Como ensinou Kardec, devemos esperar que as utopias se tornem realidades, para depois as aceitarmos. As pessoas que censuram esse esforço de ajuda aos necessitados, defendendo ideais de reforma social, alienam-se da cruciante realidade em que vegetam os que não dispõem de meios para o próprio sustento. Geralmente esses ideólogos de um mundo melhor que deve surgir por milagre ou por abalos sociais, acusam os espíritas de alienados, comodistas e divorciados da realidade, quando, entretanto, são eles que se alienam. O Centro Espírita não pode se entregar, pois aos seus princípios. Seu objetivo é o bem de todos e não o desta ou daquela camada da população. A evolução social depende da evolução dos homens, que constituem e formam os organismos sociais. É pelo exemplo de fraternidade, e não pela violência, que podemos melhorar o mundo. A Revolução Cristã não se processou a golpes de violência, mas ao custo de sacrifício e abnegação, de profundo respeito pela criatura humana. Não importa se essa criatura é um potentado ou um mendigo. A Revolução Espírita, que é filha e herdeira da Revolução Cristã, não se faz ao poder precário e ilusório das armas destruidoras, mas ao ritmo das modificações nas consciências dos homens, na busca de paz e compreensão para que as atrocidades desapareçam da Terra. Não podemos apagar fogo com gasolina, nem consertar o mundo com a substituição de castas no poder.
Os serviços de assistência ao próximo só podem retardar o avanço da violência, ao mesmo tempo em que aceleram o desenvolvimento moral e espiritual da Humanidade. É desse desenvolvimento, e exclusivamente dele, que poderá surgir na Terra uma civilização superior. O Centro Espírita não pode trocar os seus serviços de amor e fraternidade pelo acirramento das lutas entre grupos e classes. Ele apela aos valores da inteligência, que através da razão equilibrada e da compreensão profunda das necessidades humanas, conduzem os homens à solução e não apenas as tentativas de maiores conflitos.
Um espírita não pode pensar apenas em termos da realidade imediata. A concepção dialética do Espiritismo não se funda no exame das contradições superficiais do mecanismo social. Aprofunda-se no exame do dinamismo complexo das ações e reações dos indivíduos e dos grupos sociais que estruturam a sociedade. Reduzir toda essa complexidade às manifestações efêmeras dos estágios evolutivos de uma sociedade é negar ao homem a possibilidade de lutar para compreender os problemas com que se defronta no processo existencial. Viver e existir são duas possibilidades do ser que se projeta na encarnação. Nos planos inferiores dos reinos mineral e vegetal a vida é movimento e sensação, mas nos estágios intermediários da animalidade se converte em conquista e domínio, elevando-se no plano hominal à consciência de si mesma da busca da transcendência. Nesse plano, o ser humano assume a responsabilidade da busca e só existe realmente superando as fases inconscientes do seu desenvolvimento, na medida exata em que sabe o que quer e porque o quer.
Esse “o que” e esse “porque” têm então de superar-se a si mesmo na conquista do “como”, ou seja: de que maneira poderá continuar a elevar-se. Assim como a conquista material do plano animal se transforma na conquista do conhecimento de si mesmo e do seu destino transcendente, todas as demais atividades do homem levam à consciência, o que dá ao ser a sua unidade. Consciente dessa unidade interna, o homem supera então a multiplicidade da sua própria estrutura e do mundo. Revela-se nele a centelha divina da sua origem espiritual. Ele compreende que é espírito e que esse espírito não pode desfazer-se com a morte, pois a sua essência é indestrutível e eterna. Esse é o momento espírita da redenção, em que o espírita capta a sua imortalidade em sua própria consciência e muda a maneira de ser diante do mundo ilusório e transitório.
Desse momento em diante o espírito se integra no Centro Espírita, liga-se a ele, não como um serviçal, mas como o próprio serviço. A multiplicidade dos serviços do Centro adquire em sua consciência a mesma unidade conquistada por esta. Ao mesmo tempo, a visão da unidade existencial, em que todos os serviços se fundem no serviço único da Humanidade, desperta nele o sentimento e a compreensão do seu dever único – servir a Deus no serviço ao próximo.
Tudo o que ele fizer dali por diante, será um fazer universal, não ligado a ele ou ao Centro, não confinado na sua pessoa e no seu grupo, nem mesmo restrito ao meio espírita, mas naturalmente extensivo a toda a Humanidade. Os pioneiros do Espiritismo, a partir de Kardec, todas as grandes figuras que souberam dar-se ao Espiritismo ao invés de apossar-se dele, fizeram essa caminhada redentora, passaram por gigantesca odisseia espiritual, temperando-se nas encarnações sucessivas para reimplantar na Terra a semeadura do Cristo, na ressurreição do seu Evangelho, da sua Boa Nova em “espírito e verdade”.
Como se vê, o Centro Espírita é realmente um centro de convergência de toda a dinâmica doutrinária. Nele iniciam-se os neófitos, revelam-se os médiuns, comunicam-se o Espírito, educam-se crianças e adultos, libertam-se os obsedados, estuda-se a Doutrina em seus aspectos teóricos e práticos, promove-se a assistência social a todos os necessitados, sem imposições e discriminações, cultiva-se a fraternidade pura que abre os portais do Futuro. A coordenação das atividades de um Centro Espírita bem orientado é praticamente automática, resultando do clima fraterno em que todos se sentem como em família, ajudando-se mutuamente. É nessa comunhão de esforços que os espíritas podem antecipar as realizações mais fecundas. Mas se no Centro se infiltra o espírito mesquinho das intrigas, das pretensões descabidas, das aversões inferiores, os dirigentes necessitam de muita paciência e tolerância para quebrar as arestas e restabelecer a atmosfera espiritual. Nunca, porém, deverão renunciar aos seus deveres, o que seria uma deserção, a menos que o façam reconhecendo humildemente os seus erros e continuando no Centro para servir melhor, em cargos inferiores ou mesmo sem cargos. Nada mais triste do que um Centro Espírita em que alguns se julgam mestres dos outros, quando na verdade ninguém sabe nada e todos deviam colocar-se na posição exata de aprendizes. Os serviços mais urgentes de cada Centro são os de instrução doutrinária de velhos e novos adeptos, tanto uns como outros carentes de conhecimento doutrinário. Bem executado esse serviço, todos os demais serão feitos com mais facilidade.
www.autoresespiritasclassicos.com


Herculano Pires

O Centro Espírita
Dedicatória

Para

Dadício de Oliveira Baulet

Ciro Milton de Abreu

Que fundaram em Cerqueira César, na Sorocabana, o Centro Espírita Humberto de Campos,
Logo após a morte do grande escritor, pouco depois ressuscitado na psicografia de
Francisco Cândido Xavier.