TEXTOS INTRODUTÓRIOS
LÉON DENIS
DEPOIS DA MORTE
EXTRAÍDOS DA OBRA
HENRI REGNAULT - A MORTE NÃO EXISTE
(Com base nas Obras de Léon Denis)
“Depois da Morte” é a primeira obra importante de Léon
Denis. Como todas elas, já foi traduzida em várias línguas.
No Congresso de 1889, Léon Denis foi nomeado
Presidente da Comissão de Propaganda. Ele tomou como Secretário, Henri Sausse;
este lhe aconselhou fazer uma síntese do ensino espírita e um resumo da obra de
Allan Kardec.
Léon Denis pensou no conselho e escreveu “Depois da
Morte”, verdadeira obra prima, tanto do ponto de vista literário puro como no
que concerne à exposição de nossa Doutrina.
Publicado em 25 de dezembro de 1890, “Depois da Morte”
foi bem acolhido pela critica.
G. d'Hailly escreveu, na “Revue des Livres Nouveaux”:
“Entre as obras que ti nesta semana não encontrei uma
com bem maior soma de condições morais que a de Léon Denis: depois da Morte”.
Ainda não conhecia obra mais bem pensada, nem livro
num estilo mais correto e mais elevado.
Talvez eu seja um pouco cético em relação ao
Espiritismo, embora haja razões que me inclinem a uma aceitação. Entretanto,
não conheço doutrina mais consoladora, mais reconfortante, mais digna de
respeito.
O belo livro de Léon Denis nos pretende dar a solução científica e racional dos problemas da vida e da morte, da Natureza e do
destino do ser humano e nos demonstra a existência e a razão das vidas
sucessivas.
Li e reli seu livro, que encheu minha alma de alegria
e, se as coisas são assim, só posso louvar a Previdência Divina.”
“Le Temps” publicou:
“Esse volume é realmente notável, possui todas as
qualidades que lhe podem garantir o sucesso.
Embora eminentemente clássico, profundo e sério, suas
páginas brilham com uma luz viva e são impregnadas de uma ardorosa eloquência.
Como seu título indica, trata do formidável problema
do destino humano, dando uma solução para essa questão bastante controvertida
durante todos os tempos: o porquê da vida.
Problema árduo, em verdade, porém, tratado com um tal
encanto de estilo e de evolução que, em todo o livro, não se encontra uma
página sequer com uma leitura fatigante ou desprovida de interesse.
Dando, em “Le Journal”, sua apreciação sobre esse
livro, Alex Hepp se exprimia assim, em 26 de janeiro de 1899:
“Há um homem que escreveu o mais belo, o mais nobre e
o mais precioso livro que jamais li. Seu nome é Léon Denis e seu livro, “Depois
da Morte”.
Leiam-no e uma grande piedade, porém, libertadora e
fecunda, virá bruscamente de nossas manifestações de tristezas, de nosso medo
da morte e de nosso grande pesar por aqueles que supomos perdidos”
Em “Depois da Morte”, o leitor encontra, notadamente,
a história das religiões, o estudo dos grandes problemas, o do mundo invisível,
a maneira pela qual, segundo as comunicações, podemos ter uma ideia da vida no
Além, o reto caminho, etc.
Desejando fazer um resumo do Espiritismo, o autor
estudou como os homens conheceram nossa Doutrina e quais podem ser suas consequências: (26)
(26) “Depois da Morte”, Léon Denis, 324
milheiro, pág. 6.
“Dessas buscas, desses estudos, dessas descobertas se
destacam uma concepção do mugido e da vida, um conhecimento das leis
superiores, uma afirmação da justiça e da ordem universais, bem feitas para
despertar no coração do homem, com uma fé mais segura e mais esclarecida do
futuro, um sentimento profundo de seus deveres, um interesse real por seus
semelhantes, capazes de transformar a face das sociedades.”
Esse livro, escrito sem nenhuma pretensão pessoal de
sucesso, é destinado aos que estão cansados de viver na cegueira,aos filhos e
às filhas do povo.
O único objetivo de Léon Denis é prestar serviço aos
humildes e aos infelizes.
Ele se revolta que ainda se possa, atualmente, morrer
de frio e de miséria e prova que as bases de nossa Doutrina são unicamente o
testemunho dos sentidos e a experiência da razão.
Para comprovar a antiguidade do Espiritismo, que
apresenta uma nova aparição de fenômenos, existentes desde o começo do mundo,
ele faz resumo bem nítido, rápido, porém, completo, da história das religiões.
As religiões são muitas, em nosso globo, nas suas
formas e aparências, mas, quando se vai ao fundo das coisas, percebe-se que seu
esoterismo, isto é, à parte reservada só aos iniciados, comporta uma doutrina
única, superior e imutável, sempre a mesma em todas. as latitudes.
Léon Denis consagra a morte muitas páginas, esparsas
em sua obra.
Que é, realmente, a morte? Na introdução, o autor já
propõe a questão.
Este problema, diz ele, interessa a todos, pois todos
estamos sujeitos à lei.
Importa-nos saber se, nessa hora, tudo acabou, se a
morte é apensa um calmo repouso no aniquilamento ou, ao contrario, a entrada em
uma outra esfera de sensações.
A morte é o ponto de interrogação, incessantemente
posto diante de nós, a primeira das questões à qual se ligam inúmeras questões,
cujo exame faz a preocupação, o desespero das Idades, à razão de ser de uma
multidão de sistemas filosóficos.
Muitos não querem ouvir falar da morte.
Pode-se viver sem preocupações, quando se tem a chance
aparente de ser rico, mas isso não basta para impedir que a morte venha, no
momento certo.
Dizendo: “Pode-se essas questões são macabras, não me
quero ocupar dessas coisas”, podemos nos distanciar de uma segunda chegada da
morte?
Se a morte é uma coisa terrível, não é melhor,
entretanto, conheça-la?
Quando o estado de saúde de uma criança é bastante
mau, para necessitar, na aparência, de uma intervenção cirúrgica, a
responsabilidade dos pais é tanto mais séria quanto o pequeno venha a sofrer
desta decisão, sem poder opinar; antes de aceitarem a operação, o pai e a mãe
se encontram diante dessa questão angustiante: “Qual resultado vamos obter?
Convém ou não operar?”
Com efeito, a morte pode ser comparada a uma operação,
porém, uma operação que será obrigatória, num momento desconhecido.
É, portanto, indispensável conhecer, antes, o que é o
destino de todos os humanos; convém, pois, estar sempre preparado para
enfrentá-la, quando aparecer.
Diz-nos Léon Denis:
A morte não é outra coisa que uma transformação
necessária, uma renovação. Em realidade, nada morre. A morte é aparente.
Somente a forma exterior muda; o principio da vida, a
alma, continua em sua unidade permanente, indestrutível. Ela se encontra no além-túmulo,
ela e seu corpo fluídico, na plenitude de suas faculdades, com todas as
aquisições; luzes, aspirações, virtudes, poderes de que se enriqueceu durante
suas existências terrenas.
Eis os bens impere cíveis de que fala o Evangelho;
quando diz: “Nem os vermes, nem a ferrugem os consumirão e nem os ladrões os
roubarão”.
São as únicas riquezas que podemos levar conosco, para
utilizar na vida futura.”
“A morte é a grande reveladora. Nas horas de
provações, quando escurece em nosso derredor, por vezes perguntamos: Por que
isto? Por que não permaneci na noite profunda, onde nada se sente, não se
sofre, onde se dorme o sono eterno?
E, nessas horas de dúvida, de agonia, de desanimo, uma
voz subia até nós e dizia: Sofra para crescer e para resgatar! Saiba que o destino
é grandioso.
Esta fria terra não será o seu sepulcro. Os mundos que
brilham no fundo dos céus são suas futuras moradas, a herança que Deus lhe
reserva.
Você é, para sempre, cidadão do Universo, pertencendo
aos séculos futuros como aos séculos passados e, no presente, prepara sua
evolução.
Suporte, pois, com calma, os sofrimentos que você
mesmo escolheu.
Semeie, na dor e nas lágrimas, o grão que brotará em
suas próximas vidas; semeie também para os outros, como os outros semearam para
você!
Espírito imortal, avance com passo firme para as
alturas de onde o futuro lhe aparecerá sem véus.
A subida é rude e o suor inundará muitas vezes seu
rosto, porém, do alto verá despontar a grande luz, verá brilhar, no horizonte,
o sol da verdade e da justiça!” (27)
(27) “Depois da Morte”, Léon Denis, 32º
milheiro, pág. 176 e seguintes. (Edição francesa)
Os leitores da obra de Léon Denis conhecem, pois,
exatamente, a morte; não mais temem as manifestações espontâneas dos fantasmas.
Eles não se assemelharão ao herói de um conto de Guy de Maupassant, intitulado
“Apparition”. (28)
(28) “Claire de Lune”, Guy de Maupassant,
pág. 42, Editora Flammarion.
Eis a análise:
Cinqüenta e seis anos após uma aventura contada por
ele a alguns amigos, o Marqués de la Tour Samuel tremia ainda com a ideia do
que se produziu uma só vez no curso de sua vida.
Ele guardou desse acontecimento uma lembrança do medo
e, todavia, como oficial de carreira, teve muitas vezes de demonstrar sua
bravura.
Na guarnição de Rouen, ele havia encontrado um amigo
de juventude e ficou surpreso com sua aparência envelhecida: demonstrava em seu
rosto traços indeléveis de grande sofrimento causado pela morte de sua esposa.
Tendo encontrado nela a felicidade perfeita, tivera a tristeza de perdê-la,
subitamente, e não podia consolar-se.
Jamais tivera a coragem de retornar a uma propriedade
onde vivera com a esposa, nas cercanias de Rouen.
Encantado em reencontrar um velho colega em quem
depositava plena confiança, o desesperado lhe disse:
- Não posso mais voltar àquele lugar, isso me faz
sofrer. Você quer ir lá? Não é longe. Você irá ao meu quarto, abrirá a
secretária. Aqui tem a chave; e apanhará os papéis de que tenho necessidade.
Para você é um passeio a cavalo, de apenas alguns quilômetros. Pode me prestar
esse favor?
O Marqués aceitou e se dirigiu à propriedade de seu
amigo: quando lá chegou, o caseiro ficou espantado com a decisão do Marqués de
entrar na peça designada. O oficial não atribuiu importância à admiração do
vigia da propriedade, mas a verdade é que, quando penetrou no quarto, que
exalava o odor característico dos lugares abandonados pelos vivos, sentiu uma
emoção incompreensível.
Estando sentado diante da secretária para dali apanhar
os papéis pedidos por seu amigo, teve a sensação de que andavam atrás dele;
voltou-se e viu uma mulher, um fantasma. Apesar de sua bravura, tremeu. Tinha a
impressão de que essa morta ia lhe falar, tocá-lo, lhe pedir alguma coisa.
Teve forças para apanhar rapidamente os documentos,
depois se livrou desse lugar mal-assombrado. (29)
(29) Nota da Editora: Este fenômeno está
bem estudado em “O Livro dos Médiuns”, Capítulo IX.
Para retornar a Rouen, galopou como um louco.
Diante do amigo, tomou consciência de si mesmo e tirou
sua túnica de oficial, mas teve a surpresa de nela ver enrolados, em volta de
um botão, alguns longos cabelos.
Se o herói de Guy de Maupassant tivesse conhecido o
Espiritismo, teria fugido?
Não, pelo contrário, ele tentaria saber os motivos
dessa manifestação e, sem dúvida alguma, teria podido prestar um bom serviço,
porque o Espiritismo é maravilhoso. Não somente permite dar consolo aos vivos,
mas ainda estende aos mortos benefícios numerosos:
No entretanto, o Marquês de La Tour Samuel não
conheceu nossa Doutrina.
Assim, aos 82 anos, 56 anos após sua trágica aventura,
apesar das provas dos cabelos enrolados num botão de seu uniforme, ele ainda
considerava o fato como uma crise de loucura, um “segredo vergonhoso, uma
lamentável fraqueza” que somente sua idade lhe permitia revelar a seus amigos.
Lendo “Depois da Morte”, aprendemos coisas bem
importantes; citarei, por exemplo, o que é magnetismo, como se pode servir de
seu fluido, quais os sábios e quais os grandes homens que aceitaram o
Espiritismo; quais objeções são feitas e as respostas que permitem mostrar aos
contraditores quanto eles estão errados.
Coisa interessante: todas às vezes em que se trata de
refutar objeções, Léon Denis emprega argumentos; jamais utiliza insultos.
Os franceses gostam de ler jornais que tem por
objetivo fazer polêmica entre uns e outros. Quando se trata de choques de ideias, está certo; infelizmente, há com frequência choques de pessoas.
De minha parte, abandono sistematicamente todo artigo
e toda obra nos quais alguém, para demonstrar a realidade de sua tese, insulta
os que pensam diferentes.
Quando se procura transmitir suas convicções aos
outros, é bom ter à sua disposição argumentos, fatos e experiências e não
injúrias.
A teoria da reencarnação só é esquematizada em “Depois
da Morte”. Ela será estudada, profundamente, em outras obras e,
particularmente, em “O Problema do Ser e do Destino”.
Lendo “Depois da Morte”, aprendemos igualmente como se
pode adquirir vontade e dela se utilizar, para sermos felizes neste mundo.
Léon Denis não receia atrair a atenção de seus
leitores sobre os perigos do Espiritismo: que, de resto, podem parecer um pouco
bizarros, mas existem. A esse propósito, lembro-me de uma pequena história:
Certa vez, na sala de Geografia, numa reunião da
“Phalange”, veio a mim um homem, aparentando uns 40 anos. Em lágrimas, ele me
diz:
- Ah! se o senhor soubesse que desgraça; meu filho
morreu. Desde sua morte, temos em mãos uma pequena brochura que trata de como
fazer girar as mesas.
Desde a morte de meu filho, minha mulher deseja estar
certa de que ele não está verdadeiramente morto. Ela quis colocar as mãos sobre
a mesa e conseguiu movimento, porém, depois pareceu louca. Não se pode deixá-la
sozinha, porque quer se jogar pela janela, pois acha que escuta vozes que lhe
ordenam se matar.
Eu vi, logo, de que se tratava: ou era autossugestão,
ou um envolvimento, por obsessão de um mau espírito.
Pedi a esse homem, para levar sua esposa à minha casa,
sem a prevenir de que eu estava sabendo de seu estado. Isso me permitiu
estudá-la à vontade. Pude diagnosticar bem claramente uma obsessão.
Esse homem tinha grande confiança em mim e me pediu
para tentar curar sua esposa. (30)
(30) Todas às vezes em que me ocupo de
tratamento psíquico, que se trata de sofrimentos físicos, de obsessões, de
possessões, eu recuso qualquer retribuição; trato com o mais total
desinteresse.
Em três semanas consegui restituir àquela mulher toda
a sua razão, e desembaraçá-la daquela obsessão.
Para obter esse resultado não usei gestos ou palavras
rudes porque é pela persuasão que se consegue esclarecer os espíritos
obsessores sobre aquilo em que estão errados. E preciso também explicar aos
obsidiados a necessidade de perdoar a seus perseguidores invisíveis e pedir a
proteção de seus guias. Este é um ponto bem delicado.
Os perigos da prática do Espiritismo são reais.
Leitores, se vocês tiverem a intenção de praticar em
nossa Doutrina, não se atrevam a fazer experiências sem terem, antes, estudado
o Espiritismo.
Quando são discutidas essas questões eu faço, frequentemente, uma comparação que me parece de natureza a bem impressionar a
imaginação de meu interlocutor.
Eu o conduzo a ver comigo, pela imaginação, uma usina
de explosivos.
Ele teve em tempos passados algumas vagas noções de
física e química, esquecidas depois que as exigências da vida o afastaram dos
estudos.
Essa usina é bem interessante; é, também, bem curiosa:
mistura-se um pouco de pólvora, um pouco de outro produto, coloca-se isso num
pequeno tubo e, quando há um choque, obtém-se a explosão destruidora.
Meu interlocutor está cativado; ele decide experimentar
fazer o mesmo.
Antes de entrar em casa, vai a um droguista.
Sua memória lhe permite lembrar-se que é preciso
colocar um pouco de tal produto, um pouco mais daquele outro, porém ele não se
lembra mais de todas as medidas e é precisamente isto, o essencial. Que arrisca
ele realizando a experiência?
Ou não produzirá o explosivo e terá perdido seu tempo,
ou então conseguirá um explosivo perigoso que não saberá controlar, com o qual
poderá provocar uma catástrofe, matar seus vizinhos, semear a ruína e o pânico
em seu derredor.
Sem dúvida, seria difícil encontrar uma criatura
bastante imprudente para querer fazer um explosivo, sem ter, antes, estudado a
fundo essa matéria, porque ai há um perigo bem aparente.
Quantas pessoas tenho encontrado que me dizem:
- Ah! Você se ocupa com essas coisas! Eu também me
divirto, fazendo as mesas girarem.
Tais divertimentos são perigosos; por ser invisível e
desconhecido da maioria, o perigo da experimentação psíquica realizada sem
preocupações, não é menos real.
Aos olhos de Léon Denis, essa questão dos perigos do
Espiritismo é muito séria. Ele julgou necessário, em sua primeira obra,
indicá-los muito claramente, consagrando um capítulo especial a esse problema
(31). Ele havia compreendido a necessidade absoluta de atrair a atenção de seus
leitores sobre os perigos de uma experimentação irresponsável.
(31) “Depois da Morte”, Léon Denis, 314
milheiro, pág. 147 e seguintes. (Edição francesa)
Assinalo, igualmente, um possível inconveniente: as
pesquisas, nesse domínio, são atraentes, mas é preciso não se entregar, sem
reservas, à experimentação. Não se deve abandonar a vida normal, material, para
se consagrar unicamente a questões que não devem ser um meio de ganho.
Portanto, não convém experimentar, antes de se estar
suficientemente preparado para fazê-lo sem imprudência.
Quando se experimenta, deve-se guardar todo o senso
crítico. Nunca se deve aceitar um fenômeno como uma emanação do Além, sem ter
tentado encontrar uma explicação humana.
Para se entregar, seriamente, a pesquisas espíritas e
psíquicas, é indispensável experimentar com perseverança, com tenacidade, com
regularidade.
Se quiser constituir um grupo, é preciso que ele se
reúna em dia e hora certos, no mesmo local, sempre com o mesmo número de
pessoas, não se permitindo estranhos em suas reuniões.
Tenho dado, frequentemente, o conselho de Allan Kardec
para a criação do que ele chama de Grupo Familiar.
Meu excelente amigo Marty, colega da Comissão da União
Espírita Francesa, também pensa assim e temos ambos obtido notáveis resultados.
Dedico uma particular importância ao capítulo da
provação.(32) Constantemente ouço confidência de desesperados, aliás, são
numerosas as pessoas acossadas pelos males físicos, materiais ou morais.
(32) “Depois da Morte”, Léon Denis, 314 milheiro,
págs. 174 e seguintes. (Edições francesas)
Sempre aconselhei meus interlocutores e meus
correspondentes a lerem ou relerem as páginas consagradas por Léon Denis a
explicar porque sofremos neste mundo.
Muitas são, em meus arquivos, as cartas daqueles para
os quais essa medicina moral foi eficaz.
Em 23 de outubro de 1927, realizava, na Sala de
Geografia, na União Espiritual, uma conferência sobre a obra de Léon Denis e
aconselhava a meus ouvintes que adquirissem logo “Depois da Morte” e lhes
dizia, finalizando:
“Meus amigos... desejo que todos sejam bem felizes,
para não terem nunca necessidade da consolação pregada pelo Espiritismo.
Alguns, dentre vós, estão de luto. Eu gostaria de ter
podido, no momento da cruel separação física, oferecer-lhes uma valiosa
consolação em nossa Doutrina.
Se, atualmente, estais felizes, talvez não o estejais
numa outra ocasião.
Pensai com Léon Denis, não deixeis de ler logo “Depois
da Morte” e aproveitai essa preciosidade.
Uma dona de casa previdente tem sempre, em sua dispensa,
algumas conservas que lhe permitam improvisar uma refeição, se alguns amigos
aparecerem de surpresa. Uma mulher prevenida tem sempre, em sua farmácia
doméstica, os medicamentos que possibilitem os primeiros socorros, em caso de
acidente ou de doença.
Imitai essas pessoas prudentes e tende sempre ao
alcance da mão esse livro que contém todas as possibilidades de tornar-vos
felizes.”
Dois dias depois, eu recebia uma nova comprovação do
poder dessa obra.
“As livrarias, ontem à noite, estavam fechadas,
escreveram-me, e só na manhã seguinte pude seguir seu conselho. Li e reli a
página 174 e as seguintes.
É bem verdade! Quando uma profunda tristeza e um
sofrimento bem vivo nos tenham dominado, essas linhas sublimes nos devolvem o
gosto de viver.”
Dificuldades de todas as sortes não me tem poupado.
Por vezes, a luta parece tornar-se impossível, com tudo sombrio em meu derredor
e fico tentado em me deixar abater. Então, releio o capítulo que Léon Denis
consagrou às provações e tudo volta ao normal.
Em 1923, eu acabara de sofrer um choque moral
espantoso que me permitiu constatar, por mim mesmo, a eficácia dos remédios que
aconselho aos outros. As exigências do jornalismo me haviam obrigado a ir ao
Havre e, aproveitando uma hora de folga, fui me isolar numa praia, tendo comigo
“Depois da Morte” e também “Os Grandes Iniciados” de meu eminente amigo Edouard
Schuré, que eu não tinha ainda a alegria de conhecer pessoalmente.
Eu estava realmente deprimido e lamentava não ter o
direito de me destruir, como pensava quando era materialista.
Abatido ao extremo, não podia afastar meu pensamento
do assunto de minha profunda depressão, envolvia-me na desgraça, tudo era
sombrio em minha volta. Pressentia todas as catástrofes e a vida me parecia
para sempre terminada.
Todavia, o hábito de cultivar minha vontade, me ajudou
a ter a necessária energia para retomar contato com Léon Denis e Edouard
Schuré.
Quando pude livrar-me de minhas preocupações, seguindo
o pensamento do autor espírita, estava salvo.
Recobrei confiança, senti o auxílio de meus amigos
invisíveis e me lembrei de que o único meio de ser realmente feliz é
esquecer-se de si mesmo para trabalhar pela felicidade dos outros.
Léon Denis se alegra em repetir que todas as suas
obras foram inspiradas pelos Espíritos:
“Uma única ambição nos anima, desejamos que, quando
nosso corpo já gasto retorne a sepultura, nosso espírito imortal possa afirmar:
minha passagem no mundo não foi estéril, se pude contribuir em pacificar uma
única dor, em esclarecer uma única inteligência em busca da Verdade e em
reconfortar uma alma cambaleante e triste.” (33)
(33) “Depois da Morte”, Léon Denis, 324
milheiro, pág.7. (Edição francesa)
Pouco importa se ele era bastante modesto para não se
ocupar com essas contingências terrestres. Antes de tudo, ele queria o bem de
seus leitores.
Seu desejo foi amplamente atendido e ele teve a imensa
alegria, durante sua vida, de ter inúmeros testemunhos da feliz eficácia de
suas obras.
Bem hábil seria o estatístico que conseguisse obter o
número dos que, graças à “Depois da Morte”, puderam ser consolados.
O Patriarca do Espiritismo retornou à espiritualidade
e, durante sua longa trajetória, conheceu todas as provações, sem jamais se
deixar abater.
Seus despojos, em gastos por 81 anos de vida terrena,
se decompuseram, lentamente, no solo de Tours, porém, seu espírito (34) plana
nas altas esferas.
34) Em “O Problema do Ser e o Destino”,
pág. 20, Léon Denis escreve: “Chamamos Espírito à alma revestida de seu corpo
sutil”. Emprego o termo Espírito, no mesmo sentido.
Denis deve continuar sua missão, pois, durante sua
recente encarnação, se esmerou em provar que a morte é uma simples evolução e
que continuamos nossa vida, qualquer que seja o lado em que nos encontremos.
Pouco tempo após sua morte, Léon Denis teria se manifestado
em Rochefort-Sur-Mer, no Circulo Allan Kardec. Em “Annales du Spiritisme” (35),
o casal Luce, de Tours, amigos íntimos do Mestre, e Claire Baumard, secretária,
declararam, formalmente, ter reconhecido suas maneiras familiares, sua
linguagem brilhante, impossível de imitar, mesmo que se decorassem certas
passagens de suas obras.
(35) Ver “Annales du Spiritisme”, Rua
Guesdon, 32, Rochefort-Sur-Mer, setembro de 1927.
Houve uma manifestação verdadeira? Nada sei, porém, o
casal Luce confirmou a sua autenticidade.
Conheço, pessoalmente, a senhorita, Brasseaud, médium
do Círculo de Allan Kardec; em 1912, ela produziu escrita direta em ardósia,
sob minucioso controle. (36)
(36) A escrita direta é um fenômeno bem
comprovável. Eis uma das maneiras como pode produzir-se: “Duas ardósias, com
molduras de madeira, são colocadas uma sobre a outra, pondo-se um lápis entre
elas, antes de lacrá-las.
Sem qualquer contato humano, o médium impõe
as mãos nas ardósias e, quando são abertas, nelas são encontradas frases escritas
por um espírito ou pelo fantasma de um vivo”.
Se a comunicação de Léon Denis é autentica, tanto
melhor, porque é uma prova formal de que o grande Apóstolo não estava enganado
em suas afirmativas; se não se trata de uma manifestação de Léon Denis, fato
bem possível, tanto pior, porém, isso não impede que, nos arquivos mundiais do
Espiritismo, se encontrem muitos exemplos bem controlados de manifestações de
mortos, na hora prevista por eles, em vida, e nas condições que haviam
indicado.
Para ser conciliatório em relação àqueles que não
participam de nossas idéias eu aceitaria, a rigor, admitir que os espíritas
estão errados.
Quando vemos o exemplo de Léon Denis, de Gabriel
Delanne e tantos outros, quando constatamos o bem que eles fizeram à Humanidade,
às numerosas criaturas que eles consolaram, temos o direito de pensar: se eles
se enganaram, tanto pior; mais vale esse erro que o de outros teóricos, cujo
ensino produz a dúvida e gera o sofrimento.
Nossa Doutrina ajuda a que vivam bem aos que tem a oportunidade
de conhecê-las e aplicar os seus ensinamentos. Isso não é o mais importante?
FIM
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