segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Temos alma?

 



Temos alma? Tal é a questão que nos propomos estudar neste capítulo. Parece, à primeira vista, que este problema pode ser facilmente resolvido, porque desde a mais remota Antigüidade as pesquisas dos filósofos tiveram por objeto o homem, sua natureza física e intelectual; poder-se-ia crer que chegaram a um resultado? Pois bem, conforme alguns sábios modernos, não é assim.
Os antigos que tinham tomado por divisa a célebre máxima “conhece-te a ti mesmo” não se conheciam. Eles imaginavam que o homem fosse composto de dois elementos distintos: a alma e o corpo; basearam, nessa dualidade, todas as deduções da filosofia, e eis que, em nossa época, uma escola nova acha que eles se enganaram; que em nós tudo é matéria; que a antiga entidade qualificada com o nome de alma não existe; e que é preciso abjurar esse velho erro, filho da ignorância e da superstição.
Antes de nos submetermos passivamente a esse aresto, examinemos se os argumentos fornecidos pelos materialistas têm, realmente, o valor que lhes querem atribuir. Procuraremos acompanhá-los no próprio terreno e tentaremos discriminar o que de verdadeiro e de falso existe em suas teorias. Anteporemos, em relação aos seus trabalhos, as conclusões imparciais da ciência e da especulação modernas. Dessa comparação nascerá, assim o esperamos, a certeza de que existe em nós um princípio independente da matéria, que dirige o corpo, e a que chamamos alma.
Àqueles que duvidarem da utilidade, para o homem, do princípio espiritual, responderemos: não há assunto mais digno de nossa atenção, porque nada nos interessa mais do que saber quem somos, para onde vamos e donde viemos.
Tais questões se impõem ao espírito, após os dolorosos acontecimentos aos quais ninguém está isento neste mundo.
A alma, iludida e mutilada, recolhe-se a si própria, depois dos combates da existência, e indaga por que o homem está na Terra, se seu destino é o de sofrer sempre?
Quando se vê o vício triunfante ostentar o seu esplendor, a quem não ocorre a idéia de que os sentimentos de justiça e de honestidade são palavras vãs? Afinal de contas, não é a satisfação dos sentidos o fim supremo ao qual aspiram todos os seres?
Quem de nós, tendo ardentemente perseguido a realização de um sonho, não sentiu o coração vazio e a alma desenganada, depois de o haver atingido? Quem de nós não indagou, quando o turbilhão da existência lhe tenha deixado um instante de repouso: – Por que estamos na Terra e qual será o nosso futuro?
O sentimento que nos impele a essa pesquisa é determinado pela razão que quer, imperiosamente, conhecer o porquê e o como dos acontecimentos que se realizam em torno de nós. É ela que nos põe no coração o desejo de aprofundar o mistério de nossa existência. Se em meio ao ruído das cidades essa necessidade se impõe algumas vezes ao nosso espírito, com muito maior força, ainda, ela se apossa de nós, quando, ao deixar os centros populosos, nos encontramos face a face com as naturezas eternas, imutáveis. Ao contemplar os vastos horizontes de imensa paisagem, os céus profundos, semeados de estrelas, verificamos a nossa pequenez no conjunto da criação. E ao lembrar que os mesmos lugares em que agora nos encontramos foram pisados por inumeráveis legiões de homens, que não deixaram outros traços além do pó de seus ossos, perguntamos, com angústia, por que esses homens viveram, amaram e sofreram?
Quaisquer que sejam as nossas ocupações, quaisquer que possam ser os nossos estudos, somos levados invariavelmente a ocupar-nos de nosso destino, sentimos a necessidade de conhecer-nos e de saber em virtude de que leis nós existimos.
Seremos o joguete das forças cegas da natureza? Nossa raça, que apareceu na Terra depois de tantas outras, não será mais que um anel dessa imensa cadeia de seres que se deve suceder em sua superfície? Ou efetivamente será a plena eclosão da força vital imanente de nosso Globo?
A morte, enfim, dissolverá os elementos constitutivos do nosso corpo para os mergulhar de novo no cadinho universal, ou conservaremos, depois dessa transformação, uma individualidade para amar e recordar?
Todos esses pontos de interrogação se erguem diante de nós nas horas de dúvida e de reflexão; eles prendem o espírito na rede de idéias que suscitam e obrigam o mais indiferente dos homens a indagar: Existe a alma?

Gabriel Delame: livro: Espiritismo perante a Ciência

 Fonte: www.autoresespiritasclassicos.com

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