domingo, 28 de agosto de 2011

Das Trevas a Luz





O que vimos afirmando neste livro não está assente no ar, nem é fruto apenas de uma escola filo­sófica ou de uma opinião pessoal. Nossa afirmação de fé não é cega, antes é uma afirmação de conclu­sões extraídas de teorias complexas, que em nossos livros foram cabalmente demonstradas, e que nesta exposição simples não podem ser repetidas. Para quem quiser aprofundar seu conhecimento, poderá naquelas teorias encontrar as razões últimas destas nossas afirmações, desde as primeiras causas até suas derradeiras e resolutivas conseqüências. Mas, atrás destas está também o apoio duma vida inteira de controle experimental dessas teorias, em contato direto com a realidade dos fatos.

Isso nos oferece a seguinte vantagem, tratando-se dos problemas da vida e do espírito: podemos pi­sar no terreno firme dos fatos e permanecer apegados à realidade da vida prática, tendo como objetivo a nossa utilidade. De tudo o que falamos, podemos dar uma explicação objetiva sem derivar para abstra­ções filosóficas. Nossas teorias estão baseadas na razão, na observação dos fatos, na ciência positiva. O que vamos explicando não foi aprendido só nos livros, não é repetição do que se costuma dizer neste terreno, mas representa material inédito porque foi sobretudo vivido, experimentado e controlado na lu­ta e no sofrimento. Não estamos repetindo lições aprendidas de cor, mas oferecendo as conclusões duma vida de pensamento, dedicada ao esforço de compreender, e duma vida de amarguras, por não ter querido aceitar os caminhos vulgares do mun­do. Foi principalmente por intermédio da própria ex­periência, e não por intermédio da experiência dos outros, que quis enfrentar e resolver o problema do conhecimento que tanto atormentou o homem em to­dos os tempos. E assim chegamos a perspectivas di­ferentes das comuns, que, por serem originais, podem parecer erradas, se medidas com o metro formal das verdades tradicionais.

Com esse método, porém, atinge-se a grande van­tagem de quem fala sem repetir coisas aprendidas dos outros, estando por isso bem convencido do que diz e o estar convencido é a maneira melhor para con­vencer os outros. O que mais fortifica a transmissão de idéias e determina a persuasão não é o método de convencer á força, tratando de impor as próprias idéias, pois isso desperta o instinto de defesa, mas é o falar simples e sincero de quem está convencido da verdade que representa. A vida exige o fruto que brote de sua própria origem. Para chegar a transmi­tir a chama da própria convicção, é necessário possuir essa chama; de outra maneira, não se poderá transmitir senão o gelo da própria indiferença. O que tem poder não são as palavras que vão da boca para o ouvido, mas a vibração ardorosa do coração e da men­te, que se dirige ao coração e à mente do próximo. A verdadeira conversa não é a das palavras, mas faz-se interiormente, por sua força, de alma para alma. A arte oratória é outra coisa: é fruto artificial, fingido, que pode ser agradável para observar mas que não serve para digerir, porque não contém alimento. Ao contrá­rio, a verdadeira convicção abala as mentes e sabe dar-nos palavras que nos ajudam a chegar a esse re­sultado, palavras substanciais e poderosas que são as únicas a possuírem esta força.

Quando eu era moço, o maior choque que recebi, ao primeiro despertar da mente nesta nossa Terra, foi o aperceber-me da presença da mentira. Na pesqui­sa a que me dediquei, para saber em que espécie de mundo me encontrava, essa foi uma descoberta bem dura, tanto mais porque estava eu com sede desespe­rada de alguma coisa de justo, de sinceramente ho­nesto e verdadeiro. E tudo se apresentava de tal ma­neira, como correspondendo a aparência de verdadei­ro, que antes de fazer a triste descoberta eu acredita­va que tudo era genuíno, sem de nada suspeitar. E o pior ainda é que muito se ufanavam de, por esse meio, ou seja, com o engano, vencer o próximo. Então me perguntei em que mundo infernal tinha nascido, um mundo em que dominava a ausência de Deus e a presença das forças do mal. Esta foi a verdade que saltou à minha vista, logo que comecei a olhar atrás dos bastidores das aparências. Tudo isto me poderia ter passado despercebido. Mas, infelizmente tinha o instinto de querer olhar as coisas também por dentro, para conhecer o segredo de sua estrutura e de seu funcionamento, desde os brinquedos de menino até à grande máquina do universo.

Fiquei desiludido, mas isso não perturbou minhas pesquisas. Como quem procura um tesouro escondido sem o qual não pode viver, em vez de cair no desanimo e no pessimismo, continuei escavando ainda mais fundo, para descobrir qual era ultima verda­de e o que havia de real atrás dessas enganadoras aparências do mundo. A pesquisa foi longa e dura, porque escarnecida como coisa inútil por uma maio­ria que buscava objetivos diferentes. Pesquisa con­denada, porquanto procurar, atrás das verdades fic­tícias, a altíssima verdade incomodava a todos, por descobrir muitos jogos de interesses que eles deseja­vam conservar escondidos. Encontrei-me, então, so­zinho, desprezado por não realizar a coisa mais im­portante segundo a opinião geral: fazer negócios e amontoar dinheiro; e culpado pela busca da verdade e por trazê-la à tona. Mas, um instinto indomável me dizia que, com toda a certeza, tinha de existir em algum ponto, para além deste nosso mundo, um ou­tro melhor, onde reinasse justiça em vez de força, sin­ceridade em vez de engano, inteligência em vez de ignorância, verdade em vez de mentira, bondade em vez de maldade, felicidade em vez de sofrimento. E, uma vez que eu tivesse descoberto esse outro mundo, o que mais almejaria era encontrar o caminho para chegar até ele.

Considerava-me como se estivesse encerrado nu­ma prisão escura, sem portas nem janelas. Mas, percebia, por intuição, que além das paredes duras ha­via o ar livre, e a beleza do céu na luz do Sol. Para chegar até lá escavei, sozinho, nas trevas, com as unhas a sangrarem, atormentado pelos sofrimentos da reclusão; escavei as pedras duras da parede es­pessa, desalentado, às vezes esgotado. As pedras iam caindo, uma após outra, até que... um belo dia, um raio de luz apareceu1 anunciando-me que tinha encontrado o caminho para a libertação. Até agora foram afastadas dezessete pedras. Para que nada se perdesse da experiência do meu trabalho, nem para mim nem para os outros, para que nada se perdesse da visão sempre mais ampla e bela que aparecia, lá fora, eu gravava tudo na minha mente e o descrevia em livros. Dezessete pedras significam dezessete li­vros Outra pedra agora está caindo e estou escre­vendo o décimo-oitavo livro. Aparecem, assim, ho­rizontes sempre mais vastos, planícies e montanhas, cidades e rios, o mar e o céu, e a luz do Sol que tudo ilumina, dissipando as trevas da prisão e aquecendo também os duros corações dos prisioneiros. A estes ofereço o fruto deste trabalho, para que também che­guem a compreender o caminho da libertação.

Cada um, ao nascer, traz consigo certos instintos construídos por ele mesmo em existências passadas. E sente-se impulsionado a segui-los, sejam bons ou maus, encontrando-se acorrentado a eles pela mes­ma força irresistível é fatal que liga o efeito à causa. Ora, o instinto que me guiava, antes que eu pudesse compreender tudo, observando e raciocinando, exigia que a minha vida não fosse um inútil desperdício de forças em busca de miragens, como depois vi que muitas vezes acontece na Terra, mas, sim, uma cons­trução sólida, fundamentada não nas areias movedi­ças por valores fictícios e caducos do mundo, mas no terreno seguro e inabalável dos valores eternos. Talvez por ter experimentado bastante e por ter apren­dido a lição, não me pertencia mais a prova de cair vítima das mais comuns ilusões humanas, tais como a riqueza, o poder, a glória, as satisfações materiais etc. Tão-só pelo olfato sensibilizado, percebia logo serem elas apenas engodos. Precisava, assim, fazer da vida um uso diferente do comum, uma verdadei­ra obra de construção e não uma escola de ilusões, que não mais podiam enganar-me. Para construir era necessário um terreno firme, onde pudesse fixar os alicerces. Percebia, por intuição, que esse terreno tinha de existir, mas na Terra era difícil encontrá­-lo. Alguns raios de luz apareciam aqui ou acolá, nas religiões, nas filosofias, na ciência, mas fracos, desconexos, torcidos, disfarçados, sepultados no fun­do das formas. Era necessário iniciar tudo novamen­te. E assim foi feito. Trabalho duro, cujo fruto é o que neste e nos outros livros oferecemos àqueles que desejarem orientar-se de maneira a fazerem das suas vi­das a mesma obra de construção sólida a que nos re­ferimos.

Para dar uma orientação à minha conduta na vi­da, era preciso conhecer antes de tudo o lugar aonde eu acabava de chegar. Por que tinha nascido e por que tinha de viver esta vida presente? Para onde este caminho se dirigia, ou tinha eu de dirigi-lo? Mas, para resolver o meu caso particular, tinha também de encontrar resposta às mesmas perguntas para o caso geral. Perguntava aqui e ali, mas não obtinha res­posta satisfatória. Parecia que meus semelhantes, ou não soubessem essas coisas de modo a responder duma maneira exata, ou não tivessem muito interes­se em conhecê-las. Talvez preocupados com alguma coisa mais importante ou desesperançados por não ter encontrado respostas adequadas às suas indagações. O que mais os atraíam e prendiam eram as ilu­sões do mundo, nas quais mais acreditavam, embo­ra todos vissem, a todo momento, que elas acabam sepultadas, com o nosso corpo, no túmulo. Foi assim que, para satisfazer meu desejo ardente de orientar sabiamente minha vida, comecei sozinho o trabalho da pesquisa com todos os meios ao meu alcance, tan­tos os da cultura como os da intuição, da observação e do sofrimento, olhando e controlando, por dentro e por fora, tudo o que acontecia comigo e, na medida do possível, com os outros. Juntando os extratos de conhecimento adquiridos na Terra, completando com o raciocínio e a intuição, foi possível fundir tantos ele­mentos separados num sistema unitário e orgânico, e obter a visão global do universo. Assim, cheguei a encontrar-me hoje na posição de quem, não somente pode viver completamente orientado a respeito da sua própria vida, mas também de quem pode ofere­cer, a quem precisar como eu precisei, de respostas as perguntas fundamentais que dizem respeito à nos­sa existência. Eu precisava absolutamente destas respostas, porque não conseguia compreender como fosse possível percorrer um caminho - o caminho da vida - sem conhecê-lo. É lógico que, viver correndo ao acaso, como cego, atrás de tentativas, para cair finalmente em desilusões, não representa um traba­lho construtivo, mas um louco desperdício de forças, das nossas forças.

Assim cheguei à maior conquista da minha vida, que é a de ter descoberto a presença sensível da Lei de Deus. Que existe Deus, Sua Presença e sua Lei, todos sabem e dizem. Mas, outra coisa é perceber Essa Presença vendo como ela está operando tanto nos grandes acontecimentos da História, como nos pequenos de cada ser. Outra coisa é notar que, a todo momento, a Lei de Deus está funcionando ao redor e dentro de nós, e que, apesar da nossa von­tade de nos subtrairmos a ela e do nosso desejo de revolta, ninguém pode fugir dela e todos têm que fi­car a ela sujeitos.

Foi assim que chegou a grande satisfação: a de constatar que quem manda é Deus e a vida não está dirigida pela prepotência do homem, mas pela sabe­doria, bondade e justiça divinas. Então, quando o patrão maior, que está acima de todos, é Deus, que temos a temer? Vi, então, que bastava isso para transformar num otimismo salvador o desespero dos sofredores, a tristeza dos desamparados, o natural pes­simismo dos honestos condenados a viver neste nosso mundo. Então, é possível aceitar a dura prova duma vida na Terra, pela ajuda que nos dá uma grande esperança. Assim sendo, a vida pode tornar-se uma festa também para os sofredores e os deserdados. Possuímos, desse modo o tesouro duma alegria con­fortadora para nós e para os outros. Quem faz isto ajuda a bondade de Deus a descer e manifestar-se na Terra, tornando-se operário d'Ele e, semeando fe­licidade para os outros, a semeia para si mesmo. Mas, poder-se-ia objetar: tudo isso já sabemos e cons­titui a pregação de todas as religiões. É verdade, esta esperança já existe, mas como coisa longínqua, nebulosa, só apoiada na fé, duvidosa, porque pode­rá realizar-se apenas numa outra vida desconhecida que, para nós, vivos, se perde no mistério da morte. A novidade consiste em apresentar esta esperança como realidade positiva, verdadeira, porque não so­mente demonstrada com as provas da razão e da ci­ência, mas também submetida a um processo regu­lar de experimentação, confirmada pela nossa pró­pria vida, que nos mostra como são verdadeiros os prin­cípios em que se baseia aquela esperança. Nosso problema agora é só este: o de deixar os outros tocarem com as mãos esta outra realidade, como nós a tocamos, para que assim possam tirar desse conhe­cimento, a certeza, o otimismo e a força que ele nos deu. Esta é ainda a razão dos livros que escrevemos...
         Autor: Pietro Ubaldi livro a Lei de Deus
Repassando

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