PRIMEIRA PARTE
AS PARÁBOLAS E A SUA INTERPRETAÇÃO
Na acepção geral do termo, parábola é uma narrativa
que tem por fim transmitir verdades indispensáveis de serem compreendidas.
As Parábolas dos Evangelhos são alegorias que contêm
preceitos de moral.
O emprego contínuo, que durante o seu ministério Jesus
fez das parábolas, tinha por fim esclarecer melhor seus ensinos, mediante
comparações do que pretendia dizer com o que ocorre na vida comum e com os
interesses terrenos. Sugeria, assim, o Mestre, figuras e quadros das
ocorrências cotidianas, para facilitar mais aos seus discípulos, por esse
método comparativo, a compreensão das coisas espirituais.
Aos que o ouviam ansiosamente, procurando compreender
seus discursos, a parábola tornava-se-lhes excelente meio elucidativo dos temas
e das dissertações do Grande Pregador.
Mas os que não buscavam na parábola a figura que
compara, a alegoria que representa a idéia espiritual, e se prendiam à forma,
desprezando o fundo, para estes a Doutrina nem sequer aparecia, mas
conservava-se oculta, como a noz dentro da casca.
Daí a resposta de Jesus aos discípulos que lhe
inquiriram a razão de Ele falar por parábolas: “Porque a vós é dado conhecer os
mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é isso dado. Pois ao que tem,
dar-se-lhe-á e terá em abundância; mas ao que não tem; até aquilo que tem ser-lhe-á
tirado.”
“Por isso lhes falo por parábolas, porque vendo não
vêem; e ouvindo não ouvem, nem entendem. E neles se está cumprindo a profecia
de Isaías, que diz: Certamente ouvireis, e de nenhum modo entendereis. Porque o
coração deste povo se fez pesado, e os seus ouvidos se fizeram tardos, e eles
fecharam os olhos; para não suceder que vendo com os olhos e ouvindo com os
ouvidos, entendam no coração e se convertam e eu os cure.”
Pelo trecho se observa claramente que os fariseus e a
maioria dos judeus, em ouvindo a exposição da parábola, só viam a figura
alegórica que lhes era mostrada, assim como, quem não quebra a noz, só lhe vê a
casca.
Ao passo que com seus discípulos não acontecia à mesma
coisa; eles viam e ouviam o ensino, o sentido espiritual que permanece para
sempre; não se prendiam à figura ou a palavra sonora, que se extingue
desvanece.
De modo que os fariseus ouviam, mas não ouviam; viam,
mas não viam (*); porque uma coisa é ver e ouvir com os olhos e ouvidos do
corpo, outra coisa é ver e ouvir com os olhos e ouvidos do Espírito.
(*) Em outros
termos: ouviam, mas não escutavam; viam, mas não enxergavam.
A condição que Jesus expõe, como sendo indispensável
“para nos ser dado e possuirmos em abundância” é como diz o texto, de “nós
termos” — Mas “termos” o quê? Certamente algum princípio doutrinário unido à
boa vontade para recebermos a Verdade — “Aquele que tem ser-lhe-á dado e terá
em abundância.”
E o obstáculo à recepção da sua Doutrina é o indivíduo
“não ter” — não ter a mais ligeira iniciação espiritual e não ter boa vontade
para receber a Nova da Salvação.
De modo que a Parábola Evangélica é uma instrução
alegórica, exposta sempre com um fim moral, como um meio fácil de fazer
compreender uma lição espiritual, pelo menos, a opinião do evangelista Mateus
quando diz: “Todas estas coisas falou Jesus ao povo em parábolas, e nada lhes
falava sem parábolas; para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta:
Abrirei em Parábolas a minha boca, e publicarei coisas escondidas desde a
criação.” (Mateus, XIII, 34-35).
Finalmente, as Parábolas têm pouca importância para os
que as tomam como foram escritas; demais, o sentido nunca deve ser desnaturado
ou transviado, sob pena de prejudicar a Idéia Cristã. Por exemplo, ao que vê na
parábola do “tesouro escondido” um meio de enriquecer materialmente, ou na
parábola do “administrador infiel” uma lição de infidelidade, lhe será
preferível fechar os Evangelhos e continuar a tratar de seus negócios
materiais.
A inteligência dos Evangelhos explica perfeitamente a
interpretação espiritual que Jesus dá aos seus ensinos. Se os Evangelhos fossem
um amontoado de alegorias sem significação espiritual, nenhum valor teriam.
Autor: Cairbar Schutel: Livro Parábolas e Ensinos de Jesus
Fonte: www.autoresespiritasclassicos.com
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