domingo, 15 de setembro de 2013

Depois da morte



TEXTOS INTRODUTÓRIOS

LÉON DENIS
DEPOIS DA MORTE

EXTRAÍDOS DA OBRA
HENRI REGNAULT - A MORTE NÃO EXISTE

(Com base nas Obras de Léon Denis)


“Depois da Morte” é a primeira obra importante de Léon Denis. Como todas elas, já foi traduzida em várias línguas.
No Congresso de 1889, Léon Denis foi nomeado Presidente da Comissão de Propaganda. Ele tomou como Secretário, Henri Sausse; este lhe aconselhou fazer uma síntese do ensino espírita e um resumo da obra de Allan Kardec.
Léon Denis pensou no conselho e escreveu “Depois da Morte”, verdadeira obra prima, tanto do ponto de vista literário puro como no que concerne à exposição de nossa Doutrina.
Publicado em 25 de dezembro de 1890, “Depois da Morte” foi bem acolhido pela critica.
G. d'Hailly escreveu, na “Revue des Livres Nouveaux”:
“Entre as obras que ti nesta semana não encontrei uma com bem maior soma de condições morais que a de Léon Denis: depois da Morte”.
Ainda não conhecia obra mais bem pensada, nem livro num estilo mais correto e mais elevado.
Talvez eu seja um pouco cético em relação ao Espiritismo, embora haja razões que me inclinem a uma aceitação. Entretanto, não conheço doutrina mais consoladora, mais reconfortante, mais digna de respeito.
O belo livro de Léon Denis nos pretende dar a solução científica e racional dos problemas da vida e da morte, da Natureza e do destino do ser humano e nos demonstra a existência e a razão das vidas sucessivas.
Li e reli seu livro, que encheu minha alma de alegria e, se as coisas são assim, só posso louvar a Previdência Divina.”
“Le Temps” publicou:
“Esse volume é realmente notável, possui todas as qualidades que lhe podem garantir o sucesso.
Embora eminentemente clássico, profundo e sério, suas páginas brilham com uma luz viva e são impregnadas de uma ardorosa eloquência.
Como seu título indica, trata do formidável problema do destino humano, dando uma solução para essa questão bastante controvertida durante todos os tempos: o porquê da vida.
Problema árduo, em verdade, porém, tratado com um tal encanto de estilo e de evolução que, em todo o livro, não se encontra uma página sequer com uma leitura fatigante ou desprovida de interesse.
Dando, em “Le Journal”, sua apreciação sobre esse livro, Alex Hepp se exprimia assim, em 26 de janeiro de 1899:
“Há um homem que escreveu o mais belo, o mais nobre e o mais precioso livro que jamais li. Seu nome é Léon Denis e seu livro, “Depois da Morte”.
Leiam-no e uma grande piedade, porém, libertadora e fecunda, virá bruscamente de nossas manifestações de tristezas, de nosso medo da morte e de nosso grande pesar por aqueles que supomos perdidos”
Em “Depois da Morte”, o leitor encontra, notadamente, a história das religiões, o estudo dos grandes problemas, o do mundo invisível, a maneira pela qual, segundo as comunicações, podemos ter uma ideia da vida no Além, o reto caminho, etc.
Desejando fazer um resumo do Espiritismo, o autor estudou como os homens conheceram nossa Doutrina e quais podem ser suas consequências: (26)
(26) “Depois da Morte”, Léon Denis, 324 milheiro, pág. 6.
“Dessas buscas, desses estudos, dessas descobertas se destacam uma concepção do mugido e da vida, um conhecimento das leis superiores, uma afirmação da justiça e da ordem universais, bem feitas para despertar no coração do homem, com uma fé mais segura e mais esclarecida do futuro, um sentimento profundo de seus deveres, um interesse real por seus semelhantes, capazes de transformar a face das sociedades.”
Esse livro, escrito sem nenhuma pretensão pessoal de sucesso, é destinado aos que estão cansados de viver na cegueira,aos filhos e às filhas do povo.
O único objetivo de Léon Denis é prestar serviço aos humildes e aos infelizes.
Ele se revolta que ainda se possa, atualmente, morrer de frio e de miséria e prova que as bases de nossa Doutrina são unicamente o testemunho dos sentidos e a experiência da razão.
Para comprovar a antiguidade do Espiritismo, que apresenta uma nova aparição de fenômenos, existentes desde o começo do mundo, ele faz resumo bem nítido, rápido, porém, completo, da história das religiões.
As religiões são muitas, em nosso globo, nas suas formas e aparências, mas, quando se vai ao fundo das coisas, percebe-se que seu esoterismo, isto é, à parte reservada só aos iniciados, comporta uma doutrina única, superior e imutável, sempre a mesma em todas. as latitudes.
Léon Denis consagra a morte muitas páginas, esparsas em sua obra.
Que é, realmente, a morte? Na introdução, o autor já propõe a questão.
Este problema, diz ele, interessa a todos, pois todos estamos sujeitos à lei.
Importa-nos saber se, nessa hora, tudo acabou, se a morte é apensa um calmo repouso no aniquilamento ou, ao contrario, a entrada em uma outra esfera de sensações.
A morte é o ponto de interrogação, incessantemente posto diante de nós, a primeira das questões à qual se ligam inúmeras questões, cujo exame faz a preocupação, o desespero das Idades, à razão de ser de uma multidão de sistemas filosóficos.
Muitos não querem ouvir falar da morte.
Pode-se viver sem preocupações, quando se tem a chance aparente de ser rico, mas isso não basta para impedir que a morte venha, no momento certo.
Dizendo: “Pode-se essas questões são macabras, não me quero ocupar dessas coisas”, podemos nos distanciar de uma segunda chegada da morte?
Se a morte é uma coisa terrível, não é melhor, entretanto, conheça-la?
Quando o estado de saúde de uma criança é bastante mau, para necessitar, na aparência, de uma intervenção cirúrgica, a responsabilidade dos pais é tanto mais séria quanto o pequeno venha a sofrer desta decisão, sem poder opinar; antes de aceitarem a operação, o pai e a mãe se encontram diante dessa questão angustiante: “Qual resultado vamos obter? Convém ou não operar?”
Com efeito, a morte pode ser comparada a uma operação, porém, uma operação que será obrigatória, num momento desconhecido.
É, portanto, indispensável conhecer, antes, o que é o destino de todos os humanos; convém, pois, estar sempre preparado para enfrentá-la, quando aparecer.
Diz-nos Léon Denis:
A morte não é outra coisa que uma transformação necessária, uma renovação. Em realidade, nada morre. A morte é aparente.
Somente a forma exterior muda; o principio da vida, a alma, continua em sua unidade permanente, indestrutível. Ela se encontra no além-túmulo, ela e seu corpo fluídico, na plenitude de suas faculdades, com todas as aquisições; luzes, aspirações, virtudes, poderes de que se enriqueceu durante suas existências terrenas.
Eis os bens impere cíveis de que fala o Evangelho; quando diz: “Nem os vermes, nem a ferrugem os consumirão e nem os ladrões os roubarão”.
São as únicas riquezas que podemos levar conosco, para utilizar na vida futura.”
“A morte é a grande reveladora. Nas horas de provações, quando escurece em nosso derredor, por vezes perguntamos: Por que isto? Por que não permaneci na noite profunda, onde nada se sente, não se sofre, onde se dorme o sono eterno?
E, nessas horas de dúvida, de agonia, de desanimo, uma voz subia até nós e dizia: Sofra para crescer e para resgatar! Saiba que o destino é grandioso.
Esta fria terra não será o seu sepulcro. Os mundos que brilham no fundo dos céus são suas futuras moradas, a herança que Deus lhe reserva.
Você é, para sempre, cidadão do Universo, pertencendo aos séculos futuros como aos séculos passados e, no presente, prepara sua evolução.
Suporte, pois, com calma, os sofrimentos que você mesmo escolheu.
Semeie, na dor e nas lágrimas, o grão que brotará em suas próximas vidas; semeie também para os outros, como os outros semearam para você!
Espírito imortal, avance com passo firme para as alturas de onde o futuro lhe aparecerá sem véus.
A subida é rude e o suor inundará muitas vezes seu rosto, porém, do alto verá despontar a grande luz, verá brilhar, no horizonte, o sol da verdade e da justiça!” (27)
(27) “Depois da Morte”, Léon Denis, 32º milheiro, pág. 176 e seguintes. (Edição francesa)
Os leitores da obra de Léon Denis conhecem, pois, exatamente, a morte; não mais temem as manifestações espontâneas dos fantasmas. Eles não se assemelharão ao herói de um conto de Guy de Maupassant, intitulado “Apparition”. (28)
(28) “Claire de Lune”, Guy de Maupassant, pág. 42, Editora Flammarion.
Eis a análise:
Cinqüenta e seis anos após uma aventura contada por ele a alguns amigos, o Marqués de la Tour Samuel tremia ainda com a ideia do que se produziu uma só vez no curso de sua vida.
Ele guardou desse acontecimento uma lembrança do medo e, todavia, como oficial de carreira, teve muitas vezes de demonstrar sua bravura.
Na guarnição de Rouen, ele havia encontrado um amigo de juventude e ficou surpreso com sua aparência envelhecida: demonstrava em seu rosto traços indeléveis de grande sofrimento causado pela morte de sua esposa. Tendo encontrado nela a felicidade perfeita, tivera a tristeza de perdê-la, subitamente, e não podia consolar-se.
Jamais tivera a coragem de retornar a uma propriedade onde vivera com a esposa, nas cercanias de Rouen.
Encantado em reencontrar um velho colega em quem depositava plena confiança, o desesperado lhe disse:
- Não posso mais voltar àquele lugar, isso me faz sofrer. Você quer ir lá? Não é longe. Você irá ao meu quarto, abrirá a secretária. Aqui tem a chave; e apanhará os papéis de que tenho necessidade. Para você é um passeio a cavalo, de apenas alguns quilômetros. Pode me prestar esse favor?
O Marqués aceitou e se dirigiu à propriedade de seu amigo: quando lá chegou, o caseiro ficou espantado com a decisão do Marqués de entrar na peça designada. O oficial não atribuiu importância à admiração do vigia da propriedade, mas a verdade é que, quando penetrou no quarto, que exalava o odor característico dos lugares abandonados pelos vivos, sentiu uma emoção incompreensível.
Estando sentado diante da secretária para dali apanhar os papéis pedidos por seu amigo, teve a sensação de que andavam atrás dele; voltou-se e viu uma mulher, um fantasma. Apesar de sua bravura, tremeu. Tinha a impressão de que essa morta ia lhe falar, tocá-lo, lhe pedir alguma coisa.
Teve forças para apanhar rapidamente os documentos, depois se livrou desse lugar mal-assombrado. (29)
(29) Nota da Editora: Este fenômeno está bem estudado em “O Livro dos Médiuns”, Capítulo IX.
Para retornar a Rouen, galopou como um louco.
Diante do amigo, tomou consciência de si mesmo e tirou sua túnica de oficial, mas teve a surpresa de nela ver enrolados, em volta de um botão, alguns longos cabelos.
Se o herói de Guy de Maupassant tivesse conhecido o Espiritismo, teria fugido?
Não, pelo contrário, ele tentaria saber os motivos dessa manifestação e, sem dúvida alguma, teria podido prestar um bom serviço, porque o Espiritismo é maravilhoso. Não somente permite dar consolo aos vivos, mas ainda estende aos mortos benefícios numerosos:
No entretanto, o Marquês de La Tour Samuel não conheceu nossa Doutrina.
Assim, aos 82 anos, 56 anos após sua trágica aventura, apesar das provas dos cabelos enrolados num botão de seu uniforme, ele ainda considerava o fato como uma crise de loucura, um “segredo vergonhoso, uma lamentável fraqueza” que somente sua idade lhe permitia revelar a seus amigos.
Lendo “Depois da Morte”, aprendemos coisas bem importantes; citarei, por exemplo, o que é magnetismo, como se pode servir de seu fluido, quais os sábios e quais os grandes homens que aceitaram o Espiritismo; quais objeções são feitas e as respostas que permitem mostrar aos contraditores quanto eles estão errados.
Coisa interessante: todas às vezes em que se trata de refutar objeções, Léon Denis emprega argumentos; jamais utiliza insultos.
Os franceses gostam de ler jornais que tem por objetivo fazer polêmica entre uns e outros. Quando se trata de choques de ideias, está certo; infelizmente, há com frequência choques de pessoas.
De minha parte, abandono sistematicamente todo artigo e toda obra nos quais alguém, para demonstrar a realidade de sua tese, insulta os que pensam diferentes.
Quando se procura transmitir suas convicções aos outros, é bom ter à sua disposição argumentos, fatos e experiências e não injúrias.
A teoria da reencarnação só é esquematizada em “Depois da Morte”. Ela será estudada, profundamente, em outras obras e, particularmente, em “O Problema do Ser e do Destino”.
Lendo “Depois da Morte”, aprendemos igualmente como se pode adquirir vontade e dela se utilizar, para sermos felizes neste mundo.
Léon Denis não receia atrair a atenção de seus leitores sobre os perigos do Espiritismo: que, de resto, podem parecer um pouco bizarros, mas existem. A esse propósito, lembro-me de uma pequena história:
Certa vez, na sala de Geografia, numa reunião da “Phalange”, veio a mim um homem, aparentando uns 40 anos. Em lágrimas, ele me diz:
- Ah! se o senhor soubesse que desgraça; meu filho morreu. Desde sua morte, temos em mãos uma pequena brochura que trata de como fazer girar as mesas.
Desde a morte de meu filho, minha mulher deseja estar certa de que ele não está verdadeiramente morto. Ela quis colocar as mãos sobre a mesa e conseguiu movimento, porém, depois pareceu louca. Não se pode deixá-la sozinha, porque quer se jogar pela janela, pois acha que escuta vozes que lhe ordenam se matar.
Eu vi, logo, de que se tratava: ou era autossugestão, ou um envolvimento, por obsessão de um mau espírito.
Pedi a esse homem, para levar sua esposa à minha casa, sem a prevenir de que eu estava sabendo de seu estado. Isso me permitiu estudá-la à vontade. Pude diagnosticar bem claramente uma obsessão.
Esse homem tinha grande confiança em mim e me pediu para tentar curar sua esposa. (30)
(30) Todas às vezes em que me ocupo de tratamento psíquico, que se trata de sofrimentos físicos, de obsessões, de possessões, eu recuso qualquer retribuição; trato com o mais total desinteresse.
Em três semanas consegui restituir àquela mulher toda a sua razão, e desembaraçá-la daquela obsessão.
Para obter esse resultado não usei gestos ou palavras rudes porque é pela persuasão que se consegue esclarecer os espíritos obsessores sobre aquilo em que estão errados. E preciso também explicar aos obsidiados a necessidade de perdoar a seus perseguidores invisíveis e pedir a proteção de seus guias. Este é um ponto bem delicado.
Os perigos da prática do Espiritismo são reais.
Leitores, se vocês tiverem a intenção de praticar em nossa Doutrina, não se atrevam a fazer experiências sem terem, antes, estudado o Espiritismo.
Quando são discutidas essas questões eu faço, frequentemente, uma comparação que me parece de natureza a bem impressionar a imaginação de meu interlocutor.
Eu o conduzo a ver comigo, pela imaginação, uma usina de explosivos.
Ele teve em tempos passados algumas vagas noções de física e química, esquecidas depois que as exigências da vida o afastaram dos estudos.
Essa usina é bem interessante; é, também, bem curiosa: mistura-se um pouco de pólvora, um pouco de outro produto, coloca-se isso num pequeno tubo e, quando há um choque, obtém-se a explosão destruidora.
Meu interlocutor está cativado; ele decide experimentar fazer o mesmo.
Antes de entrar em casa, vai a um droguista.
Sua memória lhe permite lembrar-se que é preciso colocar um pouco de tal produto, um pouco mais daquele outro, porém ele não se lembra mais de todas as medidas e é precisamente isto, o essencial. Que arrisca ele realizando a experiência?
Ou não produzirá o explosivo e terá perdido seu tempo, ou então conseguirá um explosivo perigoso que não saberá controlar, com o qual poderá provocar uma catástrofe, matar seus vizinhos, semear a ruína e o pânico em seu derredor.
Sem dúvida, seria difícil encontrar uma criatura bastante imprudente para querer fazer um explosivo, sem ter, antes, estudado a fundo essa matéria, porque ai há um perigo bem aparente.
Quantas pessoas tenho encontrado que me dizem:
- Ah! Você se ocupa com essas coisas! Eu também me divirto, fazendo as mesas girarem.
Tais divertimentos são perigosos; por ser invisível e desconhecido da maioria, o perigo da experimentação psíquica realizada sem preocupações, não é menos real.
Aos olhos de Léon Denis, essa questão dos perigos do Espiritismo é muito séria. Ele julgou necessário, em sua primeira obra, indicá-los muito claramente, consagrando um capítulo especial a esse problema (31). Ele havia compreendido a necessidade absoluta de atrair a atenção de seus leitores sobre os perigos de uma experimentação irresponsável.
(31) “Depois da Morte”, Léon Denis, 314 milheiro, pág. 147 e seguintes. (Edição francesa)
Assinalo, igualmente, um possível inconveniente: as pesquisas, nesse domínio, são atraentes, mas é preciso não se entregar, sem reservas, à experimentação. Não se deve abandonar a vida normal, material, para se consagrar unicamente a questões que não devem ser um meio de ganho.
Portanto, não convém experimentar, antes de se estar suficientemente preparado para fazê-lo sem imprudência.
Quando se experimenta, deve-se guardar todo o senso crítico. Nunca se deve aceitar um fenômeno como uma emanação do Além, sem ter tentado encontrar uma explicação humana.
Para se entregar, seriamente, a pesquisas espíritas e psíquicas, é indispensável experimentar com perseverança, com tenacidade, com regularidade.
Se quiser constituir um grupo, é preciso que ele se reúna em dia e hora certos, no mesmo local, sempre com o mesmo número de pessoas, não se permitindo estranhos em suas reuniões.
Tenho dado, frequentemente, o conselho de Allan Kardec para a criação do que ele chama de Grupo Familiar.
Meu excelente amigo Marty, colega da Comissão da União Espírita Francesa, também pensa assim e temos ambos obtido notáveis resultados.
Dedico uma particular importância ao capítulo da provação.(32) Constantemente ouço confidência de desesperados, aliás, são numerosas as pessoas acossadas pelos males físicos, materiais ou morais.
(32) “Depois da Morte”, Léon Denis, 314 milheiro, págs. 174 e seguintes. (Edições francesas)
Sempre aconselhei meus interlocutores e meus correspondentes a lerem ou relerem as páginas consagradas por Léon Denis a explicar porque sofremos neste mundo.
Muitas são, em meus arquivos, as cartas daqueles para os quais essa medicina moral foi eficaz.
Em 23 de outubro de 1927, realizava, na Sala de Geografia, na União Espiritual, uma conferência sobre a obra de Léon Denis e aconselhava a meus ouvintes que adquirissem logo “Depois da Morte” e lhes dizia, finalizando:
“Meus amigos... desejo que todos sejam bem felizes, para não terem nunca necessidade da consolação pregada pelo Espiritismo.
Alguns, dentre vós, estão de luto. Eu gostaria de ter podido, no momento da cruel separação física, oferecer-lhes uma valiosa consolação em nossa Doutrina.
Se, atualmente, estais felizes, talvez não o estejais numa outra ocasião.
Pensai com Léon Denis, não deixeis de ler logo “Depois da Morte” e aproveitai essa preciosidade.
Uma dona de casa previdente tem sempre, em sua dispensa, algumas conservas que lhe permitam improvisar uma refeição, se alguns amigos aparecerem de surpresa. Uma mulher prevenida tem sempre, em sua farmácia doméstica, os medicamentos que possibilitem os primeiros socorros, em caso de acidente ou de doença.
Imitai essas pessoas prudentes e tende sempre ao alcance da mão esse livro que contém todas as possibilidades de tornar-vos felizes.”
Dois dias depois, eu recebia uma nova comprovação do poder dessa obra.
“As livrarias, ontem à noite, estavam fechadas, escreveram-me, e só na manhã seguinte pude seguir seu conselho. Li e reli a página 174 e as seguintes.
É bem verdade! Quando uma profunda tristeza e um sofrimento bem vivo nos tenham dominado, essas linhas sublimes nos devolvem o gosto de viver.”
Dificuldades de todas as sortes não me tem poupado. Por vezes, a luta parece tornar-se impossível, com tudo sombrio em meu derredor e fico tentado em me deixar abater. Então, releio o capítulo que Léon Denis consagrou às provações e tudo volta ao normal.
Em 1923, eu acabara de sofrer um choque moral espantoso que me permitiu constatar, por mim mesmo, a eficácia dos remédios que aconselho aos outros. As exigências do jornalismo me haviam obrigado a ir ao Havre e, aproveitando uma hora de folga, fui me isolar numa praia, tendo comigo “Depois da Morte” e também “Os Grandes Iniciados” de meu eminente amigo Edouard Schuré, que eu não tinha ainda a alegria de conhecer pessoalmente.
Eu estava realmente deprimido e lamentava não ter o direito de me destruir, como pensava quando era materialista.
Abatido ao extremo, não podia afastar meu pensamento do assunto de minha profunda depressão, envolvia-me na desgraça, tudo era sombrio em minha volta. Pressentia todas as catástrofes e a vida me parecia para sempre terminada.
Todavia, o hábito de cultivar minha vontade, me ajudou a ter a necessária energia para retomar contato com Léon Denis e Edouard Schuré.
Quando pude livrar-me de minhas preocupações, seguindo o pensamento do autor espírita, estava salvo.
Recobrei confiança, senti o auxílio de meus amigos invisíveis e me lembrei de que o único meio de ser realmente feliz é esquecer-se de si mesmo para trabalhar pela felicidade dos outros.
Léon Denis se alegra em repetir que todas as suas obras foram inspiradas pelos Espíritos:
“Uma única ambição nos anima, desejamos que, quando nosso corpo já gasto retorne a sepultura, nosso espírito imortal possa afirmar: minha passagem no mundo não foi estéril, se pude contribuir em pacificar uma única dor, em esclarecer uma única inteligência em busca da Verdade e em reconfortar uma alma cambaleante e triste.” (33)
(33) “Depois da Morte”, Léon Denis, 324 milheiro, pág.7. (Edição francesa)
Pouco importa se ele era bastante modesto para não se ocupar com essas contingências terrestres. Antes de tudo, ele queria o bem de seus leitores.
Seu desejo foi amplamente atendido e ele teve a imensa alegria, durante sua vida, de ter inúmeros testemunhos da feliz eficácia de suas obras.
Bem hábil seria o estatístico que conseguisse obter o número dos que, graças à “Depois da Morte”, puderam ser consolados.
O Patriarca do Espiritismo retornou à espiritualidade e, durante sua longa trajetória, conheceu todas as provações, sem jamais se deixar abater.
Seus despojos, em gastos por 81 anos de vida terrena, se decompuseram, lentamente, no solo de Tours, porém, seu espírito (34) plana nas altas esferas.
34) Em “O Problema do Ser e o Destino”, pág. 20, Léon Denis escreve: “Chamamos Espírito à alma revestida de seu corpo sutil”. Emprego o termo Espírito, no mesmo sentido.
Denis deve continuar sua missão, pois, durante sua recente encarnação, se esmerou em provar que a morte é uma simples evolução e que continuamos nossa vida, qualquer que seja o lado em que nos encontremos.
Pouco tempo após sua morte, Léon Denis teria se manifestado em Rochefort-Sur-Mer, no Circulo Allan Kardec. Em “Annales du Spiritisme” (35), o casal Luce, de Tours, amigos íntimos do Mestre, e Claire Baumard, secretária, declararam, formalmente, ter reconhecido suas maneiras familiares, sua linguagem brilhante, impossível de imitar, mesmo que se decorassem certas passagens de suas obras.
(35) Ver “Annales du Spiritisme”, Rua Guesdon, 32, Rochefort-Sur-Mer, setembro de 1927.
Houve uma manifestação verdadeira? Nada sei, porém, o casal Luce confirmou a sua autenticidade.
Conheço, pessoalmente, a senhorita, Brasseaud, médium do Círculo de Allan Kardec; em 1912, ela produziu escrita direta em ardósia, sob minucioso controle. (36)
 (36) A escrita direta é um fenômeno bem comprovável. Eis uma das maneiras como pode produzir-se: “Duas ardósias, com molduras de madeira, são colocadas uma sobre a outra, pondo-se um lápis entre elas, antes de lacrá-las.
Sem qualquer contato humano, o médium impõe as mãos nas ardósias e, quando são abertas, nelas são encontradas frases escritas por um espírito ou pelo fantasma de um vivo”.
Se a comunicação de Léon Denis é autentica, tanto melhor, porque é uma prova formal de que o grande Apóstolo não estava enganado em suas afirmativas; se não se trata de uma manifestação de Léon Denis, fato bem possível, tanto pior, porém, isso não impede que, nos arquivos mundiais do Espiritismo, se encontrem muitos exemplos bem controlados de manifestações de mortos, na hora prevista por eles, em vida, e nas condições que haviam indicado.
Para ser conciliatório em relação àqueles que não participam de nossas idéias eu aceitaria, a rigor, admitir que os espíritas estão errados.
Quando vemos o exemplo de Léon Denis, de Gabriel Delanne e tantos outros, quando constatamos o bem que eles fizeram à Humanidade, às numerosas criaturas que eles consolaram, temos o direito de pensar: se eles se enganaram, tanto pior; mais vale esse erro que o de outros teóricos, cujo ensino produz a dúvida e gera o sofrimento.
Nossa Doutrina ajuda a que vivam bem aos que tem a oportunidade de conhecê-las e aplicar os seus ensinamentos. Isso não é o mais importante?



FIM