terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A lei de Deus

IV

EM HARMONIA COM A LEI


O nosso destino e a Vontade de Deus.


Continuemos falando sobre a Divina Providên­cia. Se soubermos olhar em profundidade, ou seja, além da superfície das coisas, veremos um mundo re­gido por leis diferentes das que vigoram em nosso mundo. Trata-se de substituir o espírito de egoísmo e de separatismo vigente, por um espírito de união com Deus e de colaboração com o próximo. Trata-se de nos colocarmos num estado de aceitação perante a Lei de Deus, ao invés de nos colocarmos num estado de imposição para com o próximo. É na aplicação desta nova lei, a do Evangelho, que consiste o segre­do da felicidade e o caminho para fugir dos muitos sofrimentos que nos atormentam.
Falamos de união com Deus, de obediência à Lei, de aceitação da vontade d'Ele. Surge agora a per­gunta: como é possível chegar a compreender esta vontade de Deus a que devemos obedecer? Deus não tem boca, mas fala; não tem mãos, mas opera. Deus está presente, não há dúvida, mas não podemos percebê-Lo em forma material, na superfície das coisas, com os nossos sentidos. Deus esta presente, mas na profundeza de tudo o que existe. Há então dois cami­nhos para percebê-Lo: ou o da introspecção, olhando e penetrando dentro de nós por intermédio da medi­tação ou concentração, ou olhando os efeitos que, da profundidade onde está Deus, vêm até à superfície, revelando assim a natureza das coisas que os ge­ram e movimentam. Pode-se assim chegar a com­preender o pensamento de Deus, pelo menos no que diz respeito à nossa vida, quer afinando os sentidos no caminho da espiritualização, quer, para os que não conseguem olhar para dentro, olhando para fo­ra, ou seja, observando o que vai acontecendo co­nosco e ao redor de nós. Não podemos negar que a primeira origem de tudo está na profundidade, e que Deus, embora não tenha mãos, opera. A nossa vida e o nosso destino não se desenrolam ao acaso, mas são dirigidos por Deus. Então, se os acontecimentos podem, até certo ponto, ser o efeito da nossa vonta­de, em grande parte exprimem também a vontade de Deus. As duas vontades se misturam, colaborando quando concordam, e em luta uma contra a outra quando são discrepantes. No primeiro caso, dizem a mesma coisa, e então é fácil conhecer a vontade de Deus. No segundo caso, dizem duas coisas diferen­tes. Mas, quando tivermos separado desse conjunto o que é efeito da nossa vontade, restará aquilo que nos vai revelar qual é a vontade de Deus a nosso respeito.

Se observarmos a nossa vida, veremos que há fatos sobre os quais podemos exercer a nossa livre­-escolha à vontade. Mas, veremos também que exis­tem outros fatos acima da nossa vontade; são acon­tecimentos em relação aos quais não há escapató­rias. Há uma parte da nossa vida regida como que por um destino, com características quase de fatalida­de; há uma outra vontade, maior do que a nossa, à qual, queiramos ou não, temos de obedecer. Muitos acontecimentos parecem possuir uma vontade própria contra a qual não adianta rebelarmo-nos, nem deles fugir, apesar de o tentarmos por todos os meios. Na vida, há para todos uma parte livre, mas também existe uma parte em relação á qual vigora o princí­pio de aceitação. Aqui está a vontade de Deus, e o espírito da nossa desobediência não tem poder algum. Esta parte pode ser triste ou alegre, de satisfação ou de sofrimento, mas é sempre justa, obrigatória, impos­ta pela Lei. Em geral, esta é a conseqüência fatal do que livremente semeamos em nosso passado; fatal, não por um princípio de fatalismo que nos faria autômatos irresponsáveis, mas como efeito exato da nossa livre-vontade e do que ela quis realizar no ter­reno das causas, para que, conforme a Lei, tivesse de atuar no terreno dos efeitos. Aqui termina o do­mínio da nossa livre-escolha e vigora, em seu pleno poder, a Lei, que exige sempre obediência.

Entramos aqui no domínio do destino, e vemos a maneira pela qual o construimos para nós mesmos. O que domina tudo e todos é sempre a Lei, ou seja, a Vontade de Deus. Disso não se pode escapar. Mais cedo ou mais tarde temos de obedecer. Os inteligen­tes procuram conhecer a Lei nos seus princípios ge­rais e a Vontade de Deus no caso particular das suas vidas. Aceitando o que eles sabem que e justo, evi­tam atritos, choques, revoltas que geram a dor. Este é o caminho direto, mais proveitoso, menos doloroso. Se cometeram erros, estão prontos a pagar, de boa vontade, conforme a Lei de Deus. O método da acei­tação pacífica resolve o conflito entre a criatura e a Lei, de maneira mais rápida e tranqüila, qualquer que seja a pena que se deva pagar.

Os que não possuem esta inteligência e boa von­tade, os que estão ainda mergulhados na ignorância  e na revolta, ao invés de aceitar, rebelam-se, aumen­tando assim as suas faltas, piorando a sua posição, amontoando novas dívidas por cima das antigas. Estão acostumados a usar o sistema próprio do plano de vida animal do homem na Terra, segundo o qual o mais forte é o que vale e vence. Mas, não sabem que esse plano de vida inferior encontra-se regido pelas leis dos planos superiores, que a violência só pode dar fruto na Terra e unicamente nesse baixo nível de vida é passível o domínio da injustiça. O que esse tipo de homem julga ser a lei de tudo, não é senão a lei do seu ambiente terrestre. O homem usa, assim, um método errado, o método da revolta, pen­sando que por seu intermédio consegue vencer, im­pondo-se, quando, na verdade está usando um mé­todo que serve apenas para fabricar a dor.

Mas, é lógico e justo que assim seja, porque a dor é a única voz por ele compreendida, e não há outro caminho para guiar um indivíduo, que por natureza tende a ser livre, até compreender a existência da Lei. Rebelar-se é o maior erro que se possa cometer. Se a Lei do universo quer que o caminho para a fe­licidade seja o da obediência, é lícito ao homem construir para si quantos sofrimentos queira, porque isto lhe faz abrir os olhos e o obriga, para seu bem, a aprender. Mas não lhe é lícito destruir a Lei, pois nesse caso, se ele possuísse esse poder lançaria tudo no caos. Se Deus permitisse ao homem tanto poder, a ruína e o sofrimento humanos já não seriam ape­nas momentâneos e suscetíveis de reparação por in­termédio da dura limpeza feita pela dor, mas seriam um fracasso definitivo, um mal irreparável, uma derrota de toda a obra de Deus, sem outra possibilidade de salvação.

De certo, a ignorância e a rebeldia do homem al­mejariam chegar até àquele fim. Mas, a sabedoria e a bondade, de Deus o salvam de um tão grande de­sastre à força, para seu bem, constrangendo-o a que ele não se perca, obrigando-o a limpar-se, a corrigir-se, a aprender através da dor. Perante um quadro de lógica, bondade e justiça assim tão perfeitas, há ainda no mundo gente que, sem ter compreendido nada, quer julgar Deus como culpado dos sofrimen­tos que há no mundo. Procuram-se assim infelizes es­capatórias, lançando-se a culpa em Deus ou em seus próprios semelhantes. Mas, é inútil. Tudo fica na mesma. Os erros têm de ser corrigidos, as dívidas têm de ser pagas, a lição tem de ser aprendida. Quan­do chega a dor, nunca queremos admitir que a culpa seja nossa, e não de outros. Perante a Lei, cada um se encontra sozinho e trabalha por sua conta. Cada um fica com o destino que quis construir para si mes­mo. Rebelar-se é pior. O mais que pode fazer é re­signar-se e corrigir-se, construindo para si, de agora em diante, um destino melhor, de convicta obediên­cia a Deus, agradecendo-Lhe pela dura lição que vai conduzi-lo à felicidade.

Esta é a verdade mais importante que cada um precisa compreender: Deus é, em tudo e sempre, o dono absoluto e da Sua Lei não nos podemos evadir. Seja qual for a religião a que o homem pertença, seja o maior dos ateus, ele obedeceu, obedece e obede­cerá sempre a Deus, no sentido de que não pode es­capar da Sua Lei. Por exemplo: o fato de pertencer­mos a uma ou outra crença não nos isenta da depen­dência da lei da gravitação. O erro está em acredi­tar que estas verdades, das quais estamos falando, sejam particulares a este ou àquele grupo, religião ou filosofia humana, quando, de fato, são verdades que existem, continuam existindo e funcionando, mes­mo quando o homem não as conheça ou não as quei­ra admitir. Elas existem de maneira independente do conhecimento, da negação e mesmo da existência do homem. A conclusão é que todos obedecem a Deus: os crentes sabendo o que fazem, os descrentes sem o saberem; os bons, de boa vontade, de olhos aber­tos, por amor, sustentados pela justiça de Deus; os maus, de má vontade, nas trevas, revoltados, com raiva, esmagados pela mesma justiça de Deus.

É bem estranha e primitiva esta maneira de con­ceber tudo em função de si mesmo, pela qual o ho­mem se faz centro, finalidade única e também dono, se pudesse, da criação. Mas, em quantos erros e ilusões  psicológicas ele incorre nessa primitiva maneira de conceber as coisas! E com quantas dores terá o homem de pagar a sua ignorância! Quantas vezes terá de bater a sua dura cabeça contra as paredes da Lei, até que compreenda quão inútil e dolorosa é a loucura da sua rebeldia, e quão grande é a vanta­gem de coordenar-se com a Lei, conforme a Vontade de Deus!

Esta Vontade, saibamos ou não, queiramos ou não, é a atmosfera que todos respiramos, da qual não podemos sair, assim como respiramos o ar da atmos­fera terrestre inevitavelmente. Os materialistas jul­gam que a ciência poderá impor-se à Lei de Deus, quando na verdade poderá apenas demonstrá-la. E, ao mesmo tempo em que eles estão trabalhando pa­ra construir um mundo sem a espiritualidade, a Lei rege a evolução da vida, e os dirige, impulsionando-os para construir um mundo baseado nessa espiri­tualidade. Construtores e destruidores, apesar de o fazerem de forma oposta, de fato todos colaboram dentro da mesma Lei, para realizar a mesma construção. Assim como a morte é necessária para gerar a vida, e colaborar com ela para constantemente re­nová-la, sem o que não seria possível a sua evolu­ção, assim, os destruidores são necessários para rea­lizar os mais baixos trabalhos de limpeza do terreno, sobre o qual de outra maneira não seria possível construir. Trata-se de um trabalho feio, desagradável, desairoso, mas necessário, que os construtores, de raça mais nobre, nunca fariam, nem poderiam fa­zê-lo, porque, depois de terminado, quem o executou tem de ser afastado para não prejudicar a nova cons­trução. Eis, de fato, o que vemos acontecer nas revo­luções, nas quais é raro constatar que quem as rea­lizou tenha recolhido para si o fruto das suas lutas.

Continuaremos nestas nossas conversas, obser­vando quão profunda é a sabedoria da Lei e quão grande é a ignorância do homem a seu respeito. Concluímos a nossa conversa de hoje observando que, queiramos ou não, nos fatos concernentes a nós, afinal de contas, a nossa vontade e a Vontade de Deus trabalham juntas. Não que a boa vontade do homem tenha de colaborar, mas porque Deus permi­te que trabalhe também a nossa vontade, para a qual estabelece limites, efeitos e direção final. Pode­mos assim calcular quantas forças atuam entrelaça­das, a todo momento, em cada ato da nossa vida. Antes de tudo, está presente a nossa vontade passa­da, agora na forma dos seus efeitos que aparecem como fatais. Acima desses impulsos sobrepõe­-se e opera a nossa vontade atual que tem o poder de corrigir, nos seus efeitos, aquela nossa vontade passada, iniciando novos caminhos ou endireitando os antigos. Mas, todo esse trabalho o homem não o cumpre sozi­nho, abandonado a si mesmo; antes, o executa ao longo dos trilhos de uma estrada já marcada pela Lei de Deus, que estabelece até onde o ser está livre para errar, o poder e a natureza das reações da Lei ao erro, a técnica da elaboração e assimilação de expe­riências e a meta final de todo o grande caminho da evolução. Estamos no começo das nossas explica­ções e já podemos vislumbrar quantas coisas contém a nossa vida de cada dia, mesmo nos seus impulsos e atos mais simples.

Pietro Ubaldi: Livro: A lei de Deus

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.