sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Influência da ciência futura...

 

 

Parte Quarta
PAUL GIBIER
ANÁLISE DAS COISAS

Influência da ciência futura sobre as
religiões, filosofias, ciências, artes, etc.

Capítulo único

Perturbações e revoluções que os novos dados da Ciência vão causar nos diferentes ramos do “intelecto humano”. – Perturbações nas opiniões religiosas. – O grande Pan morreu! Viva o grande Pan! – Religião nova. – Ciclo das religiões ou ciclo da religião-ciência. – Perturbações nas ciências, na medicina, na biologia. – As artes, e principalmente a literatura, começam a sentir a influência da “ciência de amanhã”. – A lenda das pedras. – Olhar retrospectivo e sintético. – Maneira de ser do sábio.
O leitor não deve esperar encontrar nas poucas páginas seguintes um desenvolvimento tão completo do assunto como lhe pareceria esperar, talvez, o título desta quarta parte. Segundo penso, seria mister um volume inteiro para dar uma idéia justa das transformações revolucionárias que serão produzidas nos objetos de culto religioso ou intelectual do homem, pelas descobertas da Ciência nova.
Como é bem de ver-se, não será sem provocar um movimento imenso, nos diferentes ramos do intelecto humano, que os fatos aos quais me referi vão ser estudados, como nunca o foram talvez, e levados ao conhecimento do público. É que hoje se tornou impossível esconder coisa alguma durante muito tempo: a imprensa aí está de alcatéia e nada se pode dizer em uma “Sociedade” sem ser imediatamente atirado aos quatro ventos.
Em primeiro lugar, já não existem os mesmos perigos que obrigavam a conservar secretos os trabalhos executados nos laboratórios dos templos antigos. As multidões são sempre multidões, mas têm melhorado e cada dia se tornam menos estúpidas e menos perversas: seguem a lei de progressão lenta, mas indefinida, a que tudo obedece, assim como a história, embora tão curta, no-lo ensina.
Oh! sabemos todos, por experiência, que isto não se fará sem lutas; porém estas não têm faltado em grande número e já se operou uma revolta da opinião: grande parte da moderna geração, não tendo os motivos de oposição das suas predecessoras, encara, sem repugnância, estas “novidades” a respeito das quais ainda não aprendeu a surpreender-se.
Se quisermos prever o que sucederá nos diferentes campos religiosos que dividem o mundo civilizado, será fácil fazermos uma idéia da perturbação aí produzida pela vulgarização desses antigos dados sancionados pelo método experimental moderno.
Desde o começo, ver-se-ão padres, pastores, ministros e bispos, homens honestos e de boa-fé, sair cada um das fileiras do clero, declarando que sua honestidade lhes proíbe ensinar coisas nas quais eles não podem mais crer...[i]
Outros [ii] rogarão ao pontífice de Roma que se ponha à testa de um movimento de reforma, na qual entrariam todas as seitas cristãs e todas as Igrejas cismáticas. “Seria, dirão, o começo do reino de Deus. A Igreja, dividida desde o princípio, depois de ter sido impotente, apesar das fogueiras e dos potros sangrentos, para reprimir centenas de heresias que lhe dilaceram o seio, a Igreja encontraria salvação na Ciência.”
Porque a Ciência mostrará, no fim das contas, que, se os símbolos diferem, todos os esoterismos se parecem, e que no fundo só há uma religião.
Mas é dificílimo edificar um belo e sólido edifício com velhos materiais provenientes de ruínas semiconsumidas. A grande maioria dos clérigos, por ignorância ou por cobiça, gritará que o dia do Anticristo, anunciado nas Escrituras, chegou, que todas essas invenções dos sábios não são mais que manifestações da potência infernal do Príncipe das Trevas. E todos, grandes e pequenos pontífices, obstinar-se-ão e ocultarão a cabeça por detrás dos seus símbolos incompreendidos, tapando os olhos à verdade, à simples, à imponente verdade. E, não a descobrindo, gritarão que ela não existe!...
Ainda não está, com efeito, em véspera de extinguir-se a raça dos que querem obrigar o homem adulto a andar calçado como as crianças, impondo hoje à sua razão revoltada os ensinamentos de séculos, como já o escrevi, desarraigar de nossos espíritos “os erros que se infiltraram em nossas veias com os sucos do leite materno”. Porque, como disse Dryden:
“Muitos de nós fomos transviados pela educação: acreditamos naquilo que nos ensinaram; o sacerdote continua a obra da aia e é assim que o menino persiste no homem feito.” [iii]
Mas a voz que, dizem, se fez ouvir outrora bradando: “O grande Pan morreu!”, a mesma voz proferirá estas palavras mil vezes repercutidas em todos os cantos da terra: “Viva o grande Pan!” Porque uma nova religião vai surgir. Seus adeptos serão reconhecidos, porque não hão de vociferar “anátema!” contra ninguém. Eles dirão, ao contrário: “Fora da nossa Igreja, haveria salvação, ainda mesmo quando conseguissem permanecer fora dela.” Mas isso não é possível, porque ela chama-se Mundo e, sob esse título, é verdadeiramente universal; é a Igreja de Pan, a Igreja do Grande Todo.
Eles não hão de procurar converter ninguém, mas convencerão todo o mundo, cada um a seu tempo, porque, assim como já vimos, os homens acabam sempre ficando de acordo sobre coisas que podem ser submetidas ao exame dos sentidos, principalmente se estes são auxiliados pelos bons instrumentos da ciência moderna, que, ao menos esses, não têm opinião preconcebida.
Ensinarão que devemos tudo submeter ao julgamento da nossa razão e nada aceitar sem exame. Proibirão que se acredite e aconselharão que aprendam para saber.
Eles não marcarão limites ao possível do conhecimento, como fazem os positivistas.
Não dirão aos homens: “Amai-vos uns aos outros”, mas sim “Amai-vos a vós mesmos. Mas sabei que não conseguireis amar-vos a vós mesmos se não amardes os outros, tanto ou mais que a vós.” Coisa que, algebricamente, se exprime por esta fórmula: “O altruísmo é o egoísmo verdadeiro.
Ensinarão às sociedades que elas só terão uma vida efêmera e perturbada, se não tomarem por modelo de sua organização a do corpo do homem feito à imagem do Mundo. E assim, hão de acabar as guerras fratricidas entre os membros de uma mesma nação.
Ensinarão aos povos que eles não poderão ter existência próspera e durável senão com a condição de viverem com os outros grupos humanos, como membros de uma família feliz entre si. E, assim, terminarão as guerras homicidas entre as nações, que são os membros da família humana.
Demonstrarão por A mais B, aos de coração duro, frio e egoísta, que seu próprio interesse lhes manda procederem como se fossem bons, porque a miséria do pobre destila um fel amargo e virulento, que se infiltra até na taça do rico e contamina as veias dos seus filhos.
Não haverá, provarão eles, nem ventura nem civilização verdadeiras enquanto existir um mendigo ou um soldado entre vós.
Seus concílios não terão outro Credo senão os dados do método experimental. Seu culto será o do progresso humano para o não-sofrimento, e ganharão o mundo sublunar à sua Sinarquia fraternal.
Assim, terminará um ciclo a mais: o ciclo das religiões. No começo das sociedades humanas, com efeito, a religião confunde-se, rudimentar e fetichista, com a ciência do homem infantil e sem princípios. Mas tarde, ao passo que a Ciência se desenvolve, ela se desvia da religião primitiva. Mas a Ciência caminha, e quando toca o seu zênite, confunde-se de novo com a religião. Mas quão diferentes são as coisas: no princípio a ilusão, a ignorância; no apogeu a clara e brilhante verdade, preparando a era da fraternidade real.
Utopias? Certamente, hoje que a anarquia reina em toda parte: anarquia nas idéias religiosas e filosóficas, nas idéias políticas e sociais, anarquia nas nações e entre as nações; em toda parte a anarquia.
Os povos, no fim do século XIX, tinham feito acumulações de energia homicida sob a forma de engenhos aperfeiçoados (ó barbaria científica) e uma faísca fará tudo explodir. Um medonho cataclismo de ferro, sangue e fogo ameaça a Europa e a insânia da carnificina propaga-se por toda a superfície da Terra, ao passo que a força, a inteligência e o ouro despendidos para espalhar a morte, semear a desgraça e as lágrimas, poderiam seguramente criar uma média de felicidade terrestre perfeitamente satisfatória, tanto no plano material quanto no plano moral. Por isso, ainda não chegou o dia da vitória da Justiça fraterna, e nada parece anunciá-lo, hoje que os povos vêem tudo cor de sangue; mas, quando o furacão passar, quando os que sobreviverem abrirem os olhos, o mal produzirá o bem.
* * *
Depois do que havemos dito, será mister mostrar a que governo obedecerá o leme da Filosofia sob o impulso da Ciência nova? Penso que não. Podemos bem conceber que, com o auxílio dos conhecimentos positivos, cuja aquisição na Filosofia vai ser possível, a Filosofia dará um grande passo para a frente, porque os limites do cognoscível estão já consideravelmente recuados, ao menos para alguns dentre nós.
Não insistirei mais a respeito das mudanças que prevejo nas Ciências.
A influência da nova ciência, por enquanto, fez-se pouco sentir sobre as artes propriamente ditas, mas a literatura já está cheia de produções em que o talento sobra e cujos assuntos são por ela inspirados; o que às vezes falta aos seus autores é o conhecimento real e, não raro, a sinceridade.
Uma arte que tende de mais a mais a tornar-se uma ciência – a medicina – vai receber um impulso extraordinário, quando laboratórios forem instituídos para as pesquisas psicológicas, porque há que criar laboratórios cujos trabalhos e descobertas terão conseqüências tais que nenhuma das ciências contemporâneas pode dar uma idéia: são os laboratórios e é o instituto da futura Ciência. Os que se dedicarem a esses estudos, no caráter de sábios, cobrir-se-ão de glórias; seus nomes irão mais longe no tempo e na posteridade, do que os de qualquer dos cientistas atuais.
A primeira nação que animar as investigações desta ciência marcará sua passagem com um sulco luminoso na história dos povos...
* * *
Era minha primeira intenção dar, por meio de observações e exemplos recentes, uma idéia da influência considerável que terão sobre a arte de curar os estudos dos quais tratamos aqui; mas, à última hora, recuei. E apesar da audácia e do êxito de Brown-Sequard, que acaba de inventar, ou de tornar a achar, o licor da Mocidade, detenho-me para não comprometer o que já começa a ser admitido.
Mas, não nos esqueçamos: em certos ramos da biologia e, conseqüentemente, da medicina tudo deve ser refeito sobre um plano novo.
* * *
Se, no momento em que chegar ao fim deste volumezinho, o leitor me objetar que seu conteúdo não satisfez completamente a esperança que lhe havia feito nascer o título, responderei não ser isso inteiramente por culpa minha. Dei-o a entender, por mais de uma vez, nas páginas que precedem: não me julgo autorizado a dizer tudo, e isso por muitas causas, por mais inverossímeis que pareçam certas coisas asseveradas nesta obra.
“Às vezes, pode o verdadeiro não ser verossímil” (Le vrai peut quelque fois n’être pas vraisemblable), elas não são, todavia, tão “extraordinárias” como outras intencionalmente não divulgadas. Foi para não comprometer o todo que só falei de uma parte.
Além disso, grandes e simples verdades não devem ainda ter publicidade: em atenção a elas mesmas, não devem ficar expostas às chacotas da multidão ignara e puerilmente presunçosa, cujos sarcasmos mataram Copérnico de pesar; da multidão que escarneceu de Franklin em seu começo e ridicularizou Galvâni apelidando-o “mestre-de-dança das rãs”, y muchos otros. Não falo dos gênios benfeitores a quem torturaram e deixaram morrer de fome, “contentando-se, após exame insano e longo, com erigir-lhes uma estátua, para glória do gênero humano”.
De modo que, só do século devem queixar-se, se não faço menção alguma das origens da vida sobre os planetas em geral e sobre a Terra em particular, nem da lei de evolução que Lamarck, Darwin e R. Wallace lobrigaram sobre uma de suas faces; nem também do papel da inteligência nos animais. São questões, estas, que encontrarão exame em tempo determinado.
* * *
Alguns leitores, talvez, nos farão esta reflexão: “Mas, enfim, de que nos serve sofrer e lutar na Terra, através do invólucro material, se realmente podemos existir sem ele?
Lamento não o poder satisfazer, nesse ponto, porque, aqui também, sou retido pela reserva “que me liga”. Arriscar-me-ei, todavia, a usar da “parábola”. E como é uma questão de que me ocupo em outro trabalho, que publicarei algum dia, tomo a liberdade de citar-me, extraindo uma “lenda” da obra a que faço alusão.
A lenda das pedras
Houve tempo em que os homens mais instruídos da sua época acreditavam que, de entre os seres, só o homem sentia. Depois, reconheceu-se em que erro caíram, mas não se vai até ao fim: toda matéria é sensível. O hilozoísmo é uma teoria exata e verdadeira: por exemplo, todos os corpos, sem exceção, sentem o calor e o frio e no-lo mostram... O éter, isto é, a vida, está em toda parte.
Bem, um dia (era no tempo em que as pedras falavam), uma pedra escura e informe contava seus males a uma de suas semelhantes e dizia-lhe:
– Um ser, que se intitula o rei da Criação, arroga-se o direito de bater-nos, em mim e nos meus, de ferir-nos a golpes de instrumentos duros e cortantes. Ele quebra-nos, despoja-nos do melhor de nós mesmos e só descansará, receio bem, depois que nos tiver reduzido a nada.”
A outra lhe respondeu:
– Vossas desgraças não têm valor, comparadas às nossas: sabei que esse rei bárbaro, esse deus sem coração, o homem, pois que devo chamá-lo por seu nome execrando, veio arrancar-nos do seio da terra, onde repousávamos sossegadas há tanto tempo, que já havíamos perdido a lembrança da nossa origem. Ele agarrou-nos, minha irmã, com o mesmo ferro sob o qual gemeis e, além disso, joga-nos em fornalhas ardentes, onde o sangue se nos carboniza e se transforma em vapores; onde os nossos ossos, primeiramente calcinados, fundem-se depois, debaixo de um sopro infernal...
Era assim que duas pedras informes e escuras proferiam suas queixas no seio uma da outra.
Mas, algum tempo depois, encontraram-se elas reunidas sobre a cabeça do “rei”, que maldisseram, sobre a fronte do deus contra quem blasfemaram. Encontraram-se, uma sob a forma de um círculo de ouro cintilante, outra sob a de um diamante de onde irradiavam mil chispas. E todos as admiravam.
Então, um tanto embaraçadas, disseram:
– Quão loucas éramos nós, minha irmã, quando lastimávamos a nossa sorte; em lugar de grosseiros pedaços de matéria tosca, que éramos, passamos por todos os graus da perfeição e resplandecemos hoje, com vivíssimo brilho, na fronte do nosso senhor, que nos uniu à sua glória!”
* * *
Se lançardes um olhar sobre o que precede, compreendereis a idéia que guiou o autor nessa “análise das coisas”, cujos elementos procuraremos reunir em um curto resumo sintético.
Como em uma espécie de visão rápida, o autor quis, primeiramente, dar uma idéia do conjunto do Cosmos, no começo de um ciclo; depois, mostrar a constituição do círculo cósmico, no qual um círculo concêntrico análogo, o homem, se encontra encerrado como um núcleo em uma célula. Não podendo lançar mão temerária às profundezas do macrocosmo, o autor apenas arriscou uma tímida comparação entre este último e o homem, esse microcosmo, cuja natureza estudou com mais minúcias e mais possibilidades.
Por derradeiro, o autor esforçou-se por mostrar que o homem se compõe de um princípio imediatamente perecível – a matéria – que não é realmente ele, e de um princípio superior – a inteligência – que é o seu eu real e sobrevivente à matéria, a qual opera por meio de um terceiro princípio – a energia – que também não é ele, senão a matéria. E eis por que, quando a morte, que é a separação desses três princípios fundamentais, ocorre, se efetua em dois períodos primitivos: 1º) a fase intelectual; 2º) a fase anímica; a elas poderíamos adicionar a fase material, isto é, a transformação completa da matéria, se esta não ficasse, logo após a partida do Espírito, tão indiferente a este último.
O que distingue a teoria esboçada nesta obra das teorias animistas anteriores é que ela apresenta o homem como um todo composto de inúmeras partes semi-autônomas. Cada uma das células do corpo humano tem sua matéria (corpo), sua energia (alma) e seu rudimento de inteligência própria (espírito). Mas, estão ligadas ao destino do corpo inteiro (necessidade) e o homem razoável interessa-se por seu bom funcionamento (providência, providere). O conjunto das células constitui o homem, modelo reduzido do Universo.
Notemos, de passagem, que a energia tanto melhor opera na matéria, quanto mais delicadas, mais instáveis, mais afastadas, em suma, do estado mineral são as combinações em que ela se organiza. E que, de outra parte, o Espírito opera sobre a energia quando esta se animiza, isto é, quando mais se aproxima de um estado vizinho do seu.
Em outros termos, a vida, tal como a observamos, mostra-se no ponto de convergência de três princípios; ou, se preferirdes: o Espírito animizou a energia e organizou a matéria, para fazer agir uma sobre outra e dar vida ao Ser.
* * *
Vou terminar, com a consciência de não ter feito um trabalho completamente inútil. Sei, em todo caso, que ele não será perdido para todo o mundo.
O homem é a execução de uma lei. Sua existência é uma sucessão de tarefas; a minha, por esta vez, está cumprida.
A vida foi-nos dada como um quadro a desenhar.
Esse quadro cerca um espaço maior ou menor; podemos, agindo na medida da liberdade que a necessidade concede à nossa vontade, deixá-la em branco pela futilidade dos nossos atos. Podemos, ainda, produzir um quadro horroroso, mau, ou somente medíocre, como podemos imprimir-lhe uma pintura alegre ou uma obra-prima de graça e beleza, que as gerações futuras hão de admirar, associando-lhe nosso nome por longa série de anos.
O autor julgar-se-á feliz se o canto do quadro que ele enche com o presente trabalho estiver à altura da intenção que o inspirou.
* * *
No momento de lançar os olhos pelas últimas linhas destas páginas, que talvez lhe tenham despertado algum interesse, rogo ao leitor acreditar que, escrevendo-as, só fui guiado pelo sentimento de tornar-me útil.
Não sei se as teorias que emiti, e que não pousam diretamente sobre a experimentação, serão verificadas. Isso, porém, não importa! Servirão, talvez, para a origem de outras melhores.
Não importa quanto àquilo que me diz respeito; porque, assim como eu me pronunciava o ano passado, em Havana, depois de muitos meses de estudo sobre a febre amarela,[iv] com esses mesmos pensamentos, nos quais espero sempre inspirar-me, quero agora concluir:
O sábio, que procura a verdade por si e para o bem geral, contempla as coisas do Alto. Aplica-se a reduzi-las às suas verdadeiras proporções, considerando a imensidão do Tempo e do Espaço.
Com indiferença, ele assiste à ruína de suas próprias teorias, quando fica demonstrado que elas não poderiam conduzir ao caminho da verdade, e é sem despeito que ele cede o lugar a outras melhores.
Medindo o valor das reputações pelos vestígios do bem deixados, ele não trabalha por uma celebridade vã; porque não pode ignorar que as mais brilhantes glórias desaparecem esquecidas e sem nome no Oceano dos Tempos, como é lei do destino.
Sente, sabe enfim, que não passa de uma das células solidárias desta grande personalidade coletiva que se chama Humanidade; e é por ela que luta e sofre, se for preciso, sem preocupação de recompensa. 


[i]    É o que já se vai produzindo: sem falar da Europa, vemos muitos exemplos desses na América. Vede no New York Herald, de 25 de abril de 1889, um artigo intitulado The Self-Confessed Heretic.
[ii]    Como o padre Roca, cônego honorário, que foi logo suspenso.
[iii]   By education most have been misled;
So we believe because so we were bred,
The priest continues what the nurse began,
And thus the boy imposes on the man.
[iv]   Conferência aos médicos de Havana, junho de 1888.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.