segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A expansão do homem e da inteligência

 

 

 

Charles Richet: Livro: A Grande Esperança

Primeira Parte
Por que existes?

Livro I

A expansão do homem e da inteligência

- 1 -

Por que existes?
Não és realmente curioso se nunca fizeste esta pergunta. Feliz negligência, não obstante bem singular! Pois jamais pediste para viver e a existência te foi imperiosamente imposta.
Por quem? Para quê? Por quê?
No entanto tens em parte o direito de o saber, ou pelo menos de interrogar o destino, interrompendo o curso do teu trabalho, dos teus prazeres, dos teus amores e de tuas inquietações.
Mas não! Contenta-te com viver, antes vegetar, porque viver sem refletir sobre seu destino é lamentável. Andas, dormes, comes, bebes, amas, choras, ris, estás triste ou alegre e jamais te preocupas com a sorte que esperam teus bisnetos, nem com o universo misterioso que te cerca, universo esse estranhamente colossal, do qual não és mais que um átomo. Desse mundo, apesar de tuas pretensões à ciência, não vês mais que as aparências, porque dele não compreendeste grande coisa.
Então nunca procuraste saber por que existes?
Contudo és um ente sensível, sentindo alegrias e pesares. Para que servem esses pesares? Para que servem essas alegrias? Eis aí o que seria bom saber. Eis aí o que é justo aprofundar. Mas não és curioso.
Pois bem! se não és curioso, eu o serei por ti e procurarei, sem frases vãs, ver se nossa existência, nossa mesquinha e fugaz existência tem um fim; se temos um papel a desempenhar, por pequeno que seja, neste imenso Cosmos. Tudo é possível e talvez os homens e os animais nada mais sejam do que pequenos bonecos, que uma força misteriosa, sem dúvida caprichosa, se diverte a movimentar. Seja como for, ela infligiu a todos o regalo da vida e a nós impôs a consciência. Sem nos consultar, concedeu-nos esse dom doloroso e sublime de sofrer, amar e pensar.
Podes então perguntar a essa força misteriosa: por que te ocupaste de nós? Que queres?

- 2 -

Sabemos perfeitamente, não por que, mas como nasceste. Duas pequeninas células microscópicas encontraram-se um dia (ou, antes, uma noite) numa úmida e sombria caverna e tu és o resultado dessa união silenciosa.
Ora não havia senão uma célula fêmea entre cem milhões de células machos que turbilhonavam em redor dela. O pequeno macho que teve o privilégio de penetrar a célula fêmea foste tu! Sim! já eras tu. De tal forma eras tu que nada mais poderia modificar tua forma e tua evolução.
Mais tarde cresceste, tomaste a forma de embrião, de feto, de homem. Adquiriste hábitos, ganhaste teu pão, procuraste ser amado ou amar; sentiste a sede de prazeres, de amores, de dinheiro ou de glória. As duas células, depois de unidas para formar um ente humano, seguiram uma rota longa e complicada.
Mas se um outro dos cem milhões de machos que volitavam em redor da célula fêmea tivesse tido mais apetite, se se tivesse mostrado mais ágil ou mais vigoroso, não mais serias tu quem alcançaria a inefável felicidade de desenvolver-se: seria teu irmão quem teria nascido. Portanto, bem vês que no momento fatídico do teu nascimento podiam ter nascido milhares de seres diferentes de ti.
Na verdade, tu és o resultado de um acaso prodigioso, porque nada poderia fazer prever que essa célula macho fosse a privilegiada, e certamente no teu ponto de vista pessoal é muito interessante, mas no ponto de vista geral, que tenha sido tu ou um dos milhares dos teus possíveis irmãos, isso nada significa. Para a humanidade imensa, nenhuma importância haveria se tivesse nascido um de teus irmãos, sendo um pouco maior ou menor do que tu, com o nariz mais longo ou mais curto.

- 3 -

Transponhamos, pois, o imenso passado que te precede. Cem milhares de séculos. Isso nada é do ponto de vista da eternidade do tempo.
Ainda que isto seja profundamente misterioso, a ciência pôde, mais ou menos, levantar algumas hipóteses sobre esse prodigioso passado.
Houve um tempo (bem longínquo) em que o nosso planeta ainda não existia. Mas o nosso querido Sol já lá estava, naturalmente um pouco maior e mais branco que hoje.
Esse divino Sol era, como é hoje, uma colossal massa gasosa de fogo; ele perambulava sozinho no espaço infindo sem ser acompanhado, como hoje, por um cortejo servil de planetas.
Ora, essa massa colossal de um gás em ignição era, como toda a matéria, submetida à lei da atração. Da mesma forma que os nossos oceanos, cedendo à atração lunar, têm as marés que, em dadas ocasiões, os fazem aumentar de volume, da mesma forma a massa ígnea do Sol pôde, quando um astro vizinho dela se aproximou (de algumas centenas de milhares de quilômetros (?) provocar uma formidável maré de fogo).
É, pois, provável que um astro qualquer, enorme também, seguindo seu curso errante perto do Sol, tenha provocado uma maré de fogo, de sorte que parcelas enormes da massa ígnea, atraídas pelo astro, se tenham destacado do globo solar.
Mas elas não puderam ir muito longe, pois estavam retidas pela atração solar, e, detendo-se em caminho, movidas ao mesmo tempo pela força centrípeta e a força centrífuga, puseram-se a girar sobre si mesmas, a voltear em redor do centro de onde acabavam de se desprender. Esses esferóides ígneos, prosseguindo seu curso no espaço gelado durante séculos e séculos, congelaram-se. Antes elas eram unicamente gasosas. Certas partes, pois (os metais), se liquefizeram. O esfriamento então, sendo ininterrupto, solidificou a superfície. Mas a massa central conservou-se líquida e em ignição. Portanto, hoje, a terra é uma massa líquida revestida de tênue camada sólida.
Esses fenômenos relativos à terra repetiram-se provavelmente e se repetirão em milhares e milhares de planetas, pois sabemos que a constituição química da terra é mais ou menos idêntica à dos astros. A terra é um resumo das maravilhas dos céus.
A pouco e pouco, pelo progresso do resfriamento periférico, o oxigênio e o hidrogênio (que estavam desassociados) se combinaram; o vapor de água, gasoso anteriormente, se liquefez; os mares formaram-se e (pela continuação do esfriamento gradual) na camada houve curvaturas que formaram montanhas. Daí as formas dos continentes e dos mares como se nos apresentam hoje.
Assim, pois, sobreveio (como e por quê?) uma obra maravilhosa, decisiva para nós! A vida surgiu nos mares e nos planetas.
Eis aqui, ó tu que me lês, nossa humílima origem.
Primeiramente surgiram as células simples, vegetando quer nas águas cálidas ainda, quer num solo úmido, numa atmosfera rica em ácido carbônico.
Logo em seguida essas células, com certeza inconscientemente, compreenderam que se tornava necessário viver e multiplicar-se. Já se manifestava em todo seu esplendor esse empenho do indivíduo para a vida, empenho esse que é o característico de todo ser vivo.
Ora, para viver é necessário fixar o carbono e o azoto. Essas pequenas células famélicas, aspirando fixar o azoto e o carbono, foram obrigadas a lutar sem tréguas contra suas irmãs (famélicas também) e a resistir às forcas cósmicas hostis ou indiferentes. Deram-se batalhas incessantes e por essas batalhas elas tomaram as mais diversas formas, a fim de cada vez melhor se adaptarem às condições cambiantes de suas existências. Essas formas novas de adaptação foram transmitidas a seus descendentes, de sorte que pouco a pouco as células primitivas se tornaram seres novos cada vez mais complicados.
Tanto quanto os mistérios do planeta no-lo podem ensinar, essas novas formas foram, em primeiro lugar, as plantas gigantescas, os fetos, as enormes palmeiras, cujos resíduos, acumulando-se, são para a humanidade atual um abundante manancial de energia (aliás inesgotável).
Será que o Sol, fixando essas massas de carbono combustível nas plantas de outrora, não tenha querido preparar poderosas reservas de forças nas nossas máquinas atuais? Adivinha-se facilmente que, se eu empresto ao Sol essas intenções filantrópicas, não posso considerar essa hipótese como real.
Com as plantas aparecem animais já bastante complicados, crustáceos, imensos répteis, moluscos, insetos, peixes que parecem, por uma progressão incessante e contínua, intensificar mais e mais a consciência do ser. Ora, pouco a pouco essa consciência se transforma numa inteligência. Pela consciência e inteligência o amar a vida desperta em todos os entes vivos. Quando chegam os mamíferos e quando enfim o homem aparece, neles também desperta o mesmo amor à vida e o mesmo horror à morte. E em lugar de se atenuar, esses dois instintos crescem à medida que a inteligência se desenvolve.
Ademais, quaisquer que sejam as variações das formas, com adaptações às diversas condições vitais, a geração sempre se faz pela conjunção de duas células, uma célula fêmea rodeada por inúmeras células machos. A modalidade do supremo esforço que a toda poderosa Natureza estabelece para que essas duas células possam fundir-se e perpetuar a espécie é a mesma, quer em se tratando de uma planta, de um ouriço do mar, de um cão ou de um homem.
Se em pensamento nós nos representássemos à sucessão rápida de fenômenos longínquos, globo ígneo e gasoso, mares quentes que se esfriam, continentes que se formam, plantas que se multiplicam, animais que se complicam cada vez mais, compreendemos que o mundo inerte evoluiu para a vida e que a vida evoluiu para a inteligência.
Assim, pois, a inteligência dos seres vivos se intensificou; tornaram-se estes cada vez mais inteligentes até atingir o estado atual, até se tornarem homens, isto é, seres capazes de linguagem (essa maravilha das maravilhas), capazes de inventar o cálculo integral e a geometria analítica, capazes de conhecer a composição química dos astros que se encontram a uma distância de muitos milhares de trilhões de quilômetros, capazes também de compreender as idéias abstratas, tais como a solidariedade e a justiça.
A inteligência ganhou muito, não só em profundidade, mas também em extensão. Há cem mil anos, se os homens já existissem, o que é provável, esses homens – muito próximos dos macacos – seriam bem pouco numerosos, vivendo disseminados no vale do Nilo ou nos palmeirais da Caldéia (?). Há dez mil anos, sem que se possa precisar um número qualquer, no máximo poderiam existir vinte milhões de homens (?). Hoje há três mil milhões. Cada ano a população humana, apesar de guerras infames, aumenta de quatro ou cinco milhões de almas.A terra toda está invadida pela espécie humana. Nenhuma praia deserta. Até os pólos foram conquistados. Todas as montanhas são transpostas. Todos os desertos atravessados. A expansão do gênero humano na superfície do globo terrestre é total.
Essa expansão do gênero humano é a expansão da inteligência.
Logo vemos claramente se descortinar esse grande fenômeno indiscutível: o desenvolvimento da inteligência em qualidade e quantidade; fenômeno prodigioso que não mais nos admira, porque nele vivemos e a ele nos habituamos.
E por que? Sim! Por que essa sucessão contínua de fatos, disparates na aparência, nos conduziu a esse resultado supremo: a intensificação da inteligência?
Procuremos compreender a causa de esse magnífico despertar.

- 4 -

Somente duas soluções são possíveis. Ou é o acaso ou é uma lei.
Vejamos antes a solução do acaso.
Ora, quando digo solução, não é uma solução. Ao contrário. Em bom vernáculo, acaso quer dizer que não temos solução a propor. O acaso não é em absoluto uma hipótese como as outras, é a negação de toda hipótese.
Uma moeda que atiro ao ar cai do lado da coroa e eu digo ter sido o acaso que a fez cair assim, pois ignoro absolutamente que rotações, que reviravoltas pôde ela fazer para tombar desse lado. Encontro-me na rua com meu amigo A, distante de sua residência e da minha. As causas determinantes desse encontro, no minuto exato em que eu passava, foi obra do acaso, porque ignoro por completo os motivos que lá o levaram precisamente nesse minuto. Disparo um tiro de espingarda numa perdiz que voa e um grão de chumbo quebra-lhe uma asa; é o acaso que faz esse grão de chumbo feri-la e não outro das centenas de grãos que se encontravam no cartucho.
Há pouco falei dos milhares de células machos que assaltaram a célula fêmea; foi ainda o acaso que concedeu o privilégio a essa célula e não a outra.
O acaso nada mais é do que nossa ignorância, mas também é provavelmente a ausência de leis, ou pelo menos de leis que nos sejam acessíveis. Quando as coisas evoluem por obra do acaso, elas são de uma fantasia louca, a menos que nos pareça por demais desordenadas para que a nossa ciência não tenha podido penetrar as leis. Não se pode achar a direção nem a intenção às agitações que um vôo de mosca determina no galvanômetro.
Dá-se o mesmo com a existência dos seres vivos e o desenvolvimento triunfal da inteligência. Parece que esses grandes fatos são o realce de uma direção, de uma intenção; ousarei dizer, embora a palavra seja terrivelmente antropomórfica, de uma vontade tenaz, obstinada, engenhosa, que foi durante milhares de séculos perseguida sem esmorecimento e sem desânimo.
Os pequenos acontecimentos individuais são, sem dúvida alguma, devidos ao acaso, mas o conjunto indica uma lei. Os físicos admitem que as moléculas de um gás, quando é mudada a pressão ou a temperatura, não se comportem todas da mesma maneira. Mas como se trata de um número imenso de moléculas, é absolutamente aplicável o cálculo das probabilidades e a distensão desta ou daquela em particular não é levada em conta.
Imaginai uma série de acontecimentos complexos, múltiplos, incoerentes na aparência, que, ao cabo de milhares de anos, nos encaminha progressivamente a um fenômeno superior que é a inteligência. Não temos o direito de dizer que foi por obra do acaso que essa inteligência apareceu. É quase evidente que houve aí uma lei poderosa e universal. Se dissermos que a inteligência é obra do acaso, isto é, a ausência de toda lei, então nada nos resta senão atirar às gemônias a pequena centelha cuja flama vacila em nós.
Um fenômeno inteligente não pode ter sido por obra do acaso. Tomo dois números de três algarismos, por exemplo 124 e 532. Qual será o produto? Se alguém me disser 65.968, direi que foi provavelmente um fenômeno inteligente e não por acaso que esse número exato me foi dado.
Não obstante, é de tal maneira menos intelectual do que o desabrochamento da inteligência depois de um esforço de cem mil séculos!
Vejamos um indivíduo embriagado que procura entrar em casa. Ele vai titubeante. Avança, recua. Cambaleia à direita e à esquerda, dá uns passos para frente e para trás. Contudo, apesar de seus titubeios, apesar de suas incertezas, se aproxima cada vez mais de sua casa; reconhece-a vagamente; hesita a tocar na grade e na campainha. Enfim, ei-lo em casa. Assistindo às suas oscilações, vós teríeis dito que foi o acaso quem o conduziu...Oh, não! Ele teve um confuso conhecimento das coisas e, a despeito de sua embriaguez, conseguiu atirar-se no leito.
Eis um outro exemplo. Comparemos a multidão heterogênea e confusa de seres vivos a um corpo da armada que recebeu ordem de seguir de Reims para Châlons. Os soldados avançam por caminhos diversos e marcham em celeridades que não podem ser comparadas. Alguns se extraviam nos campos, outros param nos albergues, há outros que cantam; há os que, cansados, se sentam nos barrancos; infantes, couraceiros, artilheiros, dragões, motociclistas, aviadores, tudo é dessemelhante, tudo é incoerente. Nada compreenderíamos de seus atos se só vivêssemos durante um centésimo de segundo.
Um centésimo de segundo para a marcha de uma hora é quase como um século em relação há 25.000 séculos. Que se pode saber da marcha de um corpo da armada, em um centésimo de segundo? Da mesma maneira, para a marcha da humanidade, que poderemos saber de sua evolução futura, não conhecendo mais que um século de sua vida?
Entretanto, todos os homens que assim marcham com seus fuzis, seus canhões, suas motocicletas, suas metralhadoras, seus tanques, têm um objetivo que é o de chegar a Châlons. Se para observá-los tivéssemos uma hora em lugar de um minuto, a despeito da diversidade dos caminhos, quase poderíamos conhecer a intenção do chefe que os dirige.
Pois bem! podemos imaginar de que seres vivos a terra estava coberta há um milhão de anos; os arquivos paleontológicos da terra permitem-nos sabê-lo e assim compreendermos distintamente que esse rebanho de seres, que vivia há um milhão de anos, marche para uma inteligência maior, como os soldados marcham para Châlons. Não obstante uma aparente desordem, esses seres vivos, débeis parcelas dessa inumerável coorte, avançam inconscientemente para um grande destino.
Eis aí o que é incontestável.
Não é pois o acaso: é uma lei.
Seguramente para cada um desses seres, quer sejam eles répteis ou peixes, pássaros ou mamíferos, cangurus ou homens, foi unicamente o acaso que os condicionou a uma existência individual.
Assim, pois, numa Companhia de Infantaria que segue por uma estrada, é o acaso que faz Paulo cantar, Pedro fumar, Jorge sentar-se na encosta, Henrique enxugar a fronte, Luciano parar junto a uma árvore. Mas essas irregularidades nenhuma importância têm. A coluna prossegue sua marcha, pois não vai a debandada, obedecendo antes a uma ordem expressa. Da mesma forma as irregularidades desta ou daquela espécie animal, verdadeiramente desta ou daquela nação; os atrasos do progresso final, mesmo durante alguns séculos, nada significam para o conjunto das operações do rebanho vital.
Ora por pouco que se estude a evolução (a progressão) desse rebanho vital durante milhares ou milhões de anos, vemos surgir uma real direção. Tudo se passa como se esse bizarro cortejo, que se renova incessantemente, obedecesse a uma determinada ordem.
No imenso Cosmos do qual nada mais somos que um fragmento minúsculo no espaço como no tempo, há acasos individuais, não acasos gerais, mas muitas leis como para as moléculas de um gás comprimido e como para o número de raios, a, b, g, que o rádio emite.
Por conseguinte, uma soberana lei biológica aparece claramente, a da progressão intelectual.
Bem entendido, contanto que transponhamos as centenas de séculos.
E não faço aqui alusão alguma aos outros modos misteriosos, abismais, que fremem em redor de nós. Não tomo – pelo menos no momento – senão o mundo real, mecânico, tangível, visível, abordado pelas nossas ciências clássicas. Costearei a terra sem me aventurar no desconhecido imenso do qual nada posso dizer ainda, senão que existe, sem que nem eu nem ninguém o tenha podido penetrar.
Contudo, esse mundo tangível e visível que, não obstante suas irregularidades, se dirige para um desígnio sublime, isto é, uma inteligência superior – só pode ser conduzido por uma lei, lei suprema, universal, que governa a todo o Biocosmos.
Essa lei poderia não existir? Não o creio, é o fatum dos latinos, a anangké dos gregos. Nossa inteligência não pode supor que o mundo material não seria submetido à lei da atração, que o hidrogênio não se combinaria com o oxigênio e que a vibração da luz não se propagaria com a velocidade de 300.000 quilômetros por segundo.
Assim; pois, a evolução do esferóide era fatal. Fatal seu esfriamento. Fatal seu povoamento de seres vivos. Fatal a evolução desses seres vivos para a inteligência.
Para além do mundo solar, há, sem dúvida, no imenso espaço e no infinito, antigo ou futuro, tempos, outros mundos análogos ao nosso, com uma constituição e uma evolução quase idênticas. Sim! há lá no alto milhares de planetas imensos, girando em redor de milhões de estrelas suspensas na abóbada celeste.
Pois bem! conheço unicamente um desses planetas, é a terra onde habitamos e vejo que ela é habitada por seres inteligentes. Poderei eu supor que só ela possui essa vantagem? (se é vantagem).
Façamos então uma comparação. Ela é surpreendente.
Eis um saco grosso e fechado onde se encontra um milhão de bolas, talvez de diferentes cores, que ignoro. Tiro uma ao acaso. Ela é vermelha. Não será grandemente absurdo supormos que dentre as 999.999 bolas, só haja uma vermelha?
E agora respondo (ai de mim, timidamente!) à pergunta que é o título deste capítulo: Por que existes?
Existes porque o destino, isto é, uma lei quis que vivesses. E eu te provarei agora que essa lei existe porque o destino te concedeu os meios muito eficazes de consolidar as forças ínfimas de tua ínfima individualidade.
Vejamos quais são esses meios.


Charles Richet: Livro: A Grande Esperança
Traduzido do Francês
La grande esperancê 1933Fonte: www.autoresespíritas clássicos.com/


                                                                      www.autoresespiritasclassicos.com




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