quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Abusos da mediunidade

Na primeira ordem dos abusos que devemos assinalar, cumpre colocar as fraudes, as simulações.
As fraudes ou são conscientes e volitivas, ou inconscientes. Neste último caso são provocadas quer pela ação de Espíritos malfazejos, quer por sugestões sobre os médiuns exercidas pelos experimentadores e assistentes.
As fraudes conscientes provêm ora de falsos médiuns, ora de médiuns verdadeiros, mas pérfidos, que têm feito de sua faculdade uma fonte de proventos materiais. Desconhecendo a nobreza e a importância de sua missão, por natureza preciosa, eles a transformam num meio de exploração e não trepidam, quando falha o fenômeno, em o simular com artifícios.
Os falsos médiuns se encontram um pouco por toda parte. Uns não passam de péssimos farsistas que se divertem à custa do vulgacho e a si mesmos se traem cedo ou tarde. Outros há, industriosos, hábeis, para os quais o Espiritismo é apenas uma mercancia; esforçam-se por imitar as manifestações, tendo em mira o lucro a auferir. Muitos têm sido desmascarados em plena sessão; alguns já foram colhidos nas malhas de ruidosos processos. Nessa ordem de fatos, têm sido presenciadas as mais audaciosas falcatruas.[i] Certos indivíduos, abusando da boa-fé dos que os consultam, não têm hesitado em profanar os mais sagrados sentimentos e tornar suspeitas uma ciência e doutrinas que podem ser um meio de regeneração. Na maioria das vezes, são destituídos do sentimento de sua responsabilidade; mas na vida de além-túmulo bem desagradáveis surpresas lhes estão reservadas.
É incalculável o prejuízo por esses espertalhões causado à verdade. Com seus artifícios têm afastado muitos pensadores do estudo sério do Espiritismo. Por isso é dever de todo homem de bem desmascará-los, expô-los à merecida execração. O desprezo neste mundo, o remorso e a vergonha no outro – eis o que os espera. Porque, nós o sabemos, tudo se paga: o mal recai sempre sobre aquele que o pratica.
Não há coisa mais vil, mais desprezível, que bater moeda sobre as dores alheias, simular, a troco de dinheiro, os amigos, os entes caros que choramos, fazer da própria morte uma especulação desbriada, um objeto de falsificação.
O Espiritismo não pode ser responsabilizado por tais manejos. O abuso ou imitação de uma coisa nada pode fazer prejulgar contra a própria coisa. Não vemos freqüentemente imitados os fenômenos de Física pelos prestidigitadores? E que prova isso contra a verdadeira Ciência? Nada. O investigador inteligente deve estar precavido e fazer constante uso de sua razão. Se há alguns laboratórios em que, a pretexto de manifestações, se pratica um odioso tráfico, numerosos círculos existem, compostos de pessoas cujo caráter, posição e honorabilidade constituem outras tantas garantias de sinceridade, inacessíveis, em tais condições, a qualquer suspeita de charlatanismo.
*
Tem-se dado o fato – observemos – de certos médiuns, dotados de notáveis faculdades, não terem vacilado em misturar, nas sessões que realizam, as simulações com os fatos reais, visando aumentar os proventos ou a fama que desfrutam.
Perguntarão talvez por que anuem os desencarnados a prestar o seu concurso a indivíduos de tal sorte indignos. A resposta é fácil. Esses Espíritos, em seu vivo desejo de se manifestarem aos que na Terra amaram, encontrando em tais médiuns os elementos necessários para se materializarem, tornando-se visíveis, e, assim, demonstrarem a própria sobrevivência, não hesitam em utilizar os meios que se lhes oferecem, não obstante a indignidade dos intermediários.
Foi o que sucedeu em 1906, 1907 e 1908, no curso de sessões efetuadas em Paris por um médium estrangeiro, de que já falei no prefácio desta obra.
No dia 18 de junho de 1908, em casa do Sr. David, no Boulevard des Batignolles, estando sentado o médium fora do gabinete de materializações, à meia-luz, no círculo dos assistentes, foi visto formar-se um braço, que parecia surgir de um ângulo da sala. Descreveu um movimento circular e nos veio tocar a cabeça, a mim e ao reverendo Benezech, pastor protestante, sentado ao pé de mim. Do soalho saiu um fantasma vaporoso, que se ergueu à vista de todos, e uma voz se fez ouvir, proferindo um nome bem conhecido. Em seguida se foi abaixando e dissipou-se gradualmente no soalho. O médium, bem desperto, assinalava esses fenômenos, ao mesmo tempo em que se produziam em lugares da sala que não teria podido alcançar.
Na sessão de 12 de julho, em casa da Sra. Cornély, estava eu colocado à entrada do gabinete, em frente à abertura das cortinas. Um Espírito, com estatura de criança, desprezando essa abertura, atravessou o pano, à minha esquerda, junto ao Sr. Debrus, sentado atrás de mim, e pronunciou estas palavras: “Maria, Rosa”, e em seguida: “papá, mamã!” Tocou o Sr. Debrus, e o seu lindo braço roliço foi visto alongar-se por cima da sua e da minha cabeça. O Sr. e a Sra. Debrus ficaram convencidos de ter visto a aparição de sua própria filha, falecida em Valence, a 4 de novembro de 1902, a quem me referi em “O Problema do Ser, do Destino, e da Dor”. Em semelhante caso, nos pareceu impossível a simulação, pois que o médium jamais tinha visto a menina.
A autenticidade desses fenômenos é incontestável, por terem sido produzidos em excelentes condições de verificação. O mesmo já se não deu posteriormente. Logo que o médium se ocultava atrás das cortinas e fazia-se a obscuridade, ouviam-se ruídos significativos. No curso de 11 sessões a que assisti, pude adquirir a certeza de que o médium se despia, tirava os sapatos e pintava o rosto, para simular as aparições.
Numa das sessões, efetuada em casa da Sra. Nceggerath, à rua Milton, duas senhoras favoravelmente colocadas para bem observar, estando eu sentado mais distante, viram distintamente o médium despido, agachado e, depois, estendido no soalho, a erguer-se pouco a pouco para levantar a gaze flutuante que lhe servia para imitar os fantasmas. As aludidas senhoras, uma das quais era a Sra. Nceggerath, me comunicaram separadamente suas impressões, que concordavam, antes de conversarem acerca do fato observado.
No dia 9 de setembro, o Sr. Drubay, espírita íntegro e convicto, ao desmanchar o gabinete de materializações, no dia seguinte ao de uma sessão efetuada em sua casa, encontrou um retalho de filó de seda, muitíssimo fino, que parecia despregado ou arrancado de um pedaço maior. Dias depois, na sede da Sociedade de Estudos Psíquicos, no arrabalde de Saint-Martin, apanhou nas mesmas condições um trapo negro, muito comprido, fortemente impregnado de um cheiro de rosa e sândalo combinados, que se fazia sentir em certos momentos nas sessões e que o médium pretendia ser proveniente dos Espíritos. Mais de vinte testemunhas, em resumo, verificaram as fraudes, em sessões ulteriores.[ii] O compromisso formal que haviam tomado de observar o regulamento foi o que unicamente as impediu de desmascarar o culpado.
Tendo os “Annales des Sciences Psychiques” denunciado tais artifícios, julguei dever a meu turno intervir, para salvar as nossas responsabilidades e a de uma causa comprometida por essas divulgações,[iii] com o que pôde ficar o público inteirado de que os espíritas não se deixam ludibriar e sabem discernir a verdade da impostura. Denunciar, com efeito, as fraudes, onde quer que se produzam, é o meio mais seguro de fazer desacoroçoar os seus autores.
Procedendo como o fiz, desempenhei uma tarefa ingrata, mas necessária, que me valeu a aprovação das pessoas honestas. Se, de um lado, fui alvo de críticas malévolas, do outro recebi elevados e calorosos aplausos. Um eminente psiquista, que ocupa saliente posição na magistratura, escreve-me a tal respeito:
“Paris, 8 de abril de 1910.
Admirei vossa coragem no incidente M., porque adivinho quanto deveis ter sofrido, sendo obrigado a protestar.
Fizestes bem e vos revelastes mais uma vez o homem sincero e honrado que de fato sois. Sei que certos grupos ficaram um tanto descontentes convosco, mas cumpristes um dever, expelindo “os mercadores do templo”. O que lança o desprestígio no movimento de que sois um dos mais respeitáveis chefes é justamente a cegueira de certos grupos que, com a sua indiferença pela sinceridade dos fenômenos, favorecem os médiuns fraudulentos e os que se rejubilam com tais fraudes.
No que me diz pessoalmente respeito, estou convosco. Desde as primeiras sessões me foi patente a fraude de M., e compreendi facilmente os seus processos, que são grosseiros. Nada articulei publicamente, em atenção às pessoas que me acolhiam em sua casa, tendo-me, ao demais, M. prometido sessões sérias. Mas não cumpriu a promessa.”
Como epílogo desses fatos, os espíritas, reunidos no Congresso Internacional de Bruxelas, em maio de 1910, aprovaram a seguinte moção:
“O Congresso Espírita de Bruxelas, impressionado com as fraudes numerosas e repetidas que se têm produzido.nas sessões efetuadas, na obscuridade, por médiuns profissionais, impressionado com o prejuízo moral que assim causam à Doutrina:
Convida os grupos de estudos e os experimentadores que procuram os fatos de ordem física, os transportes e os fenômenos de materialização, a só admitirem sessões obscuras ou à meia-luz em condições de rigorosa verificação;
Recomenda especialmente, que sejam as mãos e os pés dos médiuns seguros por dois assistentes experimentados, enquanto durar a sessão, ou que seja isolado o médium por meio de um fio tenso e sem solução de continuidade; ou ainda, que seja ele metido numa jaula cuidadosamente fechada e cuja chave fique em poder de uma pessoa de confiança;
As sessões à meia-luz são muitíssimo preferíveis, por serem os fenômenos verificados por todos os assistentes. Com isso deve contentar-se um médium bem dotado, ao passo que se torna suspeito quando exige a obscuridade, embora esta aumente a força física, porque pode fazer recear que dela se aproveite para fraudar, o que tem ocorrido em certos casos. Cumpre satisfazer-se com resultados menores, porém mais seguros;
O Congresso dirige, além disso, uma instante exortação aos médiuns honestos e desinteressados. Pede-lhes que intensifiquem o zelo por bem servir uma verdade sagrada, verdade comprometida por desbriados simuladores, e lhes recorda que, se a fraude acarreta uma justa e severa reprovação, a dedicação e a sinceridade, ao contrário, lhes granjeiam a estima e o reconhecimento de todos, bem como a assistência das elevadas Inteligências invisíveis, que velam pelo progresso de nossas crenças neste mundo.”
Há – dissemos – fraudes inconscientes, que se explicam pela sugestão. Os médiuns são extremamente sensíveis à ação sugestiva, tanto dos vivos como dos desencarnados.[iv] O estado de espírito das pessoas que tomam parte nas experiências reage sobre eles e exerce uma influência que os médiuns não distinguem, mas que é às vezes considerável.
Médiuns perfeitamente honestos e desinteressados confessam que são impelidos à fraude, em certos meios, por uma força oculta. Na maior parte, resistem a tais sugestões, prefeririam renunciar ao exercício de suas faculdades a se deixarem arrastar por esse resvaladouro. Alguns cedem a essas influências; e um momento de fraqueza bastará para levantar dúvidas sobre todas as experiências em que houverem figurado.
Certas fraudes, verificadas com diversos médiuns, podem ser atribuídas a sugestões exteriores, quer humanas, quer espíritas. Às vezes coincidem e se combinam as duas influências. Os cépticos mal-intencionados são secundados por auxiliares do Além. E então o poder sugestivo será tanto mais irresistível quanto mais impressionável for o médium e estiver mais profundamente imerso no transe e insuficientemente protegido. Vê-se a que perigos está este exposto; em certas sessões, mal constituídas, mal dirigidas, pode tornar-se vítima das forças exteriores combinadas. Não era esse o caso do médium M., de que acabamos de falar e que consigo trazia o filó e os outros objetos necessários às simulações. A premeditação era nele evidente; os artifícios eram calculados, previamente preparados.
Acontece que o médium, principalmente o médium escrevente, se sugestiona a si mesmo e, num impulso automático, escreve comunicações que abusivamente atribui a Espíritos desencarnados. Essa auto-sugestão é uma espécie de indução do “ego” normal ao “ego” subconsciente, que não é um ser distinto, como vimos precedentemente, mas uma modalidade mais extensa da personalidade. Nesse caso, com a mais perfeita boa-fé, o médium responde a suas próprias perguntas; exterioriza seus pensamentos ocultos, seus próprios raciocínios, os produtos de uma vida psíquica mais intensa e profunda. Allan Kardec, Davis, Hudson Tuttle, Aksakof, etc., ocuparam-se em suas obras dessa categoria de médiuns, que o Sr. Delanne denomina “automatistas”. Diz ele: [v]
“O automatismo da escrita, o esquecimento imediato das idéias enunciadas, que incute no escrevente a ilusão de estar sob a influência de uma vontade estranha, a personificação das idéias, as noções que jazem na memória latente, as impressões sensoriais inconscientes, todos esses fatos se compreendem e têm sua explicação em causas reconhecidas no estudo mais completo da inteligência humana, e de modo algum supõem a necessidade de intervenção dos Espíritos.”
A credulidade ilimitada e a ausência de todo princípio elementar de verificação, que predominam em certos meios, favorecem e alimentam esses abusos. Há, em diversos países, grupos espíritas ingênuos, em que pseudomédiuns automáticos escrevem extensas elucubrações sob a inspiração de Santo Antônio de Pádua, de S. José, da Virgem. Ou ainda neles se incorporam Sócrates e Maomet, que em linguagem vulgar vêm declarar mil absurdos a ouvintes extasiados, proibindo-lhes ler e instruir-se, a fim de os subtrair a toda influência esclarecida, a toda averiguação séria.
Em tais meios, já não têm conta as mistificações. Conheci um jardineiro corajoso que, a conselho de um Espírito, ia cavar, à meia-noite, num sítio deserto, um enorme buraco, à procura de um imaginário tesouro. Uma senhora de 55 anos, muito devota, esposa de um oficial reformado, levava a ingenuidade a ponto de preparar o enxoval de uma criança que ela devia dar à luz, e que seria a reencarnação do Cristo – diziam seus instrutores invisíveis. Uns vêem por toda parte a intervenção dos Espíritos, até mesmo nos fatos mais triviais. Outros consultam os invisíveis sobre as menores particularidades da vida, sobre seus negócios comerciais e suas operações na Bolsa.
Atribuem-se geralmente essas aberrações a Espíritos embusteiros. Sem dúvida, as mistificações de além-túmulo são freqüentes; explicam-se facilmente pelo fato de se perguntarem muitas vezes aos Espíritos coisas que eles não podem ou não querem dizer. Fazem do Espiritismo um meio de adivinhação e atraem, com isso, Espíritos levianos. Não raro, porém, cabe à sugestão mental uma grande parte em tais embustes.
É por isso que no domínio arriscado, e tantas vezes obscuro, da experimentação, cumpre examinar, analisar as coisas com sereno critério e extrema circunspeção, e só admitir o que se apresenta com um caráter de autenticidade perfeitamente definido. O nosso conhecimento das condições da vida futura, como o próprio Espiritismo, assenta sobre os fenômenos mediúnicos. Convém estudar seriamente estes e eliminar inflexivelmente tudo o que não traga o cunho de uma origem extra-humana. É preciso não substituir, a pretexto de progresso, a incredulidade sistemática por uma cega confiança, por uma credulidade ridícula, mas separar com cuidado o real do fictício. Disso está dependendo o futuro do Espiritismo.
Abordemos agora uma questão extremamente delicada: a da mediunidade profissional. Pode a mediunidade ser retribuída? ou deve ser exercida com desinteresse absoluto?
Notemos antes de tudo que a faculdade mediúnica é, por natureza, variável, inconstante, intermitente. Não estando os Espíritos às ordens nem à mercê dos caprichos de ninguém, nunca se está de antemão seguro do resultado das sessões. Pode o médium estar indisposto, mal preparado, e a assistência mal composta, no ponto de vista psíquico. Por outro lado, a proteção dos Espíritos adiantados não se conforma de modo algum com esse fato do Espiritismo a preço fixado. Por isso, o médium profissional, aquele que se habituou a viver do produto das sessões, está exposto a muitas decepções. Como fará ele dinheiro de uma coisa cuja produção jamais é certa? Como satisfará os curiosos, quando os Espíritos não atenderem ao seu chamado? Não será tentado, mais dia menos dia, quando forem numerosos os assistentes e sedutora a perspectiva do ganho, a provocar fraudulentamente os fenômenos? Aquele que uma vez resvalou por esse declive dificilmente conseguirá voltar atrás. É levado a empregar habitualmente a fraude e cai pouco a pouco no mais desbragado charlatanismo.
Os delegados americanos ao Congresso Espírita de 1900, em Paris, entre outros, a Sra. Addi-Balou, declararam que mediunidade profissional e os embustes a que dá ensejo têm sido há alguns anos motivo de retrogradação e descrédito para o Espiritismo nos Estados Unidos. A melhor garantia de sinceridade que pode um médium oferecer é o desinteresse. É também o meio mais seguro de obter o auxílio do Alto.
Para conservar seu prestígio moral, para produzir frutos de verdade, deve a mediunidade ser praticada com elevação e desprendimento, sem o que se torna uma fonte de abusos, instrumento de contradição e desordem, de que se utilizarão as entidades malfazejas. O médium venal é como o mau sacerdote, que introduz no santuário suas paixões egoísticas e seus interesses materiais. A comparação não é destituída de propriedade, porque também a mediunidade é uma espécie de sacerdócio. Todo ser humano distinguido com esse dom deve preparar-se para fazer sacrifício de seu repouso, de seus interesses e mesmo de sua felicidade terrestre; mas, assim procedendo, obterá a satisfação de sua própria consciência e se aproximará de seus guias espirituais.
Mercadejar com a mediunidade é dispor de uma coisa de que se não é dono; é abusar da boa-vontade dos mortos, pô-los ao serviço de uma obra indigna deles e desviar o Espiritismo do seu fim providencial. É preferível para o médium procurar noutra parte os meios de subsistência e só consagrar às sessões o tempo que lhe ficar disponível. Com isso ganhará em estima e consideração.
Cumpre, todavia, reconhecer que médiuns públicos e remunerados têm prestado reais serviços. As pessoas que só dispõem de modestos recursos pecuniários nem sempre podem atender aos convites dos sábios, ausentar-se, empreender viagens, como o exige o interesse da causa que servem.
A esse respeito, Stainton Moses, que foi um experimentador consciencioso e um excelente juiz em tal matéria, diz o seguinte:[vi]
“Alguns dentre os médiuns públicos não vêem mais que os lucros a auferir e nem sempre recuam diante das fraudes para alcançar seus fins. Muitos há, entretanto, dos quais só se pode dizer bem e que são muitíssimo úteis. Nove vezes sobre dez, os que em tão grande número a eles se dirigem, incapazes de compreender e acompanhar uma experiência científica, unicamente exigem que em troca dos dez francos que pagam se lhes dê a prova da imortalidade. A multidão esgota rapidamente as faculdades do médium que, para não fazer fiasco, cede à tentação de recorrer à fraude. Apesar dessas detestáveis condições, fiquei muitas vezes admirado dos resultados obtidos e das magníficas provas fornecidas”
Que deduzir de tudo isso? É que haja uma justa medida, que o médium consciencioso, esclarecido acerca do valor de sua missão, pode facilmente observar. Se, em certos casos, é obrigado a aceitar uma indenização pelo tempo consumido e as excursões efetuadas, que o seja em limites de não comprometer sua dignidade neste mundo e sua situação no outro. O uso da mediunidade deve ser sempre um ato grave e religioso, isento de todo caráter mercantil, de tudo que a possa amesquinhar e deprimir


Léon Denis

No Invisível




[i]    O “Banner of Light”, de Boston, de 5 de agosto de 1899, anuncia ter-se descoberto a trama de uma vasta associação entre certos médiuns profissionais, para exploração do público espiritualista. Essa associação dirigiu a todos os médiuns daquela natureza uma circular, oferecendo uma série de aparelhos destinados a imitar as manifestações espíritas, com indicações dos preços, de 1 a 5 dólares”.
[ii]   Vide “Revue Spirite”, fevereiro e abril de 1900.
[iii]   “Annales des Sciences Psychiques”, dezembro de 1908.
[iv]   Essa ação já não é quase contestada nos círculos intelectuais superiores. “A ciência oficial – diz o professor Falcomer – ensina atualmente que um sensitivo pode enganar por sugestão mental proveniente de outrem.” (Phénoménographie”, pelo professor Falcomer.) Ver “Revue Spirite”, 1903, pág. 173.

[v]    Gabriel Delanne – “Investigações sobre a mediunidade”, pág. 185.
[vi]   Stainton Moses (aliás Oxon), “Spirit Identity”. “Revue Scientifique et Morale”, janeiro de 1900, pág. 397.

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