30. PALINGENESIA
(Eterno Retorno)
Que vem a ser, neste sistema, o vosso conceito de Divindade? Compreendeis que Deus não pode ser algo mais e exterior
à criação, ou distinto dela; que só o homem que está no relativo pode
acrescentar a si, ou devenir além de si, não Deus, que é o absoluto. Vossa
concepção de um Deus que cria fora e além de si, acrescentando algo a si mesmo,
é absurda concepção antropomórfica, é querer reduzir o absoluto ao relativo.
Não pode haver criação no absoluto. Só
no relativo pode haver nascimento e transformação. O absoluto simplesmente
“é”. Não queirais restringir a Divindade
aos limites de vossa razão; não vos eleveis a juízes e à medida do todo;
não projeteis no infinito as pequeninas imagens de vosso finito; não ponhais
limites ao absoluto. Em sua essência, Deus está além do universo de vossa
consciência, além dos limites de vosso concebível. É irreverência aviltar esse
conceito para querer compreendê-Lo. Constituindo-vos em medida das coisas,
colocais como sobrenatural e miraculoso qualquer fato novo para vossas
sensações, tudo o que exorbite do que sabeis e conheceis. Mas, a natureza é
expressão divina e não pode haver nada acima dela, nenhum acréscimo, nenhuma
exceção, nenhuma correção à Lei.
Sobrenatural e milagre são conceitos
absurdos diante do absoluto, aceitáveis apenas em vosso relativo, aptos a
exprimir vosso assombro diante do que é novo para vós e nada mais. Neles está
contida a idéia de limite e de seu superamento; conceitos inaplicáveis à
Divindade. Esta é superior a qualquer prodígio e o exclui como exceção, como
retorno ao que já está feito, como retoque ou arrependimento e, sobretudo,
como vontade de desordem no equilíbrio da lei estabelecida. Limitai a vós
mesmos esses conceitos e não vos julgueis centro do universo. Guardai para vós
os conceitos de tempo, de espaço, de quantidade, de medida, de movimento, de
perfectibilidade. Não deveis medir a Divindade como medis a vós mesmos; não
tenteis defini-La, muito menos com aquilo que serve para definir-vos a vós
mesmos, por multiplicação e expansão de vosso concebível. Se quereis somar ao
infinito vossos superlativos, dizei ao infinito: isto ainda não é Deus. Seja Deus para vós uma direção, uma
aspiração, uma tendência; seja para vós a meta. Se Deus está no infinito —
inconcebível para vós em sua essência — nosso finito dele se avizinha por
aproximações conceptuais progressivas. Vede como na Terra cada um adora a
representação máxima da Divindade que pode conceber, e como, no tempo, essa
aproximação se dilata. Do politeísmo ao monoteísmo e ao monismo verificais o
progresso de vossa concepção, que é proporcional à vossa força intelectiva e
progride com ela. A luz aparece mais intensa à proporção que o olhar se torna
mais penetrante. O mistério subsiste, mas empurrado cada vez para mais
longínquos horizontes. Por mais que este se dilate, haverá sempre um horizonte
mais afastado para atingir. Ao verificar vossa relatividade que progride, eu
não destruo o mistério, mas o enquadro no todo e dele dou a justificação
racional, torno-o um mistério relativo, que só existe pela limitação de vossas
capacidades intelectivas, que recua continuamente diante da luz, em função do caminho das verdades
progressivas; um mistério fechado dentro dos limites que a evolução ultrapassa dia a dia. Se a divindade é um
princípio que exorbita vossos limites conceptuais, ela lá está a esperar-vos;
para revelar-se, espera vossa maturação. Hoje, que finalmente vossa mente está
amadurecendo, não é mais lícito, como
no passado, “reduzir” aquele conceito a
proporções antropomórficas. Hoje, eu já trouxe ao vosso relativo nova e
maior aproximação; projetei em vossas mentes a maior imagem que as humanidades futuras terão de Deus. Este é um canto mais
alto de sua glória. Isto não é irreligiosidade, mas ao invés, pela maior exaltação
de Deus, é religiosidade mais profunda. Não procureis Deus apenas fora de vós,
tornando-O concreto em imagens e expressões de matéria, mas O “sentis”,
sobretudo , em sua forma de maior poder dentro de vós, na idéia abstrata,
estendendo os braços para o universo do espírito, que vos aguarda.
PIETRO UBALDI

Síntese e Solução
dos Problemas da Ciência e do Espírito.
18ª EDIÇÃO
Tradução de
Carlos Torres Pastorino
e
Paulo Vieira da Silva

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