terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O LIVRO TIBETANO DOS MORTOS


                  (Técnica da Reencarnação)
Consideremos, agora, a teoria da reencarnação sob um ponto de vista que coincide com os precedentes, não obstante sua completa diversidade, e nos dá uma confirmação não só dos particulares, mas, sobretudo da verdade de todo o sistema. E essa confirmação chega-nos bem de longe, tanto no tempo como no espaço. Trata-se de uma antiga tradição do Tibete, o “Livro Tibetano dos Mortos” (Bardo Thödol), traduzido para o inglês pelo lama Kasi Dawa Samdup, que, desse modo, transmitiu ao mundo ocidental parte do ensinamento dos grandes mestres da sabedoria budista do Tibete, especialmente no que diz respeito às experiências “post mortem”, no período da existência como desencarnados, e ao fenômeno da reencarnação. Relembra-nos ele o “Livro Egípcio dos Mortos” e representa um dos elos da grande corrente de homens, religiões e povos, unidos através do tempo e do espaço pela mesma fé na reencarnação. Bastaria o fato inegável de sua difusão no mundo, para constituir uma prova da verdade dessa teoria.

É interessante o “Livro Tibetano dos Mortos”, porque nos mostra de forma cientifica, poderíamos dizer o mecanismo da transmigração, de vez que aí encontram aplicação alguns fatos comprovados pela ciência ocidental. Escolhemos esse livro, entre tantos de sua espécie, porque é o único que trata racionalmente do período de existência entre a morte e o renascimento, baseando-se em dados que têm correspondência no terreno fisiológico e psicológico que a experiência humana pode controlar. E isto está conforme aos ensinos de Buda: “que não se aceite como verdadeira nenhuma doutrina, antes de tê-la experimentado e reconhecido como verdadeira, profanasse ela mesmo das Escrituras”. Assim, a teoria da reencarnação é-nos apresentada nesse livro como uma lei natural, que se harmoniza com todas as outras leis do ser, e o fenômeno como correspondente à grande lei que constitui o próprio princípio da criação, isto é, a potencialidade criadora do pensamento. Co efeito, nós nos construímos a nós mesmos, com os nossos pensamentos, da mesma forma que Deus, com a simples atividade de Seu pensamento, criou o universo. P pensamento é a fonte primeira de tudo. Resulta daí o Karma, pelo qual, o que livremente se semeou, será totalmente colhido mais tarde.

Estabelecido o princípio do poder determinante do pensamento, o resto se desenvolve logicamente. A existência depois da morte é apenas uma continuação da vida, já não mais em condições físicas, mas em condições psicológicas, como conseqüência do fenômeno psicológico que se iniciou na vida terrena. Este lado, que na terra constitui apenas uma parte da vida em função das atividades físicas, passa então a prevalecer e domina todo o campo do ser. Dá-se, assim, uma inversão: a vida não procede mais do exterior para o interior, como percepção por meio dos sentidos, mas procede do interior para o exterior, como projeção das impressões colhidas, armazenadas e assimiladas, pela repetição, em forma de automatismos. Tudo isso se desenvolve canalizado pela lei de causa e efeito com correspondências especificas e proporcionadas do efeito para a causa.
A existência depois da morte é, pois, uma continuação no plano psíquico da vida precedente no plano físico, até o momento em que se retoma um corpo, para continuar o caminho da evolução. A natureza dessa existência de desencarnados é a conseqüência exata, em alegria e dor, e em qualidades de representações mentais da existência material precedente, que por sua vez é a conseqüência de todas as anteriores. E no mundo dos desencarnados a representação mental é tudo. Falando psicologicamente, poderíamos chamar a isso um estado de sonho prolongado, cheio de visões vivíssimas, decorrentes diretamente do conteúdo mental do indivíduo que as percebe.
Não esqueçamos que o ser decaiu no relativo, e vive na grande Mayâ, ou ilusão, isto é, no irreal, quer esteja encarnado ou desencarnado, dado que o real só pode alcançar-se no fim do caminho evolutivo, quando forem reencontrados a perfeição e o absoluto. Nossas percepções, que chamamos luz, som, calor, tato, olfato, etc., são sensações exclusivas da única parte de nosso ser que possui capacidade sensitiva, isto é, o espírito. Objetivamente, de per si, eles não existem, mas unicamente em função dessa capacidade sensitiva apta a percebê-las. Tirai esta e existirão apenas vibrações com determinada freqüência e comprimento de onda. Os sentidos são simplesmente meios de transmissão dessas vibrações, que, recebidas, selecionadas e coordenadas nos centros nervosos, são aí percebidas, lidas e registradas, pela central única, que é o espírito, e nele somente é que se tornam luz, som, calor, etc., como nos a chamamos. Esse estado de ilusão é proporcional ao grau de involução do espírito, que corresponde ao grau de materialidade de sua existência, ou seja, inconsciência, ignorância, profunda imersão no irreal. Quanto mais for involuído o espírito, tanto mais adormecido está ele. Mas pode ser desfeita a grande Mayâ ou com o evolver, desmaterializando a própria forma de vida, aprendendo a cada vez mais perceber de maneira extra-sensória. Nesse caso, também a vida de além-túmulo se torna mais clara; surge e cada dia mais se firma uma capacidade de orientação e de escolha, na grande corrente dos renascimentos, o espírito sempre mais se aproxima da visão real e se torna cada vez mais senhor do seu destino.
No fundo do ser há esse núcleo central, o ego, centelha divina, que a queda não pôde destruir e permanece como um conjunto de potencialidades latentes, comprimidas, adormecidas, mas ansiosas para se tornarem ativas, para expandir-se, despertando. Nesse ego, apesar de tudo, Deus permaneceu como centelha animadora. D’Ele, aí à espera de infinitos desenvolvimentos, nasce o impulso íntimo e instintivo da evolução, que forma, desse modo, o movimento ascensional de todos os seres do universo. Nesse fenômeno da evolução enxerta-se, como necessidade absoluta, o fenômeno da reencarnação, sem o qual não seria possível a reconstrução do eu. Desse modo, a vida única, pulsando do seu lado material para o seu lado espiritual – dois aspectos inversos e complementares, sem os quais seria incompleto o fenômeno - vai vivendo momentos diferentes, em que prossegue o desenvolvimento das mesmas forças em evolução. No fim de cada ciclo, a alma deposita nos braços do ciclo seguinte os resultados alcançados, e crava no caminho da evolução o marco de seu percurso. Tudo funciona obedecendo a uma lei de harmonia. Assim como no estado embrional humano, o feto passa por todas as formas de estrutura orgânica, desde a ameba até o homem, da mesma forma, no estado posterior à morte deve a alma retomar, tanto mais conscientemente quanto mais for evoluído, todas as experiências vividas em suas existências passadas, para a elas acrescentar os resultados da última. Na terra a ciência vê apenas um lado da existência, a metade somente do fenômeno da vida. Nosso mundo físico e biológico deve ser completado com o mundo espiritual, que lhe forma o substrato e do qual fornece a explicação, e se isso não for feito, nada se compreenderá.
Se em torno de nós olhamos, vemos que tudo é vivo, que tudo é constituído pela vida, é regido por esse princípio espiritual que impulsiona tudo a caminhar no sentido evolutivo. Evolução que se revela na forma, apenas num segundo tempo e como conseqüência, antes de tudo, está no espírito. Quer isso dizer que tudo que existe, do mineral ao gênio, evolve, alcançando um grau cada vez maior de iluminação. E isto quer dizer despertar da consciência, começando pela capacidade de sentir e reagir, que representa o primeiro e mais rudimentar acordar da alma. Este é o caminho do ego ou centelha divina, alma de toda individuação existente, para remontar às origens.
Tudo isso, entretanto, não acontece ao acaso, ou desordenadamente. Todo ser está aderente à sua forma que é sua expressão, de acordo com o grau que atingiu. Nos planos mais elevados cada indivíduo está ligado ao seu tipo biológico, nele está encerrado e não lhe são permitidas improvisações de qualquer espécie.  Todavia as portas não estão fechadas. A Lei impõe apenas um princípio regulador, que garante a estabilidade da forma e dos tipos, pois sem isso a vida se tornaria um caos. Pode-se sair do recinto fechado que o ser formou para si, e que manifesta o caminho percorrido. A estabilidade lhe garante que esse resultado, conquistado por ele, é seu e, se lhe permite sair, só o faz em continuação, ao longo da linha causa-efeito, lentamente, pelo caminho da transformação
Evolutiva, de acordo com o conhecido método do registro das experiências e da sua assimilação e transformação em qualidades, por meio dos automatismos.
É assim que o biótipo humano, como alma, é espiritualmente o produto hereditário dos reinos sub-humanos. O biótipo que constitui o elo biológico de junção entre uma forma orgânica inferior e a superior – tão procurado pela escola darwiniana e por seus sucessores para demonstrar a teoria da evolução em bases puramente materialistas – é representado antes de tudo por um tipo, que é definido por particularidades psíquicas própria, ou seja, de desenvolvimento espiritual. A essência da evolução  é dessa natureza, sendo a transformação orgânica sua última conseqüência. É o espírito que forma suas próprias qualidades, que ele depois exterioriza nos órgãos físicos de seu corpo. A continuidade da evolução existe, e deve existir, primeiramente, no lado desenvolvimento  do eu, ainda que isso não apareça externamente, porque suas formas que aparecem com interrupções, o exprimem apenas de modo descontínuo. É preciso compreender o que Darwin e seus seguidores materialistas não compreenderam e não podiam compreender, isto é, que a evolução é guiada por um fluxo vital e que sua substancia é espiritual . a chave do fenômeno da evolução está precisamente nos antípodas da fé materialista, sobre a qual eles se basearam. No centro do fenômeno da evolução está a expansão progressiva do princípio divino aninhado nas profundezas do eu e capaz de desenvolvimentos infinitos. Darwin e seus seguidores não podiam compreender tudo isso. No centro da evolução, existe esse princípio espiritual, capaz de aprender através do choque da luta pela vida, pois, se assim não fora, esse grande esforço não teria sentido nem finalidade. O ambiente martela desapiedadamente a bigorna, a fim de despertar uma alma capaz de atingir desse modo a iluminação. O alvo da evolução é algo que Darwin e sua escola não podiam perceber, ou seja, desenvolvimento espiritual que é o despertar da consciência até encontrar Deus.
Nada se pode efetivamente compreender do fenômeno da evolução, se não se percebe a semente psíquica que é a causa dessa forma. E essa semente que forma ao seu redor o seu próprio corpo, com os materiais do ambiente. Por isso, só é capaz de produzir um organismo correspondente à sua própria natureza. É assim que o princípio psíquico involuidíssimo do mineral (tão involuído que muitos o negam) não poderá produzir seres mais evolvidos que os cristais, capazes somente de orientar suas moléculas em formas geométricas. E assim, gradativamente subindo até o homem, nenhum indivíduo pode formar para si uma veste corpórea que seja mais que ele mesmo. E chegamos assim a reencarnação, que não diz respeito somente ao homem, mas, nesse amplíssimo sentido, o todo ser vivente. Assim, pois, cada ser humano não poderá nascer se não num corpo adequado ao desenvolvimento psíquico do espírito animador. Não poderá nascer no corpo de um animal ou ao contrario. Imitir o princípio espiritual de um ser humano na forma física, de um animal, de um inseto, seria como querer que o oceano entrasse num rio. Todavia há uma possibilidade teórica de que isso se venha a dar, quando, por involução um oceano se evaporasse até tornar-se um rio. Verifica-se, nesse caso, o processo inverso da evolução, isto é, em lugar de desenvolvimento de consciência, a sua redução e adormecimento. Então as qualidades mais elevadas anteriormente adquiridas, atrofiam-se por falta de exercício, como acontece para o órgão corpóreo que não seja mais utilizado.
Nesse caso toda reencarnação origina não um desenvolvimento, mas uma perda de consciência, de sensibilidade, de inteligência, isto é, uma descida sempre maior para a inconsciência. Em outros termos, o ser é expulso, cada vez mais, do divino consciente universal que tudo rege, em lugar de ser sempre mais acolhido nele para conhecer e colaborar como obreiro de Deus, como acontece a quem evolve.
Tais transformações, em geral, tem lugar somente nos limites de regressos relativos e temporários, seguidos, antes ou depois, por recuperações salutares. Elas tornam-se possíveis pelo fato que existem evidentes semelhanças entre biótipos mais ou menos evoluídos, dado que os planos inferiores contêm os primeiros princípios, os mais elementares, dos planos superiores. É assim que, nós mesmos, atribuímos a animais qualidades humanas, como a fidelidade ao cão, a imundície ao porco, a operosidade à formiga ou à abelha, à traição a cobra venenosa, o assassínio ao tigre, a astúcia à raposa, o instinto do furto e da imitação ao macaco, a miséria vil ao verme, a leviandade e a graça à borboleta, a força ao boi, a coragem ao leão, etc. todos reconhecem nos animais sentimentos humanos de amor , ódio, vingança, inveja, ciúme, inteligência, estupidez, etc. Evoluindo, esses rudimentos de consciência desenvolver-se-ão no homem, mas se este involve, poderia reduzir-se, da riqueza de seus sentimentos, àqueles rudimentos. Desse modo, involvendo, o assassino poderia chegar a reencarnar-se num animal feroz, o sensual, e guloso no suíno, etc. Mas isto é demasiado difícil, dado que haveria necessidade de períodos extremamente longos de retrocessos, insistindo num mal que constitui dor também para o sujeito que o pratica, dor que ele mesmo instintivamente, procura libertar-se. Períodos longuíssimos de milhares de encarnações são precisos para que se possam verificar essas transformações biológicas, seja em sentido involutivo como no evolutivo, neste segundo caso para desenvolver a consciência subumana latente, na consciência desenvolvida do homem.
As operações da natureza são dirigidas por leis de proporção e harmonia e, por trás da biologia das formas orgânicas, há uma outra biologia de que tudo depende e sem a qual aquelas operações não são compreensíveis. Nenhuma forma aparece por acaso, mas é o resultado de longos períodos de amadurecimento de fenômenos espirituais. O gênio e o santo representam o produto destilado de quem sabe de quantos milheiros de encarnações. Por certo a evolução é uma força que impele para frente; é a lei fundamental da vida, mas, agora temos observado, não se pode excluir a possibilidade teórica do processo inverso, isto é, da involução, porque o homem não é um autômato amarrado a evolução. Antes, a liberdade, é a lei fundamental e inviolável do seu ser. É esta sua liberdade que nos impõe a admissão da possibilidade de que o homem dela faça o uso que melhor entender, também, pois, para retroceder. Se o homem não pudesse também involver, não seria mais livre. Na prática, entretanto, haverá corretivos que tornarão apenas teórica essa possibilidade de auto-destruição por involução. Mas nunca poderemos admitir que a lei seja um sistema escravizante que reduza o ser a um autômato e, portanto, irresponsável.
Permanece, pois, livre e pode sempre retroceder. Esse princípio de liberdade não pode permitir a exclusão de uma vontade contínua e tenaz de regresso. Que acontecerá, então? É lógico que, se no sistema, permanecesse definitivamente um simples átomo de mal, o plano de Deus resultaria falido. Não é, pois, concebível que seja deixada à liberdade da criatura a possibilidade de vencer definitivamente contra Deus, arruinando Sua obra. Impõe-se, por isso, a destruição final do mal e, pois, do ser que o personifica. Isto porque junto da lei da liberdade, há aquela que exige, quando o mal queira impor-se definitivamente, sem nunca converter-se no bem que é a lei do sistema, que seja eliminado por aniquilamento.
Já desenvolvemos esse tema no volume “Deus e Universo”, nos caps. VII e X. Aqui resumimos e precisamos alguns particulares.
Como, pois, se combinam estas duas exigências opostas: a que garante a liberdade do ser e a que exige a destruição final do mal para salvaguardar a incolumidade do sistema? Quais são os corretivos que tornarão somente teórica esta possibilidade de destruição do rebelde? Como pode dar-se tudo isto sem violação do princípio da liberdade?
Todo o ser, embora decaído, permanece sempre uma criatura de Deus, em cujo fundo sempre está acesa a Sua divina centelha animadora, cuja natureza é positiva, não negativa, consistente no existir e não no destruir. Por isso não pode, por sua própria natureza, deixar de agir e rebelar-se contra seu próprio aniquilamento, dado que o princípio fundamental que o rege é o do “eu sou”, a afirmação primeira pela qual Deus “é”. A revolta, a inversão ao negativo pelos caminhos do mal, nunca poderá anular este princípio fundamental do egocentrismo. Eis, pois, inserido no âmago do ser um freio automático à própria liberdade, que a limita a uma possibilidade teórica, porque, quando se trata de ir contra o próprio interesse egoístico, ainda que seja possível a liberdade de fazê-lo, ninguém o quererá fazer. Eis o impulso que corrige a direção errada que a liberdade pode tomar pelas vias do mal; eis o que torna em simples possibilidade que, na prática, desse modo, venha a ser irrealizável; eis o que, em todo o caso, salva o ser rebelde da anulação final, qualquer seja a sua livre vontade.
Há, também, um outro freio ou limitação à liberdade do ser, para estancar o progresso nas vias do mal e impedir-lhe a loucura do suicídio por aniquilação. A liberdade do ser não é tão grande que lhe permita alcançar o ponto em que, sobrevivendo exclusivamente como mal, o sistema tornar-se-ia poluído e, em que, para eliminar a poluição do sistema o ser viria a auto-eliminar-se. A liberdade é um qualidade de Deus e do ser não decaído, qualidade do espírito que, através da involução, se inverte cada vez mais no determinismo da matéria. Disto decorre que, quanto mais se insistir na vontade do mal, tanto mais involui-se e perde-se a liberdade e, com isto, a capacidade de efetivar o mal. Então a vontade mal dirigida paralisa-se e desse modo, automaticamente, o ser encontra-se impedido de prosseguir, tanto mais, quanto se adiantara no caminho do mal e, portanto, se seu próprio aniquilamento. A liberdade é uma qualidade fundamental e inalienável do ser, que a recebeu íntegra como divina qualidade a que tinha direito como filho de Deus. Mas, com a sua revolta e conseqüente queda, esta qualidade toldou-se na derrocada, o que vem significar a sua tendência a deslocar-se para sua inversão ao negativo, isto é, para o determinismo. Com a evolução, o ser, elevando-se novamente, reconquista sempre mais a sua liberdade originária. Mas, eis que, quem involve, cada vez mais o perde e com isto perde a possibilidade de praticar o mal e, portanto, de progredir para seu aniquilamento. Com a involução verifica-se uma espécie de congelamento daquela liberdade no determinismo, que se torna sempre mais rígido quanto mais se descer para os planos inferiores. Então uma outra vontade, a da Lei, substitui-se à sua, porque determinismo quer dizer vontade da Lei. Assim é que o ser é retomado pela Lei, como um destroço incapaz de se dirigir e entregue à corrente, agora dominante em sentido evolutivo, porque agora, a Lei é a evolução, por reação completa, compensa e reequilibra o processo involutivo precedente. O ser, desse modo, é reconduzido à tona, contra sua própria vontade de mal e auto-destruição.
Estes corretivos da liberdade do ser, agindo cada vez mais energicamente, quanto mais esse a utiliza em seu próprio dano e em sentido destrutivo, querendo evolver-se no erro e no mal, tais corretivos acabam por endireitar o caminho do ser na direção evolutiva, isto é, na de construção e salvação. É assim que a Lei, mesmo respeitando a liberdade fundamental do ser, resulta construída tão sabiamente que contém em si os meios automáticos adequados a frear essa liberdade, quanto dela se faça mau uso.
Assim é que essa Lei chega a impedir aquela auto-destruição, que de outro modo seria necessária pelo fato de que o mal não pode, absolutamente, vencer em forma definitiva, seja mesmo infinitesimal, mas somente pode permanecer transitoriamente e servindo aos fins do bem. Permanecem, desse modo, satisfeitas as duas exigências opostas: esta da absoluta eliminação do mal, como a outra do princípio de liberdade, que não é negado. Assim é que podemos concluir que a possibilidade de aniquilamento do rebelde, contra a Lei, permanece apenas como possibilidade teórica.
Após esta digressão explicativa, útil para uma melhor compreensão  do argumento de que estamos tratando, voltemos a examinar o Livro Tibetano dos Mortos. Confirma-nos ele uma idéia aceita pelo Ocidente, ou seja, que o subconsciente mantém em reserva, em estado de latência, a memória de todo passado biológico do indivíduo e da espécie. Aqui porém, à memória biológica ancestral, que reproduz no plano orgânico as qualidades adquiridas pela raça em suas longas experiências, acrescenta-se uma memória pessoal, que reproduz no plano psíquico as qualidades adquiridas pelo indivíduo, nas experiências de sua múltiplas vidas. O nosso passado foi duro e bestial e, no subconsciente, como nos ensina a psicanálise, estão inscrito tanto o terror da luta como os instintos mais primitivos e ferozes. Nosso passado recente é a tenebrosa Idade Média, de somente agora estamos emergindo. Consiste o progresso em nos libertarmos desse amargo lastro psicológico, que ainda persiste em nós; em libertar-nos todos daquelas terrificantes formas de pensamento que oprimiram a humanidade durante séculos, como a perseguição ao próximo em nome da virtude e as vinganças de Deus com as torturas do inferno; em libertar-nos todos das formas de pensamento de agressividade e ferocidade em que a humanidade viveu até hoje, construindo uma ética falseada por ilusões psicológicas, constituídas, por vezes, de desabafos sádicos ou aceitações masoquistas, que nada têm que ver com a verdadeira moral.
A parte psicológica, correspondente a esta memória pessoal, tem função preponderante naquele Livro Tibetano dos Mortos, em relação à vida depois da morte. A vida do desencarnado, diz este livro, é totalmente produzida pelo conteúdo mental do próprio indivíduo que a percebe. Assim um muçulmano verá o paraíso de Maomé, um indiano verá seu nirvana, o cristão o seu céu de anjos e santos, o materialista, depois da morte, terá somente visões negativas, vazias, tal como imaginava quando vivo. Essas visões mudam de acordo com a erupção das formas-pensamento fixadas no indivíduo que agora as percebe. Isto até que sua força cármica condutora se não haja exaurido por si mesma. Trata-se de formas-pensamento ou criações mentais que, no estado de desencarnado, sem corpo material, adquirem, num ambiente imponderável, a consistência do real, qual nos aparece em nosso mundo sensório, em vida. Essas formas-pensamento são  constituídas de matéria sutil, que representa a primeira fase na criação da matéria, a que diretamente deriva do pensamento, que sobre ela tem poder genético e modelador. Assim, essas formas-pensamento derivam diretamente do pensamento, isto é, dos pensamentos que cultivamos ou que nos dominaram em vida, ou seja, de nossa atitude espiritual dominante e habitual, de que derivaram também as atividades mais repetidas, geradoras por isso daqueles automatismos com que se fixam as tendências e instintos futuros. Assim, afirma o livro citado, no estado de desencarnados vivemos no ambiente que nós mesmos formamos com os nossos pensamentos durante a vida. Esgotado o impulso que nós mesmos lhe imprimimos, termina a representação ou projeção e o estado de desencarnado. O espírito sente então atraído a dirigir-se para o mundo dos vivos, para nele recomeçar suas experiências.
Essa é a doutrina do Livro Tibetano dos Mortos. Quer ele avisar-nos que, no estado de desencarnado, essas visões não são realidade, mas apenas reflexos das próprias formas-pensamento. Os pensamentos são como germens concretos, sementes que podem ser plantadas no terreno de nossa consciência. Se encontram terreno favorável, isto é, afim, de modo a poder sintonizar com ele, lançam raízes, sejam eles bons ou maus, crescem e formam a personalidade, ou natureza espiritual de um homem, da qual, mais tarde, dependerá seu destino e também sua forma física, especialmente a da face. Nessas sementes, imprimem-se os pensamentos dominantes na vida de um homem. Quando olhamos a face de um semelhante nosso, através das formas materiais, vislumbramos sua alma. Esta é que nos interessa acima de tudo, porque ela é que é tudo. Caso eliminada seja, nós nos distanciamos com repugnância do cadáver, que é somente o despojo morto, sem qualquer valor ulterior. Essa alma que procuramos no rosto alheio é um corpo sutil, uma espécie de organismo dinâmico de determinadas vibrações de natureza especifica, cujo conjunto define aquele feixe de formas-pensamento e tendências, que se chama personalidade. Essas formas-pensamento são inseparáveis da alma, representam sua própria natureza, de modo que seguirão o indivíduo em qualquer lugar em que ele se encontre. São forcas ativas, cujo movimento fatal não pode ser detido, e que tem que desenvolver-se deterministicamente até o fim, de acordo com a lei cármica de causa e efeito.
No estado de desencarnado, o homem encontra-se no mundo dos efeitos, cujas causa foram semeadas na vida por meio de pensamentos dominantes e de suas obras. Por isso, paraíso e inferno são estados mentais de alegria ou de dor, criados por nós mesmos, existentes para cada um na forma por ele próprio gerada, e inexistentes fora de sua mente. São estados ou condições completamente espirituais daquela alma que, tendo perdido os meios sensórios para sentir, permanece sempre o centro de toda a capacidade sensitiva, especialmente agora que está livre do corpo. A crença difundida em nosso mundo, em estado de alegria ou sofrimento depois da morte e isto dependendo da boa o má conduta precedente do indivíduo, crença que reconhecemos em tantos povos, nos mais diversos lugares e, pode-se dizê-lo, em todos os tempos, demonstra que nos encontramos em face de um fenômeno que não pode ser produto de um só pensador ou de determinada filosofia ou religião, mas que é parte da realidade biológica universal, verdadeira para todos, em todos os tempos. Há conceitos instintivos, comuns a toda a humanidade, como os conceitos de bem e de mal, que se revelam inerentes à própria natureza humana e que fazem parte de uma ética biológica universal, do que também os animais superiores mais inteligentes, e que de mais perto convivem com o homem, chegam por vezes a participar. Foi assim que pôde nascer, nos lugares e tempos mais remotos, a mesma idéia de inferno e paraíso, ainda que repleta das mais diversas imagens mentais, sugeridas pelo próprio ambiente terrestre particular. Mas o fato de que, em tão diferentes representações, da hindu à maometana, à cristã etc., reencontramos um fundo idêntico e comum  nos assegura que não nos achamos em face de produto particular de uma religião, mas como já o dissemos, diante de um produto biológico universal, que se baseia em fenômenos positivos da vida, independentes de qualquer religião, tanto que todas as religiões, por mais diversas, o repetem, igualmente. Dos egípcios aos cristãos há um julgamento posterior à morte, com as respectivas conseqüências. Tudo isso não é, somente problema religioso. Quando o homem houver aprofundado as ciências biológicas e psicológicas, chegando a compreender a biologia também como fenômeno espiritual, então poderá reconhecer cientificamente a verdade objetivas desses estados espirituais, depois da morte que se chama inferno e paraíso. Existência objetiva mas só como estado mental, exclusivamente pessoal, em íntima relação com a existência terrena precedente e com seu tipo de pensamentos e atividades dominantes.
Depois da morte, o que o indivíduo pensou e fez torna-se objetivo. Tudo o que nele viveu, volta a ele na forma de reflexos cármicos. As formas-pensamento visualizadas em sua consciência, que ele deixou enraizar-se, crescer e expandir-se, vivem agora diante dele, tomando forma concreta naquele ambiente mais sutil, em que isso se torna possível. De fato a tendência de todo pensamento é de atingir a sua manifestação. E isto, repetindo o motivo fundamental da criação, do primeiro ato genético operado por Deus, do qual desceu a construção do universo físico. Aquele é o primeiro grande modelo; esta é a repetição. E o universo funciona Através de modelos únicos e de sua repetição em todas as dimensões e graus de evolução. Assim, a vida encontrado um caminho, tende a passar por ele infinitas vezes, até que encontre uma estrada melhor. Quando a ciência psicológica estiver mais evoluída, esses fenômenos mentais tornar-se-ão claramente compreensíveis, e compreender-se-á como nossos impulsos mentais, em vida, possam, depois, personificar-se em formas, no estado depois da morte.
Neste ponto ingressamos na parte que mais interessa à teoria da reencarnação. Chega o momento em que o impulso das forças, postas em movimento na vida, se esgota, cessando seus efeitos de alegria ou de dor, segundo sua natureza boa ou má. Desperta então o ser, alcançando a compreensão de seu novo estado, isto é, do fato de ter morrido e de se encontrar sem corpo físico. Então, diz o Livro Tibetano dos Mortos, o ser ingressa no estado transitório da procura do renascimento, fenômeno do qual aquele livro oferece as diretrizes, ensinando as modalidades do processo para reencarnar-se bem. Alcançando a certeza de encontrar-se sem corpo, por ter  este morrido, nasce então na alma, o desejo de formar novo corpo para si. Procura então o lugar onde reencarnar, para recomeçar nova vida.
Por que acontece isto? Porque a vida é contínua e não pode parar. Há entre uma vida e outra, um elo de conexão causal, pelo qual, as causas devem extinguir-se em seus efeitos, e o que foi iniciado num ciclo tem que cumprir-se no seguinte. O impulso irrefreável da vida não pode parar, e forçosamente tem que seguir adiante nessa linha, que lhe foi determinada pela Lei. A vida não pode parar, e deve continuar seu caminho ao longo da trilha cármica. Mas, por que é que o espírito deve tender a reencarnar-se, isto é, a descer na matéria nela construindo para si uma forma física? Há um conceito profundo na base dessa necessidade, que não é apenas a tendência que todo pensamento tem, como já vimos, de atingir sua manifestação, como repetição do motivo fundamental da criação. Já explicamos, no volume “Deus e Universo”, como o universo físico, que nos circunda, é, não a verdadeira criação de Deus, porque sua criação foi espiritual, mas uma queda, uma descida dela na matéria, como conseqüência de uma revolta da criatura contra o Criador.
Há, pois, também este outro motivo fundamental, como base da gênese do universo físico, o motivo da queda na forma material. Ora, pelo mesmo princípio acima exposto, de que o universo funciona por modelos únicos, e por sua repetição, aquele motivo fundamental, uma vez firmado, tende a repetir-se ao infinito. Por isso, uma vez gravados em si mesma os resultados da vida física, repassando numa visão depois da morte todo o caminho percorrido e estabelecendo desse modo até que ponto da escala evolutiva haja chegado, pelo trabalho da vida, a alma só pode continuar seu caminho, se levar, de novo, aqueles resultados, ao cadinho das lutas da vida física, a fim de novamente elaborá-los, levando-os mais adiante. É por isso que a evolução não pode dar-se de forma ascendente contínua e retilínea, mas unicamente de acordo com o primeiro modelo da queda, isto é, por um caminho interrompido por contínuos retornos ou descidas na matéria, a fim de nela completar um novo trecho de subida, conseqüência das etapas precedentes. O motivo original da queda faz com que o ser não se possa adiantar senão através do retrocesso de um passo, a cada dois passos à frente. Com efeito, é esse o andamento da trajetória típica dos motos fenomênicos, exposta no começo da “Grande Síntese”, trajetória da qual, só assim, podemos explicar essa forma de desenvolvimento. Com a queda, o ser estabeleceu essa lei, e é ela que o impele a retroceder a cada impulso, ao longo do caminho do espírito, que é caminho de libertação e felicidade, recaindo numa nova vida na estrada da matéria, que é o caminho da escravidão e da dor.
Por isso o espírito está jungido à roda cármica de suas sucessivas reencarnações, necessárias para completar a evolução e reconquistar o paraíso perdido. Depois de havermos compreendido por que a evolução teve que tomar esse ritmo de impulsos interrompidos por continuadas quedas, procuremos agora compreender quais sejam os princípios que presidem ao fenômeno de escolha do renascimento. Como tudo em nossa vida é um jogo de atrações e repulsões, assim ocorre neste caso, que relembra a escolha sexual. Dizer que o que liga uma vida à outra é o anel da conexão causal, significa mais precisamente, que as escolhas das formas do renascimento é guiada por uma predileção cármica instintiva, que constitui automaticamente o impulso determinante. Cada ser humano possui afinidades com determinados biótipos e ambientes terrestres, acha-se em sintonia com os mesmos e por eles sente atração e afeição, o que para ele constitui uma chamada irresistível. Com aqueles determinados biótipos e naqueles determinados ambientes, esse ser humano reencontra seus velhos hábitos da vida precedente, sua expansão, suas satisfações, sua ligações de ódio e de amor. Se não for um ser superior, ele permanece apegado a todas essas coisas da terra, e esse apego prende, é poderosa força que, mesmo sem que ele o perceba, o atrai, como acontece com a atração sexual. Há semelhança, entre esta e a predileção cármica do renascimento. Os dois fenômenos são tão conexos um ao outro, que parecem um único fenômeno, do qual representam apenas dois momentos sucessivos. Para a grande maioria ignara, tudo isto acontece por instinto, por obediência mecânica às leis de atração e repulsão. Para os seres mais evolvidos a escolha é livre, consciente, executada em virtude de realizações complexas, em função da organização do universo e do progresso da humanidade, como atividade voluntária para a execução de determinadas obras e de destinos especiais. Mas isto, para nós, constitui exceção.
Do mesmo modo que todos chegam à escolha sexual por instinto, sem saber o porquê de certas preferências, ainda que razões profundas existam, assim também quase todos chegam a escolha da reencarnação por instinto, sem saber o motivo, embora existam razões especificas para isso. Não é por acaso que um espírito nasce aqui ou ali; a sabedoria da Lei guia tudo harmonicamente e, por meio dos instintos, sabe conduzir o indivíduo para onde deve ir, aonde a sua ignorância não lhe permitiria chegar. Há equilíbrios de forças que determinam o tempo, a raça, os país, a família, a mulher e, com isto, o ambiente em que o indivíduo deve nascer. Antes de mais nada, tudo isso obedece à natureza do biótipo espiritual, que deve encontrar o terreno apropriado para nele colher os materiais a fim de construir uma forma adequada no plano físico. As atrações e repulsões são forças que constituem liames invisíveis, que mantém coesos os mais distantes elementos constitutivos do universo. Tudo se movimenta ao longo desses fios, que formam uma rede que intimamente une tudo a tudo. Há trilhos invisíveis, de natureza dinâmica e psíquica, que guiam o caminho das almas para determinados pontos, de preferência a outros. O que as impele a seguir esse trilho é, como na vida, o instinto, o desejo. Essas ansiedades representam o imã que atrai os seres para certos ambientes. Nascem de um estado de afinidade, de co-vibração, dando lugar a atos inconscientes, instintivos. Mais as maiores atividades da vida, sabêmo-lo, não são confiadas à sabedoria humana, demasiado fraca e pequena, para que se lhe possa confiar algo de importância. Mais do que à consciência do indivíduo, são elas confiadas à sabedoria das leis da vida, a uma maior consciência universal que, sabendo tudo, tudo dirige.
E, assim, está automaticamente pronto o impulso que conduzirá cada alma inconsciente para o ambiente em que se vai reencontrar a si mesma, e portanto também, lá mesmo, as conseqüências de suas ações no passado. Está assegurada, dessa forma, a continuidade e sucessão lógica das experiências na evolução,, tudo harmonicamente, sem interrupções. Assegurada fica, assim, no mecanismo da transmigração, a conexão causal cármica. É desse modo que as almas inconscientes do grande fenômeno que estão vivendo, vão sendo arrastadas, tudo ignorando – da mesma forma que os elementos componentes do átomo – ao longo das trajetórias da vida, impelidas por essas forças, ora aquém ora além do limite que separa os dois mundos da vida e da morte, atraídas pelo desejo, obedecendo as leis que não conhecem. Em fileiras, empurradas pelo divino impulso da vida, perseguidas pela dor para apressar o passo da evolução, de ilusão em ilusão, vão indo, errando cegamente e construindo destinos e provas, tudo para aprender. Em fileiras imensas, em massas de humanidades, em falanges cósmicas, de mundo para mundo, vão sofrendo, lutando, aprendendo. Turbilhão tão grande quanto a luz da poeira cósmica estelar, até as mais longínquas galáxias, este universo espiritual – em equilíbrio com o universo físico – universo imponderável que a ciência ainda não conhece. E tudo, num harmônico sentido evolutivo, ascende para Deus.
O conceito central, que guia o Livro Tibetano dos Mortos, é o de alcançar a iluminação, única condição que pode permitir o ser escapar à corrente das mortes e dos renascimentos. Em termos ocidentais, a iluminação é a consciência, e tudo isso quer dizer que, a referida corrente não pode ser quebrada, senão alcançando o termo da evolução, isto é, com a subida até Deus, no fim do ciclo. Evidentemente, não estão desenvolvidos naquele volume os conceitos que aqui especificamos, para tornar compreensível seu difícil texto. Mas nele estão presentes, embora escondidas e latentes, fazendo parte de sua filosofia. Ingressamos, agora, aqui, no tema especifico do texto tibetano que, acima de tudo, se refere à arte de escolher uma nova reencarnação.
Não podemos aceitar a concepção negativa dessa filosofia tibetana, que afirma estar a causa de todos os males no desejo e na sede de sensações, e que diz estar a salvação na supressão de tudo isso, pois é isso que nos amarra às rodas das reencarnações; no entanto, interessa-nos esse livro. Porque esclarece diversas particularidades do fenômeno da reencarnação, que estamos estudando, e confirma algumas das asserções feitas em outros volumes da presente Obra. O nosso conceito da significação da reencarnação é diferente. A salvação não consiste em saber escapar-lhe, nem na conseqüente evasão da vida, mas consiste em saber utilizar tudo isso para evolver, porque a salvação reside apenas em saber remontar o caminho da descida. Concepção ocidental positiva e dinâmica, não perdida no vazio das abstrações para escapar ao irreal, mas apaixonada e criadora também em nosso mundo, que deve ser corrigido e melhorado, e não renegado aprioristicamente, sem remédio. Assim, o mundo moderno pode, com a concepção cristã do amor, completar a concepção budista, menos completa, a da supressão do desejo. Para nós a reencarnação não é apenas uma condenação, mas, sobretudo é um meio de redenção, através das provas da vida. A dor não é um castigo, mas um meio de salvação, como no-lo ensinou o Cristo com sua paixão. A finalidade última da vida não é alcançar um nirvana, cuja realidade consista no aniquilamento de todos os recursos do eu, cuja alegria provenha de um repouso contemplativo e de uma felicidade negativa, representada unicamente pela exclusão da dor. Não! Não queremos, nós do mundo cristão, apenas a paz obtida com a renúncia, retraindo-nos da vida num supremo vácuo da alma destacada de tudo; queremos, isto sim, a felicidade conseguida com um trabalho produtivo de bem, seja na terra como no céu, afirmando-nos na vida, na suprema plenitude da alma que se enriqueceu com tudo ao reencontrar Deus. O fenômeno doloroso da morte e do renascimento não é vencido se desaparecermos pela fuga do caminho da evolução, mas se caminharmos para a frente, pois sabemos que o desenvolvimento da consciência, pouco a pouco e automaticamente sutiliza, até anulá-las com a espiritualização, essas formas de vida despedaçadas próprias do plano da matéria.
Falando dos métodos que são aconselháveis ao espírito, para evitar o castigo das reencarnações, o Livro Tibetano dos Mortos, a fim de ensinar-nos a arte profunda por meio da qual escaparemos à volta do espírito ao gérmen vital humano, explica verdades que confirmam asserções nossas, sobre esse assunto, neste mesmo volume. Possuindo o espírito a visão da união dos seres humanos, enxerta-se neste terreno no momento em que o espermatozóide se une à célula do óvulo materno. Há, pois, ao lado da fecundação fisiológica, outra fecundação espiritual que naquela se enxerta, sem o que a primeira não poderia tomar diretrizes autônomas no seio materno. A união entre dois seres possui, pois, não só uma significação biológica, como também um conteúdo espiritual. Então, não há apenas a felicidade criadora dos dois cônjuges, mas um terceiro ser também, o nascituro, atraído por idêntica paixão de amor, sensibilíssimo como espírito, alcança em sintonia a mesma felicidade criadora, pelo que precipita de seu estado de consciência, como que perdendo os sentidos, a um estado de inconsciência. Isto porque então se completou o motivo da queda, e a prisão na carne, embora mínima e embrional já se fechou em redor dele, e para viver só lhe restará o caminho de desenvolvê-la, utilizando-a para a sua manifestação. O espírito, então, penetrou na forma, e esta será sua moradia, de que não poderá sair senão quando completar sua vida. Desde então até a morte, espírito e corpo permanecerão fundidos num composto único. A formação do feto é confiada ao divino consciente da vida, enquanto o inconsciente humano despertará paulatinamente, fundido em sua nova forma, numa consciência que será função daquela. A consciência irá despertando cada vez mais até a idade madura do corpo, quando o eu tiver conseguido tomar posse totalmente e, por seu intermédio, tiver aprendido a manifestar-se em todas suas potencialidades.
Esta perda de consciência, no ato da descida na forma material, é um eco do primeiro motivo da queda, que volta e se repete a cada reencarnação. Recomeça depois a subida, desde a profunda prisão do feto, no seio do corpo, que é meio de expressão; subida lenta para o alto, em que volta a ecoar, retorna e repete o motivo contrario ao precedente, ou na retomada ascensional. A vida de cada indivíduo, resume assim em pequena escala o fenômeno maior do universo, o da queda dos espíritos puros rebeldes na forma material (primeiro semi-ciclo, chamado involução) e o da retomada ascensional para o estado espiritual originário (segundo semi-ciclo, denominado evolução).  Desse modo, com o desenvolvimento de cada vida, vamos reencontrando lentamente e com esforço, a consciência de nós mesmos, assim como a massa dos espíritos decaídos vai, com a evolução, lentamente e com esforço, a consciência de si mesma e o conhecimento perdido.
O Livro Tibetano dos Mortos não explica tudo isso com clareza, com estes termos e referencias próprios da nossa psicologia ocidental, mas se exprime com estranha linguagem simbólica, que, sem o sentido da intuição que nos forneça a chave em muitos pontos permaneceria obscuro. Continuando em seu ponto de vista, de que a salvação esteja em evitar a reencarnação, aconselha ao espírito diversos modos para fechar, como diz o livro, as portas das matrizes, isto é, para impedir a si mesmo a queda no gérmen embrional do feto. Aconselha, assim, uma espécie de castidade ao espírito, com a qual deveria evitar a conjunção carnal com a primeira semente do corpo. Pode tudo isso ter profunda significação, dando-nos a compreensão  do fenômeno da castidade voluntária. Certo é que a união normal entre homem e mulher corresponde às leis da natureza. Mas sabemos, também, que esta natureza é a lei de um mundo que é resultado da queda, é a disciplina do estado de involução. Se o rebelar-se a esta lei da natureza, desviando de suas normas, constitui erro, todavia é possível sobrepor-se a elas, mas isto tão só quando seguem, em seu lugar, as normas de uma lei superior àquelas leis da natureza, lei indicada pela evolução e situada num plano mais elevado. A união normal é a regra sadia para os seres que precisam de todas as provas e dores inerentes à vida, necessária para evolver. O caminho da ascensão deve passar por esta rota, e portanto é bom que a grande maioria por ela se lance, ainda que esta seja a estrada da dor. Além disso existe, sem dúvida, a ilusão da alegria, convidando-os a realização de um ato de que se retrairiam se pudessem calcular suas dolorosas conseqüências.
Quem compreendeu a lógica do sistema não pode estranhar que tudo em nosso mundo, inclusive o prazer do amor tenha que resultar numa ilusão. É natural que, num mundo originado nas ruínas da queda, tudo, no fim, se demonstre como traição. Mas é exatamente evoluindo que podemos sair de tudo isso. Então é possível, subindo, ingressar num mundo sempre menos ilusório, uma vez que a ilusão é herança da queda. Mas, quanto mais nos elevamos, tanto menos estamos jungidos a formas de vida na matéria, e menor é a necessidade da carne, produto da conjunção sexual que é parte daquele mundo inferior e ilusório. E eis que agora, desponta uma lei diversa, a da castidade, lei da natureza também esta, mas da natureza de um plano mais elevado. Explica-se, então, como os santos, seres mais evoluídos, fogem da gênese sexual. Eles já emergem do plano oceânico das grandes massas humanas, para o âmago  de outra lei de natureza, que não é mais aquela que exige permaneçamos amarrados ao jogo das reencarnações com a união material. Seu amor espiritualizado proporciona outras soluções menos ilusórias, cujo conteúdo mais puro consegue resultados mais espirituais. Quanto mais nos distanciamos do estado involuído, isto é, da matéria e da forma carnal, tanto mais nos distanciamos de suas dores e ilusões.
Em vista de tudo isso, compreende-se porque o Livro Tibetano dos Mortos aconselha ao espírito que resista a volúpia de sua conjunção carnal com o primeiro gérmen do corpo. Ou seja, aconselha esta nova espécie de castidade de desencarnados, concebível como paralela à que os santos costumam manter na carne, e que é considerada uma virtude entre os encarnados. Aquele livro, porém, aconselha essa castidade a todos, sem discriminação, ao passo que só é possível e só se adapta ao biótipo evoluído. Verifica-se, de fato, que não é possível, por exclusiva vontade própria, evadir-se à lei do próprio plano, mas, ao contrario, só é possível sair dele através de amadurecimentos lentíssimos. Os cônjuges na terra, como o espírito, no além, obedecem todos a uma lei de atração fatal, que os impele irresistivelmente a seguir o caminho traçado pelos princípios reguladores de seu plano de vida, ou seja: amor material, encarnação, vida, provas e dores, evolução. O livro, de resto prevê esta inelutabilidade, e no fim limita-se a fornecer conselhos sobre a escolha da matriz, ou seja, de ambiente melhor para reencarnar.
Mas aqui acresce outra circunstância. Há outra fatalidade que prende o ser, o seu Carma. O ser é irresistivelmente dominado pelas forças cármica. Estas o impelem a tomar um corpo, porque foi no terreno físico que ele semeou (com pensamentos e atos), e nesse terreno deve ele agora colher. Essas forças o impelem a encarnar-se em determinado gérmen, porque esse é o ambiente que lhe é afim, o ambiente de suas afinidades sintonizações e atrações. A capacidade de escolha está em proporção ao desenvolvimento de consciência, qualidade que o biótipo humano comum está longe de ter adquirido. Também neste campo, têmo-lo observado, o ser obedece a impulsos instintivos, é manobrado por princípios diretivos, diante dos quais sua mente é cega. As leis da vida comandam o ser ignorante e o canalizam pelos trilhos obrigatórios, conforme suas qualidades. Nossas obras nos seguem, nosso passado sempre ressurge em nós e em torno de nós. É da Lei que esses impulsos causais não podem aquietar-se até sua exaustão no terreno dos efeitos: desencadeamento de forças, boas ou más, de alegria ou de dor, encerradas no campo de forças da esfera do eu. Aquele livro chama, com expressão imaginosa, de fúrias cármica tormentosas ou tempestades cármicas., o desencadeamento das formas maléficas. Constituindo o nascimento na terra, em geral, um impulso para a expiação, pois que a terra é lugar de provas e de dor, onde se nasce para aprender e pagar, é as forças trevosas que predominam geralmente. É por isso que as fúrias cármica perseguem o espírito, para forçá-lo a ingressar numa matriz, ainda que o espírito veja que esta é da piores, que não promete senão dores. Essas forças cármicas personificam-se em formas-pensamento, quais demônios ferozes, subversão dos elementos, tempestades terrificantes, perseguições e torturas. Amedrontado, o espírito procurará um refúgio, mas a ventania terrível do Carma, irresistível, tudo arrastando, força pelas costas com golpes insistentes. O espírito, sobrepujado por visões espantosas, que para ele são realidade, procura esconder-se e joga-se no primeiro gérmen que encontra, o pior, o mais merecido, aquele que as inteligentes e justas forcas da vida lhe puseram ao alcance. Assim é que aquele espírito toma um corpo miserável de baixeza e sofrimento. Aquele ser nasce neste mundo, mas ele nasceu no inferno que traz consigo.
Também nasceu aí porque, infelizmente, aí estão suas atrações. Para aí o impeliram não só as horríveis fúrias cármica, mas também seus pensamentos e obras do passado, afins com aquele ambiente, seus hábitos a ele semelhantes, seus desejos que nele quer satisfazer, seus apegos, suas recordações.
Para aí o trouxeram não só as forças que continuam a avançar na direção da trajetória já iniciada, não só essa espécie de constrição dinâmica, mas também uma instintiva atração para o ambiente que se lhe assemelha, onde reencontra a si mesmo e pode continuar a realizar-se, reforçando em seu tipo biológico, afirmando sempre mais o seu eu, tal qual é. Há, pois, não apenas o ataque pelas costas, mas atração pela frente. Tudo isso torna a descida naquele pobre gérmen um fato irresistível. Nasce desse modo, um delinqüente, um assassino, nasce no seu inferno interior, expandindo-se em torno de si o inferno na terra. Essa alma andará, caminhando no tempo, irá semeando o mal e acreditando, com isso, que ferem os outros, mas, no entanto fere cada vez mais a si mesmo. E cada vez mais sofrerá nesse caminho contrário à senda da lei, que é a evolução. Desenvolvemos alhures o tema do fim do mal, que se torna fatal pelo fato de que, sendo o mau negativo por sua própria natureza, quanto mais vive, mais se aniquila, isto é, pela simples existência de seu modo de ser, automaticamente tende à auto-destruição. O mal não pode ser eterno e não pode vencer.
Mas, nem todos os Carmas são assim. Há os inumeráveis medíocres, que não fizeram nem grande bem nem grande mal, formando destinos cinzentos e insignificantes, gente sentada à beira da grande estrada da evolução, à espera – pois a eternidade, sem dúvida é bastante longa – brincando com puerilidades, passivos, satisfeitos com a inércia: são os adormecidos. Os impulsos cármicos não os perseguem ferozes e terrificantes, mas os impelem igualmente, e eles vão, como as gotas de chuva, como as folhas ao vento, como a água dos rios que corre para o mar. Vão e pousam naquele gérmen que seu Carma e suas atrações querem; tudo por instinto, mecânica e automaticamente, sem o saber. Estas almas caem, assim, na terra, no seu purgatório, purgatório que trazem consigo dado pela sua própria natureza, adaptando-se, vegetando, perdendo tempo na preguiça ou dormindo.
Há, enfim, os espíritos superiores. Estes, raramente descem à terra, que não é seu mundo. Quem não deve pagar ou não tem que aprender, não pode descer à terra senão para cumprir uma missão de bem para os outros. Então, ele é um mestre que vem para ensinar, e sofre só por amor a humanidade. Com plena consciência, ele escolhe o tempo, o lugar, a matriz em que nascerá na terra. Sua encarnação é um ato de sacrifício, sua descida na prisão da carne, apropriada a almas pouco evoluídas como as humanas, é sua paixão mais dolorosa. Por ser ele tão adiantado no caminho da evolução, já está desligado da roda morte e do renascimento. O plano de vida humana já foi por ele vivido, há muito tempo, e constitui passado remoto. Fruto de inumeráveis existências de vida pura e reta, sua mente é iluminada por clara visão da Lei, da qual se torna obreiro ao serviço de Deus.
Eis como se desenvolve toda a mecânica da reencarnação. O Livro Tibetano dos Mortos conclui com uma observação assinalável. O melhor sistema para escolher a melhor matriz, é o de tornar-se livres de toda atração ou repulsão, de todo o desejo de tomar ou de evitar. Esse conceito baseia-se numa verdade mais profunda, pelo que pode afirmar-se que o que nos faz errar mais, é o querermos ser astuciosos demais; à força; o que nos induz em maior erro, é o querermos escolher de conformidade com o nosso prazer; o que nos deixa alcançar menos é o querermos obter demais, à força; o que nos limita a menor êxito, é a imposição de nossa vontade errada. O que possui uma coisa qualquer, pode perdê-la e sofrer; mas que nada possui nada poderá perder. Quem se agarra a alguma coisa, para não cair, pode cair se largar à presa; mas que a nada se agarra, nada pode largar, e não pode cair. Tudo isso quer significar que o segredo para a escolha de uma reencarnação, que nos faça, mais tarde, sofrer o menos possível, é o desapego de tudo, é o não se deixar atrair pelos velhos instintos, que nos reconduzem aos antigos ambientes, é o saber desamarrar-se de tudo a que a eles nos prende para poder entrar em ambientes melhores, ainda que estes não correspondam os nossos gostos do momento. Tudo isso, porque os hábitos mentais adquiridos na vida precedente tendem a perpetuar-se por inércia, propendendo sempre a reconduzir-nos para as mesmas condições de vida. Em outros termos, no momento decisivo da escolha do gérmen, procurar usar o melhor critério de que podemos dispor, buscando colocar-nos em condições de poder, depois, subir melhor. O segredo está em não se deixar atrair cegamente por uma matriz, escravos do desejo, mas em saber escolhê-la com inteligência, para obter uma encarnação e uma vida, não de simples satisfação, mas de progresso. Quem não procurar escolher iluminadamente, permanecerá prisioneiro de seus apegos e vítima do desejo, no jogo das ilusões próprias dos planos inferiores. Aprender a escolher, significa por no caminho de nossa consciência da Lei, não mais suportá-la cegamente, como ocorre com os involuído, que tudo ignoram, mas para saber, ao longo dos canais da Lei, dirigir-se inteligentemente para a meta radiosa do bem, do conhecimento e da felicidade.
Assim termina o Barbo Thödol ou Livro Tibetano dos Mortos. Dele tratamos porque, como já o dissemos, ele confirma muitos conceitos aqui afirmados, antes de tomarmos conhecimento desse livro. No presente volume nós demonstramos que nas mais diversas ramificações particulares dos princípios gerais do sistema. Mas o adentramo-nos na complexidade dos pormenores, confirmou-nos a verdade destes princípios únicos e simples, que tudo regem. Para confirmação deles, quisemos escutar também esta voz que nos chega do longínquo passado e do remotíssimo Tibete.
Com isto, encerramos o estudo do tema da reencarnação, desenvolvido nestes três últimos capítulos. Observamos a teoria sobre diversos pontos de vista: da lógica, da ciência, da ética, da psicologia, da biologia, etc., até delinear a técnica do funcionamento do fenômeno. Cremos, com isto, haver oferecido elementos suficientes para poder considerar a teoria da reencarnação definitivamente provada, e realmente correspondente à realidade dos fatos. Para chegar a esta conclusão, percorremos as estradas mais diversas. Mas o ponto de chegada foi sempre o mesmo: reencarnação.
Procuramos, com isto, acima de tudo, alcançar o seguinte resultado: conduzir definitivamente a teoria da reencarnação, do mundo incerto da fé religiosa e do terreno onde sempre se discute sem resolver, para o plano positivo da lógica e da ciência, cujos resultados as religiões não poderão deixar de aceitar. Outros resultados alcançados, não desprezíveis, creram tenha sido o de haver provado, com a reencarnação, que o bem e o mal que fizemos, volta, mais tarde, para nós, inelutavelmente, como destino nosso, de que não se pode fugir. Ter demonstrado que os pensamentos e as ações que se dirigem contra os outros, se inscrevem em nós mesmos, e que tudo isso nós o fazemos a nós mesmos, havê-lo provado como verdade positiva, independente de toda religião, como moral biológica universal; não se pode deixar de reconhecer que tudo isso possua importância, seja do ponto de vista individual, como do social. Para o homem racional de hoje não é mais lícito recusar o que está demonstrado racionalmente. Nada disso podíamos tê-lo dito antes, mas somente o podemos neste momento, em que estamos mais adiantados na nossa Obra, na hora da madureza dos tempos.


O livro Tibetano dos Mortos: Técnica da reencarnação
Autor Pietro Ubaldi: Tradução: Carlos Torres Pastorino.

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